Publicada no Jornal O Amigo do Povo, nº10, Agosto/Setembro/Outubro de 2024.
Grupo Libertação Popular (GLP)
Em maio desse ano foi anunciada a fundação do Grupo Libertação Popular (GLP), através do Comunicado nº1 “Quem somos nós e quem são nossos inimigos? Análise de conjuntura e orientação política e estratégica do Grupo Libertação Popular”. Atividades de lançamento estão programadas para o 2º semestre, em Goiânia, Brasília, Jataí, Uberlândia e Catalão.
O GLP é fruto das autocríticas e aprendizados das últimas décadas de militância em movimentos estudantis, sindicais e populares. A conclusão que chegamos é que as principais organizações de esquerda são incapazes de dar um novo rumo ao movimento de massas, atreladas ao burocratismo, eleitoralismo, liberalismo ou, por outra parte, a um autonomismo infantil. Grandes ou pequenas, não estão à altura dos desafios.
O surgimento do GLP se insere num contexto político nacional desfavorável, de defensiva e refluxo das lutas populares, de crise do proletariado, que exige a preparação de uma nova geração de militantes e organizações de vanguarda que impulsionem e disputem a reorganização dos trabalhadores e as novas lutas que virão.
Nossas concepções e princípios
O GLP é uma tendência classista e combativa, socialista revolucionária, que atua nos movimentos e lutas da classe trabalhadora. É uma organização filha da crise de organização e direção das massas populares no Brasil, que atinge hoje seu nível mais elevado.
Para nós, diante desse cenário, não tem serventia uma nova seita, mais ou menos aferrada a seus próprios dogmas e rituais. É preciso ir ao povo, aprender com o nosso povo, ser povo, para construir no Brasil e no mundo de hoje uma nova prática e estratégia militante. Todas as revoluções são únicas em suas formas e conteúdos, há que se buscar a originalidade da revolução brasileira. Essa originalidade vive no nosso povo.
Nós propomos construir um perfil militante aberto aos grandes debates e experiências históricas das Massas Populares e do Socialismo, mas focado nos problemas da luta de libertação do nosso povo aqui e agora. Devemos partir da realidade para as ideias, e não o contrário.
Entendemos que as tendências revolucionárias (com seus erros e acertos) do anarquismo, do comunismo, do nacionalismo, do sindicalismo, do zapatismo, do apoismo, etc. assim como as experiências dos sovietes, comunas, quilombos, cooperativas, guerrilhas, ocupações, greves e insurreições são exemplos de autênticas obras das massas trabalhadoras e servem de inspiração, aprendizado e guia para a luta pela libertação popular hoje no Brasil.
Os princípios que guiam o GLP, são: 1) Classismo; 2) Ação direta e Combatividade; 3) Autonomia; 4) Unidade tática e política; 5) Antigovernismo; 6) Internacionalismo e Anti-imperialismo.
Combater o Lulismo e o Bolsonarismo, duas faces da política burguesa
O Grupo Libertação Popular entende que o PT já não é mais um partido de caráter reformista com base na organização de massas. É mais um exemplo histórico da passagem do reformismo para a contrarrevolução burguesa. Hoje é um partido de orientação social-liberal e oportunista com bases cada vez mais desorganizadas, aburguesadas e eleitoreiras.
A relação do PT com as massas (através de centrais e movimentos governistas) tem como principal característica impedi-las de desenvolver uma capacidade política independente, subordinando-as aos limites da polarização parlamentar e da agenda econômica das classes dominantes.
O governo de Lula-Alckmin é um resultado disso, dando continuidade à política neoliberal, agroextrativista e militarista dos governos anteriores. A autoproclamada “frente ampla” é uma coalizão burguesa subordinada ao imperialismo, com formas de governabilidade e simbologias “democráticas” e “progressistas”. Não é sequer um governo de “conciliação de classes” ou “em disputa” como alguns afirmam.
Por outro lado, a extrema direita se fortalece e se organiza em todo o Brasil. O Bolsonarismo tenta unificar e ideologizar a direita para se manter a frente da polarização com o Lulismo. Se apresenta como uma alternativa para as classes dominantes, tal como faz o Lulismo. Mas o Bolsonarismo é apenas uma face da extrema direita, o seu enfraquecimento não significará o fim da política reacionária profundamente arraigada nas classes dominantes.
Assim, a polarização Bolsonarismo x Lulismo expressa dois projetos burgueses de gestão do Estado. As massas populares saem perdendo nos dois. Frente a essa polarização, tanto a direita quanto a esquerda devem ser combatidas sem “rabo preso”, com um programa classista e pelos métodos da ação direta, onde e quando se colocarem concretamente contra os trabalhadores e não como massa de manobra eleitoral de um ou de outro lado.
