Publicada no Jornal O Amigo do Povo, nº11, Novembro/Dezembro de 2024.
Aurora
“Aprender a cair e dar aula de levantar: deu ruim, a gente tenta de novo, de novo e de novo…” esse é o slogan da Betnacional, ecoada pela voz dos ídolos: Ludmila, Seu Jorge, Vini Jr. e Thiaguinho. Evocando a resiliência do povo brasileiro as casas de apostas on-line lucram em cima de suas condições miseráveis. Os famosos são a cereja do bolo, usurpando o orçamento pífio dos trabalhadores, as bets fazem crer que a insegurança financeira, pode ser vencida com a sorte.
Há uma minoria que ganha, mas a realidade é de endividamentos estratosféricos. A destinação de parcos recursos, para essas casas de apostas, só demonstram que há um desespero por parte da classe trabalhadora em sair da carestia. Segundo dados do próprio banco central, só os beneficiários do Bolsa Família gastaram mais de 3 bilhões de reais em apostas on-line.
Os horrores vividos pelos trabalhadores, salários cada vez piores, condições de trabalho insalubres, uma rotina de estresse em busca da sobrevivência básica, são o pano de fundo para o aprofundamento ainda maior desse quadro. Afinal, as bets aparecem como uma alternativa, ilusória é claro, de melhora individual de vida. Para uma grande parcela da classe trabalhadora, já não há mais esperança no mercado de trabalho, ou até mesmo a crença de que se pode haver uma melhora a partir da luta (por conta da degeneração e burocratização do sindicalismo e das esquerdas). O fato é que se tem uma expectativa ébria de que as Bets podem nos salvar da miséria a que estamos submetidos.
Face a essa problemática, o governo aponta causas equivocadas e, consequentemente, soluções ineficazes. Em vez de proibir as Bets, decidiram regulamentá-las, para que o Estado também lucre, através dos impostos, em cima do desespero do povo. Em vez de melhorar as condições de vida, com pacotes de investimento, com empregos de qualidade, cortam gastos e propõe políticas para “curar o vício em Bets”.
Junto com o álcool e a igreja, ascende mais uma alternativa ilusória para a classe trabalhadora, a esperança na sorte. Como nos lembra Bakunin, “o pensamento decorre da vida, e, para modificar o pensamento, é preciso transformar a vida”. Para a verdadeira transformação da vida, infelizmente não há atalhos, o único caminho real é a luta popular e a revolução social. Aí sim, dando ao povo “uma ampla existência humana, ele vos surpreenderá com o profundo racionalismo de suas ideias”. ■