Editorial | Que as lutas populares substituam a farsa das urnas!

Editorial do Jornal O Amigo do Povo, nº3, Setembro/Outubro/Novembro de 2022.

Por Antônio “Galego”.

No dia 24 de junho a PM reprimiu em Mato Grosso do Sul a retomada Guapo’y Mirin Tujuri dos Guarani Kaiowá, deixando dezenas de feridos e mortos. No Rio de Janeiro as chacinas da polícia seguem aterrorizando o povo, em 2021 no Jacarezinho (28 mortes), em maio desse ano na Vila Cruzeiro (25 mortos) e no último 22 de julho no Complexo do Alemão (19 mortos). Em 5 de junho os ativistas Bruno Pereira e Dom Phillips foram assassinados e esquartejados na Amazônia, e, verdade seja dita, resistiram heroicamente de arma em punho. Vivemos uma guerra de classes, é preciso assumir isso. É uma condição para uma prática transformadora num país como o nosso. E essa guerra não é particularidade do governo atual e não terminará em outubro.

Contrastando com essa realidade, temos as movimentações políticas dos partidos para as eleições. Bolsonaro tenta recuperar a popularidade frente a um governo que teve como política desde o início o benefício dos banqueiros e latifundiários, que aumentou a precarização do trabalho, a concentração de terras, a fome, as reformas neoliberais. Por outro lado, o candidato opositor, Lula, deixou muito claro no dia 9 de agosto na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) o caráter burguês e neoliberal de um futuro governo “lulista”, assim como deixou clara a sua avaliação “positiva” da história do PT (conciliação de classes, privatizações, impulso ao agronegócio, etc.).

Nas eleições os candidatos dançam e se exibem para os ricos querendo se mostrar os mais eficientes no desenvolvimento do sistema, ao mesmo tempo precisam mentir aos pobres prometendo melhorias sociais. É a velha “corda bamba” oportunista da democracia burguesa, muito útil para aparentar uma consciência democrática, inclusiva, e fazer o pobre lascado colaborar com sua própria desgraça. No dia seguinte das eleições o trabalhador volta pra sua vida de exploração e de privações e o rico volta a mandar na economia e na política nacional. Continuar a ler

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A luta por moradia no DF e a criminalização do MRP

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº3, Setembro/Outubro/Novembro de 2022.

Por Aurora.

Foto: Resistência das famílias sem-teto do MRP contra reintegração de posse. Setembro de 2015.

Em Brasília uma coisa é fato, o direito à moradia não significa nada frente à especulação imboliária protagonizada pelos empresários, políticos e o próprio Estado (via Terracap). A aprovação do PL 4188/2021 de Bolsonaro que autoriza a penhora do único imóvel de uma família pelos bancos só tende a piorar ainda mais o acesso a moradia na Capital (e claro no resto do país).

O Estado além de acumulador é também um fiel escudeiro da burguesia imobiliária. Não importa se o governo é de esquerda, centro ou direita ele estará lá para impedir ocupações, expulsar a população marginalizada e criminalizar os que luta.

O maior exemplo da injustiça contra os que lutam por moradia no DF é a criminalização do Movimento de Resistência Popular (MRP). Desde que ocuparam o hotel abandonado Torre Palace, em 2015 as lideranças do movimento sofrem com acusações falaciosas que vão desde extorsão das famílias (negada em diversos depoimentos pela próprias famílias) e associação criminosa. Isso tudo iniciado sob a gestão de Rollember (PSB)!

Sabemos que a intensão da justiça e do governo é prender as lideranças e principalmente desmantelar o movimento que era o mais combativo e independente movimento por moradia no DF. Os julgamentos são uma piada, a justiça não conta com provas concretas. Apenas o depoimento de um policial infiltrado coaduna com as acusações perpetradas contra o movimento. Continuar a ler

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Aniversário de 10 anos da Revolução em Rojava

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº3, Setembro/Outubro/Novembro de 2022.

Por Antônio “Galego”.

No dia 19 de julho de 2012 a gloriosa Revolução em Rojava teve início. Rojava é uma região localizada no Norte e Leste da Síria, reivindicada pelos movimentos revolucionários do povo curdo como parte do Curdistão. O Curdistão é um território ancestral dos povos curdos hoje dominado pelos Estados da Turquia, Iraque, Irã e Síria.