Ir ao povo! As tarefas da reorganização e independência da classe trabalhadora
São décadas de burocratismo e eleitoralismo dos principais partidos e centrais de esquerda, corroendo, reprimindo e desacreditando os esforços mais autênticos de construção da revolução brasileira.
A relativa apatia das massas hoje é um resultado da sua desconfiança e desorganização classista, mas não da diminuição do seu instinto de revolta. Por outro lado, as contradições do capitalismo brasileiro se acumulam. Novas batalhas se aproximam, se acumulando debaixo da aparente calmaria.
Mas o velho resiste em morrer e o novo não consegue nascer. É nesse contexto de crise profunda que surge como necessidade histórica a reorganização das massas populares e das forças revolucionárias. Essa reorganização está em curso, ora lentamente, ora acelerada. Os revolucionários precisam disputar esse processo com um programa e métodos próprios.
Algumas concepções e análises estratégicas que guiam o GLP para as tarefas do próximo período, são:
1) Situação estratégia de defensiva: As tarefas de luta das massas devem ser definidas em função da sua situação estratégica. No período 2018-2024, de refluxo das lutas e fortalecimento da polarização eleitoral, a ofensiva estratégica pertence à burguesia, e a defensiva estratégica ao proletariado. Mas essa defensiva pode ser passiva ou ativa. A defensiva ativa prepara a contraofensiva proletária, já a defensiva passiva apenas retarda a derrota. A principal característica desta situação estratégica é que o objetivo das massas é conservar e ampliar as próprias forças, não destruir as forças do inimigo. Nossa tarefa é lutar por uma defensiva ativa, e não se perder em delírios triunfalistas fora da realidade.
2) Etapa estratégica “Ir ao Povo”: A busca para reconstruir a ligação dos revolucionários com o povo trabalhador é a primeira grande etapa estratégica da luta de libertação. É uma necessidade histórica incontornável. Como disse Marighella: “O segredo da vitória é o povo”.
Os objetivos dessa etapa são: a) reorganizar os revolucionários e seu braço de massas, expandindo e organizando os trabalhadores na cidade e no campo, principalmente os setores estratégicos; b) construir organizações autônomas, comitês e movimentos de luta pela base nos setores estratégicos; c) fazer a luta ideológica no movimento de massas, difundindo a política classista e combativa e combatendo o reformismo e o oportunismo.
Os setores estratégicos da revolução brasileira são: 1) O proletariado marginal, composto por 70 milhões de trabalhadores submetidos a superexploração e a repressão; 2) o proletariado rural e o campesinato, pela natureza estrutural do conflito agrário; 3) as frações proletárias economicamente importantes na acumulação capitalista; 4) os trabalhadores das pequenas e médias cidades, do interior, pela importância do território na luta pelo poder no Brasil.
Por que são estratégicos? Em momentos decisivos da luta de classes, seja em lutas reivindicativas, ou em contextos insurrecionais ou pós-revolucionário, a influência neles serão determinantes para os rumos, avanços ou recuos, da luta de libertação do nosso povo.
3) Combate ao governismo e às burocracias: Temos uma tarefa essencialmente destrutiva: a destruição ou enfraquecimento das burocracias sindicais e partidárias vinculadas ao Lulismo e ao Bolsonarismo. Não pode haver ilusão. O desenvolvimento da luta popular, no sentido da expansão e radicalização, se chocará com os interesses dessas burocracias. A participação em grupos de oposição nos sindicatos e movimentos dirigidos por governistas e conservadores é fundamental. A nossa política de oposição deve buscar a unidade dos setores anti-governistas e classistas, em várias escalas, união para fazer a luta sem “rabo preso”.
4) Método materialista de mobilização popular: A exclusão das “ideias políticas e religiosas” dos critérios de adesão dos movimentos de massas, e seu centramento na reivindicação concreta (por terra, trabalho, moradia, etc.), é o único meio de aglutinar as maiorias. O ponto de partida exigido na organização das massas é a luta pela melhoria das condições materiais. Esse é o centro do método materialista de mobilização popular. A construção de uma via revolucionária é o final de um processo cumulativo de lutas e experiências concretas, e não uma decisão “formal”. Por isso, a tarefa dos revolucionários não é serem “radicais” deslocados da realidade, mas sim impulsionar as lutas pelas reivindicações materiais das massas, é transformar a defensiva passiva em Resistência Ativa! ■