Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº4, Janeiro/Fevereiro/Março de 2023.
Por Jiren D.
Em outubro e novembro de 2022, ocorreram no Brasil as eleições para presidente, governadores, senadores e deputados estaduais e federais. A eleição presidencial foi a mais polarizada desde a redemocratização, com a vitória da Chapa Lula/Alckmin por 50,90% contra 49,10% da Chapa do Bolsonaro.
Numa perspectiva bakuninista, é importante uma análise classista e crítica que vai além dos números, mas considera os atores sociais envolvidos (partidos políticos, frações da burguesia, dos poderes) e também a conjuntura político-econômica especifica do pleito.
A polarização burguesa fortaleceu tanto o petismo e como o bolsonarismo. Este último, apesar da derrota para presidente, saiu fortalecido no congresso, tendo a maior bancada de 99 deputados e 14 senadores. E o PT se tornou a segunda força na câmara federal, com 68 deputados, já no senado conseguiu 8 senadores. O chamado centrão também saiu fortalecido com cerca de 273 deputados, que serão fator chave para governabilidade do governo petista.
A eleição presidencial de 2022, foi a primeira após a pandemia e consequentemente foi influenciada pela crise econômica e pelo aumento da inflação, que refletiu no aumento do preço dos alimentos e da gasolina. Numa análise, considerando método materialista, estas condições são fatores importantes para entender a queda de popularidade do Bolsonaro entre as massas populares do Brasil, para além de analises moralistas reproduzidas pelo campo da esquerda reformista sobre “fascismo, golpe e ataques a democracia”, que geralmente são superestimadas pelo idealismo das pequenas-burguesia de esquerda.
Os ataques à democracia, as retoricas autoritárias, além das dinâmicas de disputas de poder e dinheiro, fizeram vários setores, tanto de fracções burguesas, como de classes estatistas, se tornarem oposições bem mais impactantes ao Bolsonaro que o próprio petismo, tais como o desgaste que a Globo e o STF causaram ao Governo. Rupturas de setores importantes como bancos e contradições entre setores da burguesia nacional na linha ultra-liberal de Guedes que agradava mais setores rentistas e estrangeiros são outros fatores que merecem analise mais detalhada das disputas burguesas.
Apesar das grandes esforços para voto do STE, de campanha publicitárias de empresas e artistas , a abstenção foi alta, no primeiro turno, 20,95%, e, no segundo turno, 20,58%, somando os votos nulos e brancos, no segundo turno, 37 milhões de brasileiros não escolheram nenhum dos dois, o que dá cerca de 24% do eleitorado brasileiro, o que mostra que mesmo numa eleição muito polarizada e com muita pressão institucional e empresarial ao voto, uma parcela significativa da população repudia a farsa eleitoral, indo na contramão de analises de várias organizações, inclusive “anarquistas e revolucionarias”, que, de forma aberta ou camuflada, reproduziram analises moralistas e alarmistas sobre o perigo “fascista e golpista” e não colocaram devido peso na campanhas de abstenções eleitoral nesse pleito.
Cabe aos revolucionários analisar as nuances desse processo eleitoral, principalmente para entender como pensa o povo, o que querem, considerando seu atual nível de consciência, e fazer as devidas críticas e autocriticas do anarquismo e dos revolucionários do Brasil no atual período de refluxo de lutas e da grande influência burguesa na militância, e se reorganizarem e irem ao povo no longo e árduo trabalho junto às massas através da ação direita, essa única forma de política que pode e deve mudar a vida do povo! ■