Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº13, Maio/Junho/Julho de 2025.
Aurora.

Anualmente representantes de diversos países se reúnem na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP) para discutir os desafios da questão climática global. Este ano, em novembro, esta ocorrerá no Brasil, em Belém (PA). O que embasa tal encontro é a discussão acerca da emissão de gases de efeito estufa e o enfrentamento às mudanças climáticas.
Entretanto, desde o início de tais encontros traçaram estratégias de enfrentamento que não visam uma redução total da emissão destes gases, nem tampouco uma reflexão sobre a necessária mudança do atual modelo produtivo, mas sim a financeirização da questão ambiental. Isso porque desde a assinatura do Protocolo de Quioto (1997) se colocou a possibilidade de compra de “crédito de carbono” dos países pobres, que via de regra poluem menos, pelos países ricos. Ou seja, não há uma intenção real de redução mas de troca financeira entre países, aliviando a consciência e dando um verniz ambientalista para as superpotências. É o que podemos chamar de “capitalismo verde” ou “imperialismo ambiental”.
Em 2025 a sede desse balcão de negócios será uma das maiores cidades da Amazônia brasileira, Belém (PA). Cidade que apesar da localização, é um grande centro urbano, com altíssimo índices de violência, pobreza e desafios socioambientais. O governo Lula/Alckmin, junto com o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB) enchem a boca se proclamando a favor das questões ambientais, mas como a própria notícia da imprensa institucional assinala, o pano de fundo da conferência é o financiamento internacional para as florestas.
Em meio a esse contexto de charlatanismo e demagogia, os ataques à biodiversidade e aos povos persistem. No início do ano, o governador do Pará, por meio da Lei 10.820/2024 tentou acabar com o ensino presencial nas comunidades indígenas e quilombolas, só não conseguiu ir adiante por conta da combativa resistência dos povos e da greve na educação. Lula (PT) têm pressionado os órgãos ambientais a aprovar a exploração na Bacia do Foz do Rio Amazonas. O aumento da violência no campo atingiu um patamar recorde em 2024, sendo o segundo maior da década. O número de incêndios florestais em 2024 foram os mais altos desde 2010. O STF, na figura de Gilmar Mendes, pressiona pela mineração em terras indígenas. A demarcação de terras indígenas e a reforma agrária seguem paradas. A política do governo federal de apoio incondicional ao agronegócio é a explicação para tais índices catastróficos.
De nada adiante sediar uma COP 30, se o agronegócio e o neoextrativismo continuam sendo o eixo central do desenvolvimentismo brasileiro. A COP, portanto, não representa nenhuma esperança para a questão ambiental, nem social. Lembremos que a solução para a questão ambiental perpassa pela questão agrária, por uma mudança no modelo produtivo. Se não houve, nem há no horizonte, uma mudança na estrutura agrária brasileira, se o desenvolvimentismo e o neoliberalismo continuam a vento e popa, o ambientalismo a ser discutido na COP 30 é apenas um engodo para o imperialismo ambiental florescer e coesionar os povos.
Objetivam inserir os povos da floresta num ambientalismo de resultados, transferindo a eles a missão de proteger a floresta em meio ao avanço da devastação capitalista, e ainda sem nenhuma grande garantia de acesso direto ao fundo internacional para preservação das florestas. Aos povos da floresta, em especial os povos indígenas, foi colocada a missão de protegerem a floresta e por extensão o clima global, em troca de alguns trocados em meio a manutenção do modelo produtivo com apenas mudanças cosméticas. ■