Bem antes da estourar a revolução em 2012, os curdos da Síria já desenvolviam uma atuação revolucionária junto as massas populares da região. A ideologia que guia a luta em Rojava é o Confederalismo Democrático, que traz uma solução democrática para a realidade multiétnica e multireligiosa do Oriente Médio, com base na democracia popular, na libertação das mulheres e na ecologia, assim como na negação do Estado e do Capital.

Rojava é ameaçado pelos interesses de diferentes forças políticas e econômicas (regionais e internacionais) que almejam o controle desse território. Logo após a Revolução em Rojava, um grande sacrifício foi realizado para derrotar o Estado Islâmico. Hoje a Turquia ameaça oficialmente uma invasão de grande escala em Rojava, de profundidade de 30 km ao longo de toda fronteira, seguindo a ocupação colonial de cidades importantes como Afrin (2018).
Hoje, a revolução em Rojava tem enfrentado uma guerra de baixa intensidade, com uma variedade de táticas que incluem execuções extrajudiciais, apoio e o uso de grupos proxy, corte do suprimento de água e eletricidade, mudança demográfica e a guerra psicológica. Um exemplo são os 56 ataques com drones por parte da Turquia realizados desde o início de 2022 e que causaram a morte de 27 pessoas e feriram outras 74.

Saudamos e festejamos, desde o Brasil central, o aniversário de 10 anos da revolução social em Rojava! Reforçamos a nossa solidariedade classista e internacionalista à incansável luta do povo curdo, e convocamos os trabalhadores brasileiros a se informarem e se engajarem nas campanhas internacionais de solidariedade a essa importante experiência de construção de uma nova sociedade. ■

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Viva Zumbi dos Palmares! Herói revolucionário das massas populares!

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº3, Setembro/Outubro/Novembro de 2022.

Por Érico e Antônio “Galego”.

O dia 20 de novembro é um dia para rememorar as insurgências, rebeliões, sabotagens, greves e a organização do povo preto, e tem como referência o dia da execução de Zumbi dos Palmares, último líder do Quilombo dos Palmares. Localizado na região da Serra da Barriga, (à época pertencente aos limites da Capitania de Pernambuco, e hoje território de Alagoas) estima-se que esse quilombo possuía cerca de 20 a 30 mil pessoas entre pretos, indígenas, mestiços e mesmo brancos pobres ou perseguidos, e se manteve em resistência durante 100 anos (supõe-se que de 1600 a 1710).

Esse espaço de organização de homens e mulheres livres, quilombolas, abrigava fugitivos e rebeldes que não se sujeitavam ao sistema escravista. Surgiu durante o período colonialista, organizando-se para a resistência e enfrentamento do povo preto africano em contraposição ao sistema escravista imperial e supremacista dos portugueses e de demais países europeus. A forma de organização dos quilombolas contrapunha-se ao sistema de superexploração do trabalho através do trabalho coletivo na produção agrícola e na autodefesa de seus territórios. Continuar a ler

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Massacre de Guapo’y: A resistência ancestral Guarani Kaiowá escancara a farsa eleitoral

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº3, Setembro/Outubro/Novembro de 2022.

Por Anarquistas em Dourados (MS)

Marcha Guarani Kaiowá (28/06). Fotos de Iara Cardoso.

No dia 24 de junho de 2022, após retomada de terra ancestral dos Guarani Kaiowá conhecida como Guapo’y Mirin Tujury, na proximidade da Reserva Indígena de Amambai, Mato Grosso do Sul, a Polícia Militar realiza despejo ilegal contra os indígenas provocando o que ficou conhecido como Massacre de Guapo’y. Na ocasião, o Batalhão de Choque da PM do MS deixa dezenas de feridos/as, inclusive crianças – entre elas, um menino de 12 anos com exposição de suas vísceras após tiro de fuzil de um helicóptero. Além dos feridos, Vitor Fernandes Kaiowá, de 42 anos, foi assassinado brutalmente com dois tiros de fuzil.

O Massacre, aplaudido pelo nazista Antonio Carlos Videira, secretário de segurança pública do MS, foi também consequência da ocupação criminosa das terras indígenas por latifundiários, em específico Waldir Candido Torelli, proprietário da fazenda ocupada – e inúmeras outras terras, que juntas somam mais hectares do que toda a Reserva de Amambai – e ligado a grandes redes de exportação e acumulação capitalista internacionalmente – a empresa Marfrig e exportação de grãos como soja e milho transgênico para países da Europa, Ásia e EUA são exemplos. Poucos dias após o Massacre, Márcio Moreira, guerreiro Kaiowá da mesma retomada foi assassinado em uma emboscada. Continuar a ler

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Em memória de Yuri, amigo e militante anarquista de Jataí (GO)

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº3, Setembro/Outubro/Novembro de 2022.

