Publicada no Jornal O Amigo do Povo, nº10, Agosto/Setembro/Outubro de 2024.
Érico.
Ao longo da história de luta dos trabalhadores a pauta pela redução da jornada de trabalho se mostrou sempre parte crucial e presente. Recentemente, depois de longos anos sem ser pautada amplamente no Brasil, a redução da jornada de trabalho se mostra como importante frente de luta, em especial para os setores de serviços mais precarizados e explorados.
No Brasil a média horária de trabalho é de 8 horas diárias, e 44 horas semanais. Entretanto é muito comum encontrarmos trabalhadores que extrapolam esse tempo, seja em um único emprego, seja em outros serviços que visam a complementação de renda ou nos serviços domésticos (não remunerados). Soma-se a isso a dinâmica de vida local e regional. Tratando-se dos grandes centros urbanos, onde a maior força de trabalho do país está adensada, somamos ao horário de trabalho o tempo e as dificuldades do acesso aos postos de serviços.
Se tomarmos algumas categorias de trabalhadores, identificamos as piores jornadas de trabalho, as mais exaustivas, com baixa remuneração e péssimas condições de trabalho. Podemos elencar os trabalhadores de centros comerciais como Shoppings, lojas de rede, supermercados, redes de fast-food, recepcionistas e atendentes de balcão, atendentes de telemarketing, enfim, os serviços do chamado setor terciário da economia, o setor do comércio e serviços, nos mostram as principais funções com sobrecarga de horário e baixa remuneração.
Essa relação explicita o termo clássico da mais-valia, a venda da força de trabalho numa longa jornada, produzindo muito além do que sua remuneração fixa, penosamente recebida no fim de cada mês, sugada pelo lucro dos patrões. Assim somos quase que obrigados a ter nossas vidas voltadas a uma só coisa: o emprego; que paga nossas contas e nos permite viver um pouco da ilusão de uma vida digna através do trabalho explorado.
Assim querem os políticos e patrões: que sigamos nossas vidas sem incomodar as engrenagens que fazem a estrutura econômica do nosso país girar – em nosso desfavor – enquanto legislam sobre nossas vidas, enforcando nossos direitos e nos tornando mais domesticados e menos atuantes sobre a realidade de nosso povo. Nossa missão frente a essa pauta deve estar sempre no horizonte da organização política de nossa classe social. É necessário reivindicar a redução de trabalho ao passo que nos fortalecemos organizados em nossos sindicatos combativos, e em nossa comunidade consciente dos nossos deveres para conosco!
E nessa toada de reconhecimento da necessidade de viver e não só trabalhar para pagar nossos boletos, surgiu no Rio de Janeiro o movimento VAT – Vida Além do Trabalho. Inicialmente através das redes sociais, chama os trabalhadores a assinar o abaixo-assinado eletrônico e a se organizar para pôr fim à escala 6×1 (onde se trabalha por seis dias e folga um), muito comum nos setores de serviço e comércio.
O movimento cresceu e hoje reverbera em várias localidades do país. É importante notar que os rumos dessa pauta, que não é nova, entram em disputa, especialmente pela última atualização de um dos líderes do VAT, conhecido por Rick Azevedo, o qual lançou sua pré-candidatura à vereador no Rio de Janeiro. Não acreditamos que este rumo seja o mais correto e benéfico para a pauta, em vez disso, reforçar o movimento nas ruas e locais de trabalho, como estava sendo feito desde o início, é um dos caminhos. Aproximar cada vez mais essa pauta na massa de trabalhadores que pouco contato têm com movimentos sociais é uma ponte importante para fortalecimento dos movimentos de trabalhadores no Brasil. ■