Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº3, Setembro/Outubro/Novembro de 2022.
Por Érico e Antônio “Galego”.
O dia 20 de novembro é um dia para rememorar as insurgências, rebeliões, sabotagens, greves e a organização do povo preto, e tem como referência o dia da execução de Zumbi dos Palmares, último líder do Quilombo dos Palmares. Localizado na região da Serra da Barriga, (à época pertencente aos limites da Capitania de Pernambuco, e hoje território de Alagoas) estima-se que esse quilombo possuía cerca de 20 a 30 mil pessoas entre pretos, indígenas, mestiços e mesmo brancos pobres ou perseguidos, e se manteve em resistência durante 100 anos (supõe-se que de 1600 a 1710).
Esse espaço de organização de homens e mulheres livres, quilombolas, abrigava fugitivos e rebeldes que não se sujeitavam ao sistema escravista. Surgiu durante o período colonialista, organizando-se para a resistência e enfrentamento do povo preto africano em contraposição ao sistema escravista imperial e supremacista dos portugueses e de demais países europeus. A forma de organização dos quilombolas contrapunha-se ao sistema de superexploração do trabalho através do trabalho coletivo na produção agrícola e na autodefesa de seus territórios.
Quilombos: A insurgência do Trabalho contra o Estado e os Proprietários
A ascensão de Zumbi no Quilombo dos Palmares é marcada pela vitória deste contra o líder Ganga Zumba. Este último havia aceitado um “acordo de paz” com o governador de Pernambuco por volta de 1678. O acordo prometia a liberdade dos escravos com a condição da submissão do quilombo ao sistema colonial. Zumbi liderou a resistência à linha colaboracionista de Ganga Zumba, se tornando o novo líder insurgente do Quilombo dos Palmares. É com essa coerência e firmeza revolucionária, da luta anticolonial pela liberdade e pela terra, que Zumbi irá entrar pra história como grande herói e mártir de todos os povos trabalhadores e da revolução social no Brasil.
Mas Zumbi, ainda que tenha sido o mais conhecido, não foi o único. Pelo contrário. Aonde o sistema escravista-colonial avançou com seus tentáculos de exploração do trabalho e opressão racista, houve resistência e os quilombos se tornaram a manifestação mais consciente, organizada e bem-sucedida dessa resistência dos Trabalhadores escravizados contra seus inimigos de classe: os senhores proprietários e as autoridades da Coroa Portuguesa. Assim, quando falamos de Quilombo falamos de luta de classes, do Trabalho contra o Estado-Propriedade, com a liderança e predominância de trabalhadores e revolucionários pretos, mas que reuniu atrás de si várias outras frações étnicas de trabalhadores e oprimidos pelo sistema.
A luta dos povos negros e a emancipação da classe trabalhadora
Atualmente, tanto no campo ou na cidade o sistema capitalista se apoia no racismo para oprimir e superexplorar a classe trabalhadora. O racismo possui, além de um sentido econômico, um sentido político de contrainsurgência, impedindo a união dos explorados em movimentos de massas antirracistas e multiétnicos contra o sistema (como foram os quilombos). Uma série de estruturas e ideologias reforçam essa divisão: o corporativismo sindical; o duplo mercado de trabalho, com categorias integradas e estáveis e outras marginais e superexploradas; o eleitoralismo e o elitismo da esquerda; a política identitária que desloca a radicalidade ao discurso/cultura, oscilando de ideias de “guerra racial” às “políticas inclusão”; dentre outros.
Para os revolucionários as reivindicações econômicas e políticas do povo negro devem ser assumidas por toda a classe trabalhadora e suas organizações, com vistas a construir a aliança multiétnica e insurgente de massas contra o capitalismo. Devemos retomar o caráter classista e antissistema dos Quilombos para fortalecer a luta do povo negro contra a exploração do trabalho, contra a concentração de terras e a violência policial. O método central segue sendo o da ação direta: greves, sabotagens, atentados, autodefesa, ocupações de terras e moradias. A auto-organização classista do povo negro deverá romper com a burocratização e o corporativismo sindical que auxilia a perpetuação da divisão racista no mercado de trabalho. A luta dos garis no Rio de Janeiro, dos entregadores de aplicativo, as ocupações de sem-terra e de sem-teto, as greves de terceirizados, a luta nas favelas, são exemplos do grande potencial combativo e estratégico dos trabalhadores negros para a revolução social no Brasil. Ontem e hoje, Zumbi segue iluminando o caminho da luta das massas populares até a vitória final da Liberdade. ■