Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº2, Junho/Julho/Agosto de 2022.
Por Aurora.
A pandemia intensificou o processo de virtualização das relações em uma rapidez jamais esperada. Se até 2019, o alcance dos debates virtuais já era preocupante a substituição do contato humano pelas lives, conversas online e festas virtuais vieram com força nos anos posteriores.
Assistimos as redes sociais se tornarem as responsáveis por grande parte dos assuntos pautados dentro do ambiente familiar e de amigos. A argumentação a um tema polêmico já vem pronta, assim como sua contra-argumentação. Os influencers e outros cretinos assumem o papel de problematizar e pautar a opinião da grande massa “consumidora” de conteúdo.
Se no discurso as redes sociais tinham o potencial de difundir uma maior pluralidade de ideias, na prática tornou os cancelamentos e problematizações como a regra do dia. Um tema precisa rapidamente ser substituído por outro, não há espaço para aprofundamentos e para organização da luta popular, mudam-se os focos da atenção e parar não é possível se você quiser estar em dia. O pior inimigo do escândalo é o escândalo seguinte.
É nesse contexto, no qual estamos em casa em quase todo nosso tempo livre e que somos bombardeados com polêmicas que ver um programa como o Big Brother Brasil se tornou tão atrativo. Ver a vida das pessoas como uma vitrine, onde elas a partir de jogos de intriga, são levadas a mostrar o seu “pior” lado, nos possibilitou ser juízes morais do conforto do nosso lar. Se defendemos o mais “oprimido” em nossas redes sociais, ou se convencemos muitos a votarem contra o participante “opressor” já nos sentimos fazendo nossa parte por um mundo melhor. Novamente a fugacidade é a centralidade. Assim que o programa acaba, a “militância” muda o foco para outro escândalo ou para outra problematização.
Polêmicas, cancelamentos e calúnias geram envolvimento e envolvimento gera like. O mundo online se pauta principalmente por aquilo que nos separa e nele se distorcem conceitos chaves para a luta pela libertação dos trabalhadores. Militância deixou de ser um compromisso com movimento coletivo e pode ser até votar no BBB, revolução pode ser algo meramente individual, socialista ou comunista pode ser qualquer um que se intitular assim (até a bilionária dona da Magazine Luiza). Parece que somos incapazes de construir movimentos coletivos, de conviver com o diferente e assim o individualismo adentra em nossas vidas sem que a gente se dê conta e ainda achamos que estamos mudando o mundo do sofá (claro, desde que postemos no “insta”). ■