A luta das mulheres e as armadilhas neoliberais

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº4, Janeiro/Fevereiro/Março de 2023.

Por Aurora.

Mais um 8 de março se aproxima, mais um ano que relembramos o dia das mulheres que lutam. A data sempre nos convida a refletir sobre avanços, desafios e conquistas no âmbito da luta das mulheres. Nesse ano, aproveitamos para pensar os desafios que a conjuntura tem nos colocado para avançarmos em nossas pautas.

No que tange as demandas das mulheres atualmente vemos que no Brasil existem dois projetos em disputa: o projeto neoconservador e o projeto identitário “progressista”. Um chamado de direita outro de esquerda. O primeiro deles busca resgatar o papel das mulheres como “progenitora”, ressaltando o papel do homem (pai, patriarca, etc), se posiciona contra o aborto, se arrogando da defesa da família (essencialmente nos moldes tradicionais/burgueses). O segundo, busca soluções para a questão da mulher no âmbito individual, trazendo a liberdade individual e de “escolha” para o centro das pautas. Sendo assim, o segundo projeto vai defender (ou ao menos aceitar) o aborto como um direito de decisão individual das mulheres, vai desconstruir a ideia da família (ora ampliando o conceito, ora negando sua importância).

Ambos os projetos vão se infiltrando a partir de respostas a determinadas conjunturas. Enquanto o projeto neoconservador avança devido a precarização da vida e a consequente desestruturação de famílias (desemprego, alcoolismo, etc), o projeto progressista aparece como uma adaptação as demandas “de baixo”, das legítimas lutas antidiscrimantórias, ao mesmo tempo que orienta formas de “luta” dentro do sistema. Continuar a ler

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Projeto Obras Completas Mikhail Bakunin

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº4, Janeiro/Fevereiro/Março de 2023.

Por Aurora.

Nós do Jornal O Amigo do Povo saudamos o Projeto Obras Completas de Mikhail Bakunin (OCMB). O projeto, impulsionado pela editora O Lampião e que abarca também a editora Terra Sem Amos e pesquisadores de várias regiões do país, tem como objetivo a tradução completa dos escritos de Mikhail Bakunin a partir da catalogação do Instituto de História Social de Amsterdã.

Tal feito é histórico visto que a circulação dos textos de Bakunin na língua portuguesa ainda é escassa e fragmentada. Sabe-se ainda pouco da integralidade do seu pensamento e esta só pode ser alcançada a partir de uma leitura global de sua teoria. Continuar a ler

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Breve análise das eleições: crise social, polarização burguesa e o boicote popular à farsa eleitoral

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº4, Janeiro/Fevereiro/Março de 2023.

Por Jiren D.

Em outubro e novembro de 2022, ocorreram no Brasil as eleições para presidente, governadores, senadores e deputados estaduais e federais. A eleição presidencial foi a mais polarizada desde a redemocratização, com a vitória da Chapa Lula/Alckmin por 50,90% contra 49,10% da Chapa do Bolsonaro.

Numa perspectiva bakuninista, é importante uma análise classista e crítica que vai além dos números, mas considera os atores sociais envolvidos (partidos políticos, frações da burguesia, dos poderes) e também a conjuntura político-econômica especifica do pleito.

A polarização burguesa fortaleceu tanto o petismo e como o bolsonarismo. Este último, apesar da derrota para presidente, saiu fortalecido no congresso, tendo a maior bancada de 99 deputados e 14 senadores. E o PT se tornou a segunda força na câmara federal, com 68 deputados, já no senado conseguiu 8 senadores. O chamado centrão também saiu fortalecido com cerca de 273 deputados, que serão fator chave para governabilidade do governo petista. Continuar a ler

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Viva a greve nacional dos entregadores!

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº4, Janeiro/Fevereiro/Março de 2023.

Por Antônio Galego.

Está sendo convocada para o dia 25 de janeiro, em todo o Brasil, uma nova greve nacional dos entregadores de aplicativos, mais um importante “Breque dos Apps”. A carta divulgada pela Aliança dos Entregadores de Aplicativos, organização formada por lideranças de SP, DF, RS e RJ, apresenta 4 reivindicações: Reajuste na taxa de entrega; fim da entrega dupla e tripla; volta do plano de bike para R$ 9,90; Apólice de seguro. A carta também critica a exploração sofrida pelos trabalhadores e afirma não se sentirem representados pelas centrais sindicais.

