As “feiras anarquistas”, entre o confusionismo e a capitulação

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº7, Outubro/Novembro/Dezembro de 2023.

Antonio Galego

Basta uma passada de olho nas programações e relatos das “feiras anarquistas” no mundo e no Brasil, com raríssimas exceções, para se espantar com o tamanho do estrago causado por anos de revisionismo e crise internacional do proletariado.

Para além das especificidades, da quantidade de pessoas ou “coletivos”, no geral essas feiras têm expressado uma profunda desvinculação do anarquismo das massas populares. Primeiramente isso se expressa pela desorientação causada pelo identitarismo e pelo culturalismo hegemônicos nos temas e abordagens dos debates, onde a “dieta vegana” e a “não-monogamia” ou o uso de “bike” (presente em quase todas as feiras anarquistas ao redor do mundo!) demonstram a escandalosa pobreza política de uma pequena-burguesia “libertária” alheia aos grandes problemas sociais, políticos e econômicos das massas trabalhadoras.

Além disso, essas bolhas ou clubinhos libertários, ensimesmados, não conseguem transformar as feiras anarquistas em um espaço de reflexão e posicionamento sobre a conjuntura. Vivemos um momento político do Brasil onde o Anarquismo poderia ser uma voz importante na Oposição ao governo burguês de Lula-Alckmin e nas disputas dos rumos da Reorganização da classe trabalhadora. A omissão e o silêncio desses temas nas programações não é um mero descuido, é o resultado da capitulação envergonhada ou aberta de setores do anarquismo brasileiro ao Lulismo.

O aspecto da desorientação e do “confusionismo” (pra usar uma expressão clássica de Arshinov) está diretamente relacionado com a capitulação ao reformismo: ambos expressam o abandono das bases teóricas e ideológicas mais elementares do Anarquismo.

O aparente “sucesso” das feiras ressaltado nos relatos e fotos de redes sociais escondem na verdade uma profunda impotência e silêncio frente à questões centrais que ameaçam a própria vida do nosso povo (inclusive a eclosão de uma 3ª Guerra Mundial). Reconstruir hoje o Anarquismo como ferramenta de luta revolucionária das massas trabalhadoras passa pela ruptura definitiva com o revisionismo libertário, mas principalmente pela dedicação de corpo e alma às lutas e necessidades do povo em primeiro lugar. ■

Anarquismo é Luta!
Morte ao revisionismo e ao reformismo libertário!

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