Por L.H.

Yuri Oliveira foi um jovem jataiense, como muitos da classe trabalhadora, acometido pela depressão, que em novembro de 2019 nos deixou.

Falar sobre alguém que já se foi sempre é difícil, falar sobre um amigo, filho, irmão, estudante, trabalhador e lutador social é uma tarefa ainda mais difícil.

Yuri pode ser descrito como uma pessoa edificante, no sentido de nos construir como pessoas melhores e de construir espaços para uma sociedade melhor. A cada reunião ele se mostrava mais radicalizado, a cada leitura teorica mais afiada, a cada conversa uma amizade mais sólida. Nos locais de luta sempre trazia apontamentos fundamentais; em nossas conversas palavras de conforto e ajuda. Muito generoso, não suportava injustiças, gostava de andar de bicicleta e era o maior fã de Belchior que já conheci. Um jovem, comum, mas único e muito especial para aqueles que o rodeavam. ■

“Eu sou apenas um rapaz latino-americano Sem dinheiro no banco, sem parentes importantes E vindo do interior” Belchior.

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Eleições em Goiás: a hegemonia conservadora e o descontentamento popular

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº3, Setembro/Outubro/Novembro de 2022.

Por Jiren D.

As eleições para o governo de Goiás vão ter 9 candidaturas entre partidos de direita e de esquerda, todos em busca de garantir a exploração através do Estado burguês. As pesquisas apontam reeleição, no primeiro turno, do conservador Ronaldo Caiado (União Brasil), ficando à frente do também direitista, Gustavo Mendanha (Patriota), com 24,9%. O total das intenções de voto nos partidos intitulados de esquerda (PT, PSOL, PCB, e UP) não chegou aos 5%. Outro dado é que mesmo com a polarização ideologica e investimentos publicitários do TSE incentivando o voto, 11% dos eleitores declaram que irão se abster, o que ultrapassa a somatória de outros seis partidos, de direita e esquerda, que estão na corrida eleitoral.

Se as projeções se confirmarem, a vitória do bolsonarista Caiado no primeiro turno, representa a manutenção no poder do representante das oligarquias rurais e lideranças religiosas (principalmente evangélicos) que tem grande força política em Goiás devido ao clientelismo eleitoral, Caiado se mantendo ileso mesmo sofrendo resistência por parte da pequena-burguesia rural bolsonarista insatisfeita com sua posição “recuada” na defesa das aventuras de Bolsonaro. Já Mendanha, candidato também Bolsonarista, tenta sustentar sua candidatura com o apoio de parte do empresariado como a FIEG, principalmente atacando o fechamento de indústrias como a Creme Mel durante o governo Caiado, algumas facções de igrejas evangélicas e prometendo gerar o aumento de empresas de serviços como fez na gestão de Aparecida de Goiânia. Continuar a ler

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Eleições no DF: dos ricos aos inexpressivos

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº3, Setembro/Outubro/Novembro de 2022.

Por Érico.

A fé no voto esse ano vem inflamada com a polarização a nível nacional, na disputa entre Lula e Bolsonaro. Muitos estão votando com fé no menos pior, o voto desesperado, clamando por algum milagre que supostamente as eleições burguesas poderiam operar. No Distrito Federal, o cenário de desesperança é, também, semelhante.

O atual governador do DF tenta a reeleição sustentando a fala sobre as inúmeras obras que ele realiza durante o governo, e crê que melhorará os inúmeros problemas urbanos alargando vias e construindo viadutos. Tão concreto foi o desastre de sua gestão no âmbito da saúde, que durante a pandemia, num primeiro momento se destacou entre os governadores que primeiro “reagiram” à covid-19, e um tempo depois foi símbolo da incompetência em prover testes, leitos nas enfermarias e UTIs para os que sofriam com a pandemia. Além disso, sua gestão foi marcada pelos casos de corrupção (superfaturamento, negociatas e organização criminosa) envolvendo a Secretaria de Saúde no auge da pandemia de Covid-19. Nesse mesmo período, foram registrados ainda o crescimento da população em situação de rua no DF, e o desamparo às famílias pobres que sofrem com o desemprego, e com a desastrosa política de assistência social.

