Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº4, Janeiro/Fevereiro/Março de 2023.
Por Antônio Galego.
A América Latina segue seu curso normal de crises, rebeliões, massacres, ilusões. O Peru é o novo palco de enfrentamentos. O estopim da crise veio com o anúncio em 07 de dezembro, pelo então presidente Pedro Castillo, de dissolução do Congresso e convocação de uma assembleia constituinte. Castillo em seu anúncio disse que respeitaria o mercado e a propriedade privada, uma marca das suas contradições e vacilações.
O ato de desespero, no entanto, é a ponta do iceberg da profunda crise peruana. Somente nos últimos 4 anos pelo menos 5 presidentes foram presos (contando com Castillo), 4 deles por envolvimento com corrupção no caso Odebrecht da Lava Jato. O presidente Alan García se suicidou. Em nenhum deles a acumulação capitalista, assentada na burguesia agrária e extrativista, que gera a miséria e superexploração da massa peruana, foi enfrentada. Com Castillo não foi diferente.
Logo após o anúncio de Castillo, este se viu isolado politicamente, sendo destituído do cargo e preso no mesmo dia. O imperialismo na figura da embaixadora dos EUA se pronunciou prontamente contra Castillo, também as Forças Armadas e a Polícia, bem como políticos e ministros do seu próprio governo, além de líderes “progressistas” como os atuais presidentes do Chile e do Brasil.
A sucessora de Castillo, Dina Boluarte, ao assumir instaurou uma repressão brutal contra os protestos e bloqueios de rua que de imediato se levantaram contra o novo governo burguês e pró-ianque. Até dia 10/01/2023 já eram 39 manifestantes assassinados pela polícia (somente no dia 09 morreram 17 pessoas num mesmo protesto!). Abundam os casos de violação de direitos humanos, torturas, prisões políticas. O silêncio da mídia brasileira é assombroso.
A crise no Peru não é de uma pessoa ou governo, é uma crise do sistema. A aposta pela “Constituinte” foi uma ilusão no Chile, no Peru, e será nos demais. Não há espaço para o mais mínimo “reformismo” nas relações de poder e exploração na América Latina, a não ser como ilusão pra acalmar as massas insatisfeitas. Segue inconclusa em “Nuestra América” a tarefa de constituição de um movimento operário-popular com independência de classe e direção revolucionária, único capaz de alcançar a vitória na luta de libertação social. ■