Desde a histórica greve nacional de 2020 (foto abaixo), no auge da pandemia, os entregadores emergiram como um setor militante e de vanguarda do proletariado. Naquele momento enfrentaram o autoritarismo das empresas e dos governos, mas também a apatia do “fique em casa” aderido pela esquerda lulista. Agora no governo federal, a mesma esquerda faz uma campanha difamatória contra a greve dia 25, diz que “é o jogo da direita” e outras mentiras. Não podemos dar espaço pra esse tipo de peleguismo! Continuar a ler

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As Classes Sociais em M. Bakunin [Parte 1]

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº4, Janeiro/Fevereiro/Março de 2023.

Por Rafael Saddi.

Este texto tem o objetivo de tratar das classes sociais no pensamento do anarquista russo Mikhail Bakunin. Trata-se de um tema muito amplo e não temos nem o estudo profundo de toda a sua obra nem o espaço necessário para desenvolvê-lo em toda a sua extensão.

Sendo assim, nos deteremos, aqui, tão somente na defesa de uma tese principal: a de que Bakunin, ao analisar a divisão ou antítese social principal em uma sociedade, compreende cada um dos polos opostos (os exploradores, de um lado, e os explorados de outro) não simplesmente como categorias meramente econômicas, isto é, não como uma classe (no sentido marxista do termo), mas como um mundo social próprio, ou seja, como duas vidas opostas, ou dois seres sociais antagônicos, formados, cada qual, por um conjunto de relações sociais múltiplas (tanto econômicas, políticas, quanto culturais).

Para Bakunin, as múltiplas forças sociais que compõem as sociedades podem, em toda a história, e em todos os países, serem divididas em dois polos antagônicos. Entre estes dois polos principais, o alto e o baixo da escala social, existem inúmeras camadas intermediárias. (ver A Ciência e a Questão Vital da Revolução e Federalismo, Socialismo e Antiteologismo).
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Dia do Estudante Combativo

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº4, Janeiro/Fevereiro/Março de 2023.

Por Érico.

O dia 28 de março é celebrado em memória de Edson Luís, estudante secundarista morto pela PMRJ durante a ditadura-militar, no ano de 1968. Filho de família pobre, Edson mudou-se de Belém (PA) para o Rio de Janeiro a fim de cursar o segundo grau, e utilizava o Restaurante Central dos Estudantes, também chamado “Calabouço” para fazer suas refeições. Devido aos ataques a educação, a precarização na estrutura do restaurante e o preço da alimentação, os estudantes participavam de uma manifestação reivindicando melhorias e a diminuição do preço para fazer as refeições no restante, quando a polícia militar invadiu o local a tiros. Edson foi baleado e morreu no local.

Para que o corpo do estudante não fosse ocultado, como fizeram as forças policias durante toda a ditadura militar, os estudantes levaram o corpo de Edson Luis até a Assembleia Legislativa da Guanabara. A morte violenta do estudante pelos agentes policias do Estados inaugurou uma onda de protestos em todo o país. Estudantes e trabalhadores se solidarizaram com a luta que os estudantes cariocas haviam iniciado, e passaram a denunciar e lutar nas ruas contra as privatizações e a precarização do ensino público. Continuar a ler

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Crise política e massacre contra o povo peruano

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº4, Janeiro/Fevereiro/Março de 2023.

Por Antônio Galego.

A América Latina segue seu curso normal de crises, rebeliões, massacres, ilusões. O Peru é o novo palco de enfrentamentos. O estopim da crise veio com o anúncio em 07 de dezembro, pelo então presidente Pedro Castillo, de dissolução do Congresso e convocação de uma assembleia constituinte. Castillo em seu anúncio disse que respeitaria o mercado e a propriedade privada, uma marca das suas contradições e vacilações.

O ato de desespero, no entanto, é a ponta do iceberg da profunda crise peruana. Somente nos últimos 4 anos pelo menos 5 presidentes foram presos (contando com Castillo), 4 deles por envolvimento com corrupção no caso Odebrecht da Lava Jato. O presidente Alan García se suicidou. Em nenhum deles a acumulação capitalista, assentada na burguesia agrária e extrativista, que gera a miséria e superexploração da massa peruana, foi enfrentada. Com Castillo não foi diferente. Continuar a ler

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Há guerra nas quatro partes do Curdistão… e em Paris!

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº4, Janeiro/Fevereiro/Março de 2023.

Por Antônio Galego.

O assassinato político de 3 curdos (Evîn Goyî, Abdurrahman Kızıl e Mîr Perwer) em Paris no dia 23 de dezembro de 2022 gerou protestos massivos e confrontos em várias cidades da França e do mundo. O sangue dos mártires em Paris traz a tona a política expansionista e genocida da Turquia, intensificada durante o ano de 2022, atacando militarmente cidades e guerrilheiros curdos no nordeste da Síria (Rojava), no norte do Iraque (Curdistão do Sul) e na Turquia.

