Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº7, Outubro/Novembro/Dezembro de 2023.
Antonio Galego
O 5º Congresso Nacional da CSP-Conlutas ocorreu durante os dias 7, 8, 9 e 10 de setembro. Nos dias seguintes (11 e 12) ocorreu o encontro da Rede Internacional de Solidariedade e Luta, formada por cerca de 90 organizações de todo o mundo, entre elas a CSP-Conlutas, a CGT (Espanha) e União Sindical Solidaires (França).
O Congresso se insere numa conjuntura política complicada para os lutadores classistas e revolucionários, marcada especialmente pela adesão de quase todas as burocracias sindicais, estudantis e populares (CUT, CTB, UNE, UBES, MST, MTST, etc.) ao Governo Lula-Alckmin. Além disso, uma parcela importante de correntes e partidos de esquerda ou aderiram ao Lulismo (como o PSOL), ou mantém uma postura dúbia (como PCB, UP, etc.). A CSP-Conlutas é a única central que têm defendido a independência de classe e demonstrado um potencial de apoiar e fazer lutas sem “rabo preso”, pelo menos à princípio.
Esse 5º Congresso foi menor do que os anteriores. Ao todo foram 1.561 participantes, sendo que desses haviam 944 delegados. Essa diminuição está relacionada a retomada da força do Lulismo em meio a polarização política burguesa (bolsonarismo x lulismo), mas também de erros de estratégia e programa do setor majoritário da CSP-Conlutas, o PSTU.
Dois exemplos do fortalecimento do Lulismo foram as desfiliações do Andes e do Sinasefe, que são sindicatos nacionais com uma grande base e estrutura. Nessas entidades as desfiliações foram fruto da aliança do PSOL com PT, PCB, Intersindical e “anarquistas”. Outra ruptura mais antiga foi a do MTST, que cresceu e se consolidou na CSP-Conlutas. Entre outras. O fato é que nem a CSP-Conlutas, nem nenhuma outra organização, conseguiu impedir os efeitos nocivos da renovação do Lulismo no movimento sindical-popular.
Por outro lado, o setor majoritário (PSTU) mantém uma linha estratégica reformista que explica também porque a CSP-Conlutas não conseguiu nos últimos anos dar uma contribuição mais significativa à reorganização do proletariado brasileiro. Dois aspectos dessa estratégia são fundamentais: a centralidade dada à disputa da burocracia sindical e das eleições burguesas.
Não só o PSTU, mas grande parte da esquerda, acredita que a solução do problema da “desmobilização” do povo se dará principalmente com disputas no interior do sindicalismo oficial. A maioria dos debates do 5º Congresso giraram em torno desse âmbito (fato criticado inclusive na plenária setorial de movimentos populares). Esse é o principal limite da CSP-Conlutas. A estratégia reformista do PSTU/PSOL sacrifica o potencial de crescimento do antigovernismo nos setores desorganizados/marginalizados de trabalhadores, centrando a sua energia em chamados de unidade à burocracia sindical da CUT, CTB, PT, PCdoB, etc. e à participação nos fóruns oficiais do movimento sindical.
O Brasil está com a menor taxa de sindicalização da história, apenas 9,2% dos trabalhadores são filiados a algum sindicato. Esses números expõem a realidade da massa trabalhadora submetida à superexploração, sem liberdade de associação e expressão, desconfiada de um modelo sindical corrupto e eleitoreiro. Essa camada de proletários marginais é a mais numerosa, mais explorada e menos influenciada pela política burguesa (de direita ou de esquerda). Ela é estratégica para a retomada das lutas reivindicativas que estão sendo boicotada pelas burocracias governistas. Aliás, os números indicam também que essas burocracias só parecem “grandes” ou “fortes” porque essa massa está desorganizada, mas todos os partidos e sindicatos governistas são uma minoria irrisória da classe trabalhadora.
Assim, a radicalização política de setores da aristocracia-burocracia sindical e da pequena burguesia de esquerda (como as greves do funcionalismo público e as lutas universitárias) são importantes, mas insuficientes para impulsionar uma reorganização profunda das massas. Elas apenas remexem as águas superficiais do oceano popular. O fator central para a reorganização profunda da massas é a “organização dos desorganizados” conjuntamente com o “combate às burocracias”. Essa é uma linha estratégica da grande política popular e revolucionária para o Brasil, linha que deve guiar as disputas dos revolucionários com os reformistas no interior das lutas e movimentos.
Apesar dessas limitações do setor majoritário, a CSP-Conlutas possui hoje um potencial similar ao que teve na sua formação: funcionar como uma frente de luta dos explorados (e impulsionar espaços mais amplos de luta e organização), tanto pela postura radical de independência de classe, quanto pela sua estrutura mais democrática/plural (em relação a outras entidades) e pelo seu caráter sindical e popular (aberto também à organizações informais como oposições, movimentos camponeses, comissões de base, grupos de bairro, etc.). Os setores revolucionários e combativos devem retomar uma intervenção tática na CSP-Conlutas e nos espaços mais amplos de unidade na luta que estão surgindo (encontros e plenárias antigovernistas).
Hoje estamos em um contexto de defensiva do proletariado, e temos a tarefa prioritária de transformá-la em uma defensiva ativa. A retomada de um campo antigovernista classista pode novamente contribuir com essa tarefa, ao mesmo tempo que impedir que as insatisfações populares sejam canalizadas mais uma vez para ilusões eleitoreiras do projeto neoconservador de direita. Para isso, é papel dos revolucionários fazer o combate ao governismo no movimento sindical-popular, apoiar o fortalecimento de um campo classista e antigovernista para impulsionar as lutas reivindicativas do povo, disputar o curso desse movimento para que alcance um grau mais profundo de reorganização das massas trabalhadoras do Brasil. ■