Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº4, Janeiro/Fevereiro/Março de 2023.
Por Érico.
No dia 2 de dezembro de 1999 o episódio de violência cruel protagonizado pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), a mando do governador, à época, Joaquim Roriz e do Secretário de Segurança Pública Paulo Castelo Branco, marcou para sempre a luta dos trabalhadores no Brasil.
Naquele ano, servidores públicos da Companhia Urbanizadora da Nova Capital – Novacap, entraram em greve reivindicando reajuste salarial. Os trabalhadores fecharam os portões da empresa localizada no Setor de Indústria e Abastecimento, região próxima ao centro de Brasília.
A polícia militar lotada no 4º BPM já estava presente. Junto a eles, o reforço do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) dava o tom de hostilidade do Governo do Distrito Federal às reivindicações e demonstrava o ódio do governo do Estado pelos trabalhadores organizados, e ordenada a liberação para o prédio.
Os trabalhadores resistiam, enquanto os policiais avançavam com gás de pimenta, cacetetes, tiros e um veículo blindado. Foi então que durante o confronto iniciado pelo BOPE, o trabalhador José Ferreira da Silva, jardineiro grevista da Novacap, foi atingido por um tiro de escopeta calibre 12, provocando-lhe perfurações nas pernas, braços e no peito, e o levou ao óbito no local. Outros dois trabalhadores, Jesus Ferreira Machado e Cláudio César Gomes Cabral foram atingidos por tiros de borracha no rosto, causando-lhes ferimentos graves nos olhos, e tornando-os cegos.
Responsabilizada, a PMDF logo deu suas desculpas. O assessor da corporação, Major Daher disse que “os policiais são instruídos apenas a atirarem tiros de borracha contra a população quando não há mais diálogo” e que “só atiram do peito para baixo”. A covardia do major foi além quando afirmou que o trabalhador morto poderia sofrer de problemas cardíacos, e por não aguentar a “emoção” teria falecido. Tanto o Secretário Castelo Branco, quanto o governador Joaquim Roriz não se responsabilizaram pelo ocorrido. A responsabilidade recaiu unicamente sobre o tenente Euzair Teixeira Nunes, que atirou em José.
Diante do tribunal, em 2007, tanto o tenente, quanto o secretário de segurança pública, o governador e a corporação foram absolvidos. No absurdo, sindicalistas e grevistas foram ainda processados por “incitação à desordem pública”, mas foram absolvidos. ■