Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº15, Novembro/Dezembro de 2025.
J.C. Ramos

Entre 2 de setembro e 25 de outubro de 2025, os Estados Unidos realizaram dez ataques militares em águas do Caribe e do Pacífico, violando o espaço marítimo venezuelano sob o pretexto de combater o narcotráfico. As ofensivas, que deixaram 43 mortos — entre venezuelanos, colombianos e equatorianos —, provocaram forte tensão diplomática regional. Sem apresentar provas que as justificassem, Washington ampliou sua presença militar, em uma política que Caracas denuncia como tentativa de intervenção.
A escalada revela o avanço do imperialismo norte-americano sobre a América do Sul, usando o combate ao narcotráfico como cortina de fumaça para fins de dominação geopolítica. Os EUA ofereceram US$ 50 milhões pela captura de Nicolás Maduro e enviaram oito navios de guerra, um submarino e forças aéreas ao Caribe. Com cerca de 10 mil soldados na região, principalmente em Porto Rico, Trump autorizou a CIA a realizar operações secretas em solo venezuelano e admitiu ações terrestres contra supostos cartéis.
Essa hostilidade, mascarada de guerra às drogas, representa uma ameaça não apenas à Venezuela, mas também a outros países latino-americanos, como Brasil e Colômbia. No caso brasileiro, não por coincidência, ganha força a proposta de classificar facções criminosas como grupos terroristas, abrindo caminho para o intervencionismo ianque.
Por outro lado, essa ofensiva evidencia a crise do imperialismo ianque, que incapaz de tensionar com China e Rússia aponta para alvos mais vulneráveis e esconde sua crise. O mercado de trabalho norte-americano segue estagnado, com baixa mobilidade, concentração setorial e perda de capacidade de geração de empregos, aprofundando a crise econômica e política interna. A economia ainda sofre os efeitos da bolha imobiliária de 2008, da guerra ao terror — que custou cerca de US$ 8 trilhões — e da hegemonia industrial chinesa.
As taxações tarifárias impostas a diversos países, entre eles o Brasil, e as recentes ameaças à Nigéria, expressam tanto uma tentativa de mascarar a crise interna quanto uma ofensiva desesperada de um império em declínio: a besta agonizante em busca de mais recursos. Independentemente das divergências políticas, o princípio internacionalista da autodeterminação dos povos deve ser, em regra, intransigentemente defendido frente a qualquer tentativa de intervenção militar estrangeira.






