Lições da ação direta indígena e popular no Pará

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº12, Fevereiro/Março/Abril de 2025.

Antonio Galego

Diz um velho ditado: “a palavra convence, mas o exemplo arrasta”. Essa ideia, profundamente verdadeira, encontra correlação com outra ideia revolucionária de “propaganda pela ação”, ou seja, a ação concreta, a atividade de resistência, é a maior escola política das massas, não só para os diretamente envolvidos mas indiretamente para todos os explorados.

No dia 14/01 um protesto de indígenas contra retrocessos no âmbito educacional de suas comunidades culminou com a ocupação da Secretaria de Educação do Pará (SEDUC). As exigências eram claras: revogação da Lei 10.820 e a saída do secretário Rosseli Soares. A ação direta do indígenas foi se fortalecendo e expandindo com a chegada progressiva de mais povos, com outras ocupações e trancamento de estradas no interior. No dia 23/01 os professores iniciaram uma greve, se unindo ao movimento. O exemplo do Pará gerou protestos e denúncias em outros estados (Piauí e Goiás) por políticas similares contra comunidades indígenas, camponesas e quilombolas.

O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), integrante da “frente ampla” e aliado do Governo Lula, contou para a sua recente reeleição com uma ampla coligação com PT, PCdoB, PSDB, Cidadania, PV, PP, PSD, PDT, Republicanos, Avante, Podemos, União Brasil, DC, PTB e PSB. A política cretina do governo do Pará, assim como o oportunismo do Governo Lula através da “mediação” da ministra Sónia Gajajara (PSOL) foram fortemente rejeitados pelo movimento, que seguiu em luta apesar de todas as pressões. A população consciente apoiou a luta, e no Brasil inteiro os sinceros militantes torciam pela vitória popular, que se consolidou no dia 12/02 com a revogação da Lei.

Frente a toda sujeira e baixo nível das burocracias governistas nos movimentos e no governo, as massas indígenas e trabalhadoras do Pará mostraram o caminho para a vitória e para a verdadeira esperança: 1) métodos de ação direta: ocupações, trancamentos de estradas, manifestações e greves; 2) Instransigência e independência de classe: não se dobraram para conchavo com o governo estadual ou federal; 3) Unidade e poder das bases: resistindo a várias tentativas de traição e desmobilização de burocracias oportunistas.

Além de tudo isso expuseram o caráter burguês e divisionista da política Lulista. Como o Grupo Libertação Popular afirmou no Comunicado nº1: “O princípio da unidade na luta será rompido sistematicamente pelos governistas, sob as mais diversas desculpas e mentiras”, e que a tarefa hoje é antes de tudo “impulsionar as lutas pelas reivindicações materiais das massas, é transformar a defensiva passiva em defensiva ativa. Essa tarefa, por outro lado, só avançará no curto e médio prazo a partir de uma política anti-governista”. ■

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