Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº2, Junho/Julho/Agosto de 2022.
por Antônio “Galego”.
No dia 2 de outubro ocorrerão as eleições. A pandemia, o aumento da informalidade, a inflação, a violência policial, a diminuição das greves e a desmobilização popular, a guerra na Ucrânia, são fatores que impactam as eleições, e o contrário é verdadeiro, as eleições impactam na luta de classes. Por isso a importância da análise e crítica das eleições.
Uma forte campanha burguesa e reformista tem sido realizada para legitimar o voto, tão desacreditadas pelo povo. Artistas famosos (Anita, Pablo Vitar, etc,), empresas (Burguer King, etc.) e o TSE tem investido pesado contra o “não voto” (nulos, brancos e abstenções), isso num país onde o voto é obrigatório!
O fundo eleitoral desse ano será de 4,9 bilhões. Apenas o União Brasil, onde o pré-candidato à reeleição a governador Ronaldo Caiado (ex-DEM) é presidente em Goiás, receberá mais de R$ 770 milhões. O PT vai abocanhar a segunda maior parte: 484 milhões. Em um período de crise pandêmica, desemprego, teto de gastos, é um escárnio essa campanha bilionária!
Além disso, a recente reforma eleitoral só aumentou o poder dos grandes partidos a serviço da burguesia. A “cláusula de barreira” exige dos partidos uma porcentagem de votos para ter propaganda gratuita na TV, Rádio e receber o fundo partidário. Para alcançar a cláusula de barreira, também foi criada a possibilidade da “federação” de partidos. Já foram aprovadas 3 federações: 1ª) PT, PV e PCdoB; 2ª) PSDB e Cidadania; 3ª) PSOL e Rede. O caso do PSOL é emblemático: partido que nasce de racha à esquerda do PT, mas se mantendo num oportunismo eleitoreiro vai guinando cada vez mais à direita, até ao ponto de se fundir com o partido burguês Rede e sequer apresentar candidatura própria a presidência, aderindo de mala e cuia ao Lulismo. Na prática, a reforma política-eleitoral só reforça os partidos corruptos e burgueses, e leva a uma guinada à direita para os demais conseguirem participarem do circo eleitoral dos ricos.
Pra piorar, no âmbito da disputa presidencial nós temos o fortalecimento da polarização Bolsonarismo X Lulismo. A propaganda de uns sobre “ameaça comunista” e de outros sobre “ameaça fascista” servem ao mesmo interesse: a captação dos sentimentos de parcelas da população para seus objetivos eleitoreiros. Isso porque nenhum dos projetos pretende uma ruptura com a ordem, nem possui condições para tal, muito possivelmente se houvessem ações nesse sentido (à direita ou à esquerda) seriam por fora de tal polarização. Tanto um como outro, assim como toda lógica do sistema eleitoral com sua reforma recente, funcionam para a continuidade das eleições como instrumento de dominação de classe da burguesia sobre as massas.
Assim, apesar da relação com a luta de classes, as eleições possuem limites que impedem mudanças estruturais favoráveis aos trabalhadores. As mudanças, quando ocorrem, são paliativas e só levam a manutenção da exploração e sofrimento do povo. Por isso chamamos isso de “pequena política”. A grande política é definida de fato pela burguesia nacional e internacional. A burguesia, com apoio da direita e da esquerda, dizem ao povo que a única política possível é a política eleitoral. Resumir a ação das massas à pequena política é o resultado de décadas de hegemonia reformista nos movimentos sociais. A revitalização atual do Lulismo é o maior produto dessa degeneração, impedindo alternativas no curto prazo de reorganização da classe.
Para os bakuninistas é necessário construir a grande política revolucionária de massas em oposição à política burguesa-imperial. Isso só será possível com a reorganização da classe trabalhadora. Hoje essa política revolucionária só pode ser aplicada por pequenos núcleos em escala local, em cada greve e movimento reivindicativo, mas deve ser guiada a cada passo pela independência de classe e combatividade. Deve ser uma política que expressa antagonismo no âmbito das relações estruturais de classes. O resultado da política revolucionária não é eleições ou conchavos futuros, é a greve geral e a insurreição, pra destruir o sistema político-econòmico e libertar nosso povo. ■