No governo Ibaneis, só quem se deu bem foram os ricos (e na democracia burguesa, é essa lógica sempre)! Enquanto os trabalhadores pobres morriam e sofriam durante a pandemia, o mercado da construção civil crescia e enriquecia os grandes empresários do ramo no DF. Falando nisso, o candidato Paulo Octávio faz parte dessa elite de empresários brasilienses, e já esteve no GDF enquanto ex-governador de Arruda, e por 12 dias foi governador. Ele e Arruda renunciaram após o escandaloso mensalão que desviou cerca de 110 milhões de reais em verbas públicas. Na atual disputa, Paulo Octávio é o candidato mais rico: declarou um patrimônio de 618 milhões de reais. Em seus discursos, o candidato sempre fala em migalhas para o povo.
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A COTA DE GÊNERO NAS ELEIÇÕES: A lei muda a realidade ou a realidade muda a lei?

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº3, Setembro/Outubro/Novembro de 2022.

Por Aurora.

As cotas de gênero, criadas em 1997 para supostamente diminuir as disparidades entre homens e mulheres nos cargos de poder e estimular a participação das mulheres na política, são uma falsa solução. Elas não passam de um arremedo, endossado tanto pela direita quanto pela esquerda institucional, para tentar dar mais um fôlego ao falido sistema eleitoral.

O resultado disso é que, ao invés de efetivamente termos “+ mulheres na política” (1) o que vemos são maracutaias de todo tipo que os partidos (em especial os de direita) fazem para atender à exigência dos 30% de candidaturas femininas. Chovem candidaturas laranjas e, enquanto os partidos fingem incluir as mulheres, o TSE finge que vai punir tal prática (2).

Do outro lado, ao invés da esquerda que se diz socialista (sic!) destinar seus esforços para incentivar o protagonismo das mulheres nas instâncias da classe trabalhadora, valorizar e impulsionar as lutas protagonizadas por mulheres periféricas, com objetivo de fortalecer os movimentos, investem uma enorme energia para torna-las candidatas, para que virem só mais um peça do quebra-cabeça da farsa eleitoral.

Aqueles que vem nas cotas uma solução temos que alertá-los para não serem inocentes. Vencer o sistema capitalista patriarcal não perpassa por legitimar e compor as suas próprias estruturas. Além disso, não sejamos idealistas: não é a lei que muda a realidade, é a realidade (a luta de classes) que pode mudar a lei! ■


(1) Lema da campanha de 2022 da Justiça eleitoral.
(2) O Ministro Alexandre de Moraes após burburinhos sobre candidaturas laranja de mulheres em 2022 ameçou impugnar chapas inteiras, o que sabemos que dificilmente ocorrerá.
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Andando em círculos: os dilemas do imediatismo e o ultra-revolucionarismo na militância revolucionaria

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº3, Setembro/Outubro/Novembro de 2022.

Por Jiren D.

Vivemos tempos de conjuntura difícil para a luta dos trabalhadores, a pandemia piorou as condições econômicas e também a capacidade organizativa dos trabalhadores, junto com aumento da repressão, do estado de exceção, da cooptação dos movimentos socais, nos coloca numa situação delicada para a militância revolucionaria no Brasil.

Além do mais, a militância revolucionaria vive um dilema: existem grupos e organizações que tem atuações mais massificadas que ficam presos no nível de programa mais imediatista e economicista (resolvendo problemas imediatos dos trabalhadores, como salários, direitos básicos e auxílios), mas tem uma dificuldade de avançar num horizonte mais revolucionário o que pode dar margem para militância assistencialista e reformista e, por outro lado, tem grupos com atuações com perfil mais de minoria-ativa, principalmente no movimento estudantil e na educação, que ficam “engessados” num “revolucionarismo auto proclamatório”, porem abstrato e teórico e longe da realidade, se afastando da luta de massa.

Diante desse dilema, cabe aos anarquistas revolucionários refletir e teorizar para dar respostas e corrigir a linha, para ser possível construir uma linha revolucionaria e de massas no Brasil, sem idealismos e sectarismo, levando uma harmonia do programa reivindicativo ao programa revolucionário. Continuar a ler

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