Publicada no Jornal O Amigo do Povo, nº11, Novembro/Dezembro de 2024.
Aurora.
Os quilombos como resistência a escravidão já, felizmente, fazem parte do imaginário anti-escravista da história brasileira. Zumbi dos Palmares e Dandara são ícones que conhecidos, sendo o dia da consciência negra, criado oficialmente como referência ao dia da morte de Zumbi.
Entretanto, outras experiências da resistência quilombola que existiram e existem em quase a totalidade do território nacional, encontram-se esquecidas na história do país. Na região do Sul, pouco se fala do escravismo, sendo a região relacionada preliminarmente a uma memória republicana, com uma agricultura desenvolvida pelo trabalhador livre (e muitas vezes associada ao imigrante europeu). Como consequência do negligenciamento da discussão sobre a escravidão houve também um apagamento das resistências históricas do povo negro ao regime escravista também existente na região.
Para contribuir com a memória da resistência, gostaríamos de saudar e rememorar o líder quilombola Manoel Padeiro. Ele, que viveu em um quilombo próximo a Pelotas (1834-1835), invadia fazendas da região para libertar companheiros negros da escravidão. Junto com seu grupo, que contava com a guerreira Preta Roza que vestia roupas masculinas e usava dois facões em volta da cintura, fundaram diversos quilombos na região e se tornaram o terror das elites escravistas.
O destino de Manoel Padeiro, após 1835, ainda é nebuloso, há quem diga que se juntou ao exército dos Lanceiro Negros, ou que morreu em algum combate ou que fugiu e desapareceu. Mesmo assim até os dias de hoje a memória de Manoel Padeiro é ressaltada pelos quilombolas da região (atualmente existem 4 reconhecidos pela Fundação Palmares: Algodão, Alto do Caixão, Cerrito Alegre e Vó Elvira), apesar de ter sido negligenciada da história oficial.
A memória da resistência do povo quilombola não deve ser apagada. Viva Manoel Padeiro! Viva Preta Roza! Viva todos os heróis quilombolas brasileiros! ■