A Conjuração Negra em Pilar de Goiás

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº12, Fevereiro/Março/Abril de 2025.

Jiren D.

A história oficial frequentemente silencia sobre as fugas de escravos e a existência de quilombos bem-sucedidos na capitania de Goiás. Contudo, alguns episódios emergem dessa omissão, como o Quilombo de Papuã, localizado em Pilar de Goiás, cujo nome faz referência ao capim marmelada, planta abundante na região.

A cidade de Pilar de Goiás, durante o século XVIII, possuía uma população majoritariamente negra, com os brancos representando apenas 2,2% da população. Esse cenário demográfico, aliado à localização geográfica distante de reforços militares, fez da cidade um território especialmente vulnerável para os colonizadores e terreno fértil para a resistência escrava. Pilar de Goiás era cercada por quilombos que desafiavam constantemente a autoridade do regime escravista. Entre os muitos relatos de resistência, está o ataque de quilombolas a uma lavra em 1751, que resultou na morte de um senhor e seus dois escravos aliados, com mutilações nos corpos como forma de intimidação psicológica.

A Conjuração e as formas de Resistência e o desfecho

Em 1755, escravos e quilombolas articularam uma conspiração ousada que planejava atacar os brancos do arraial durante a festa do Divino, com redes de apoio que forneciam armas e pólvora. Esse episódio, conhecido como a Conjuração Negra, é uma das demonstrações mais claras do espírito de luta e da coragem coletiva que permeavam a resistência dos escravizados.

A Conjuração Negra em Pilar de Goiás foi um marco na história da resistência escrava em Goiás. Planejada com ousadia e aproveitando-se de uma ocasião festiva, a revolta buscava exterminar os opressores brancos de todo o arraial. O ódio manifestado pelos escravizados não era gratuito: ele se alimentava das torturas, castigos e humilhações diárias, além das penas de morte impostas pelo sistema escravista. A conspiração foi frustrada pelas autoridades coloniais, mas sua existência ecoou como um grito de liberdade e exemplo para outras resistências negras em Goiás e no Brasil Central.

Após a repressão à Conjuração, a retaliação foi brutal. Os negros capturados eram açoitados, marcados com ferro em brasa e encarcerados em condições desumanas. A violência, no entanto, nunca foi suficiente para sufocar o desejo de liberdade. Muitos quilombos continuaram a resistência com organização e luta. Em Pilar, os quilombolas continuaram a enfrentar o sistema com assaltos armados, derrubada de mastros simbólicos, assassinato de senhores e outras ações que abalavam o domínio colonial e ampliavam o medo dos senhores de escravos na região.

Essa resistência, forjada na luta pela sobrevivência, também evidenciava a união entre os quilombolas e os escravos urbanos e rurais, que agiam em conjunto para atacar simbolismos e estruturas do sistema escravista. O uso de estratégias audaciosas, como a obtenção de pólvora e armas, mostra a capacidade de organização e o espírito de revolta que moviam essas comunidades.

Legado e Reflexões Atuais da luta dos Negros

O espírito de luta dos quilombolas de Pilar de Goiás permanece como uma inspiração para a resistência dos negros que combatem o racismo e a exploração no Brasil contemporâneo. O capitalismo, hoje, assim como o escravismo, utiliza o racismo como ferramenta de divisão e superexploração dos trabalhadores negros.

Os quilombos foram exemplos históricos de resistência coletiva, insurgência e ação direta contra a exploração. Hoje, movimentos de trabalhadores marginalizados são majoritariamente negros, como catadores de materiais recicláveis, garis, sem-terra, sem-teto, moradores de ruas, trabalhadores do campo e terceirizados, além de moradores de favelas. Muitos desses trabalhadores resgatam o mesmo espírito combativo, enfrentando a opressão com greves combativas, como a dos garis no Rio de Janeiro, a resistência dos catadores contra o fechamento de lixões e a resistência dos moradores de favelas contra a violência policial.

Para os revolucionários, essa resistência não deve ser isolada apenas aos negros. Ela deve ser assumida por todas as massas populares, em aliança com os revolucionários, com vistas a construir uma aliança multiétnica e insurgente de massas contra o capitalismo. É necessário considerar o protagonismo dos negros nas reivindicações, pois são eles que sofrem na pele essa opressão. No entanto, a luta de um oprimido é a luta de todos os oprimidos. Só com a união de todos os oprimidos contra o racismo e o capitalismo poderemos gerar força e construir uma frente de massas revolucionária, que será o embrião da vitória das massas populares. ■

Viva o exemplo da Conjuração Negra em Pilar de Goiás!

Por uma construção de movimento negro combativo em unidade com as massas populares não negras e os revolucionários!

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