Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº15, Novembro/Dezembro de 2025.
J.C. Ramos.

famosos “black blocs”, durante a revolta popular de junho de 2013 no Brasil.
A condenação de Bolsonaro provocou euforia popular por diversos motivos — desde a sede de vingança pela omissão durante a pandemia, que resultou em milhares de mortes, até por revanchismo político eleitoral. Por outro lado, também revelou certa imaturidade política da esquerda, que tratou o episódio como uma lição moral, relembrando o destino dos condenados comuns do 8 de janeiro como se fosse uma advertência paternal ou maternal: uma demonstração do que acontece a quem “viola as regras”. Contudo, a política é violação das regras e não é um jogo de crianças.
A esquerda enfrenta uma crise geral — entre elas, uma crise de identidade — se encontra desconectada de sua própria história, na qual o sacrifício político sempre esteve presente em sua trajetória. Ignora-se que as derrotas e punições sofridas pela extrema-direita, ainda que possam gerar medo, também podem fortalecer sua disposição para o risco e para a luta pelo poder — ironicamente, o mesmo processo que historicamente amadureceu a esquerda em diferentes países. A repressão e a frustração sofrida diante da capitulação das lideranças tendem a produzir tanto militantes mais cautelosos quanto outros mais combativos; ambos os perfis, contudo, exigem o abandono do amadorismo. Assim, o sacrifício, que sempre foi elemento formador da militância socialista, pode tornar-se um mecanismo de amadurecimento político também para a extrema-direita — um aprendizado histórico do qual a esquerda se distancia à medida que se conforma à ordem vigente.
Nem todos serão Che ou Durruti, mas o risco continua sendo inseparável da militância, e todo militante deve reconhecê-lo como parte iminente da luta e estar preparado para enfrentá-lo. É preciso retomar a compreensão de que não há luta real pelo poder sem a disposição de assumir riscos. A maturidade política e organizativa de uma militância não se forja apenas na vitória, mas sobretudo na forma como responde à derrota e aos desafios que o risco impõe. É necessário construir uma cultura política viva — fundada na responsabilidade, na solidariedade e na consciência coletiva — condição indispensável para reconstruir uma militância capaz de unir preparo subjetivo, estratégia e coragem, recolocando o compromisso revolucionário no centro da ação política.