Como explicamos na edição anterior, os trabalhadores curdos desenvolvem a luta armada em territórios estratégicos no Oriente Médio (Turquia, Síria, Iraque e Irã) com o objetivo de construir o socialismo e o confederealismo democrático. O governo turco de Erdoğan é o principal inimigo do movimento de libertação, um governo que comete crimes de guerra e segue impune pelas potências imperialistas e organismos multilaterais.

No dia 20 de novembro de 2022 a Turquia lançou um ataque aéreo em grande escala usando caças e drones nordeste da Síria (Rojava), atacando Kobanî, Dêrik, Dirbesiye, norte de Aleppo e outras áreas na fronteira turco-síria. Segundo o dossiê do Make Rojava Green Again, “os locais atingidos se estendem pelo espaço aéreo controlado tanto pelos EUA como pela Rússia, sugerindo que ambos os países sinalizaram positivamente para os ataques. O bombardeio aéreo tem até agora se concentrado na infraestrutura civil e nas instalações de serviços” [1]. Somente em 2022 a Turquia realizou 89 ataques, nos quais pelo menos 71 pessoas foram mortas e 124 ficaram feridas. [2] Continuar a ler

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Anarquismo e liberdade religiosa

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº4, Janeiro/Fevereiro/Março de 2023.

Por Antônio Galego.

“A abolição radical de toda religião oficial e de toda Igreja privilegiada, ou apenas protegida, remunerada e sustentada pelo Estado. Liberdade absoluta de consciência e propaganda para cada um, com a faculdade ilimitada de erigir tantos templos quantos aprouver a cada um, a seus Deuses, quaisquer que sejam, e pagar e sustentar os sacerdotes de sua religião.” (Bakunin, Catecismo Revolucionário, 1866)

 

Os anarquistas sempre foram associados ao ateísmo, e não deixam de ser, mas pouco foi falado sobre a defesa da liberdade religiosa como elemento central do programa e do método de luta dos anarquistas. Hoje a questão religiosa retorna com toda força no Brasil. Por isso a importância de retomar esse tema e, pra além do debate filosófico (que faremos em outro momento), pensar na questão programática e nas táticas de luta.

1) A destruição do Estado: condição prévia da liberdade religiosa

Ao longo da história centenas de religiões e crenças locais foram perseguidas em nome de um único Deus, em nome da centralização da fé em uma verdade absoluta e oficial. Esse absolutismo religioso sempre se apoiou no centralismo político do Estado. Um e outro se formaram juntos, através das guerras de conquista coloniais e processos de centralização dos Estados Imperiais.

O Cristianismo, Islamismo e Judaísmo foram integrados de diferentes maneiras às estruturas estatais e se expandiram não só pelo convencimento das populações, mas pela negação de outras crenças, pela sua imposição econômica e militar como religião oficial. Cruzadas, Guerras Santas, colonialismo europeu, a criação do Estado de Israel, a contrarrevolução no Irã, são exemplos de como o Estado se associou a religião para a centralização de poderes e riquezas.

Hoje, para as igrejas que almejam crescimento segue naturalizado o uso dos governos e leis em benefício próprio. Os bispos das igrejas evangélicas que se reconciliam com Lula são um exemplo disso, e a “Carta aos Evangélicos” no período eleitoral foi o movimento inverso do presidente buscando o apoio das igrejas para governar e dominar as massas.
Importantes líderes evangélicos no Brasil têm crescido a partir de três pilares: 1) racismo religioso; 2) expansão empresarial; 3) influência política. Eles têm estimulado leis discriminatórias nas escolas, ataques a terreiros e a casas de reza indígenas, evangelização de povos isolados, ataques ao catolicismo popular, ataques aos direitos das mulheres e LGBTs, etc. A força e impunidade desse fundamentalismo cristão não vem da “mão divina”, mas de suas relações com o Estado e a exploração capitalista. Continuar a ler

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O Massacre da NOVACAP

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº4, Janeiro/Fevereiro/Março de 2023.

Por Érico.

No dia 2 de dezembro de 1999 o episódio de violência cruel protagonizado pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), a mando do governador, à época, Joaquim Roriz e do Secretário de Segurança Pública Paulo Castelo Branco, marcou para sempre a luta dos trabalhadores no Brasil.

Naquele ano, servidores públicos da Companhia Urbanizadora da Nova Capital – Novacap, entraram em greve reivindicando reajuste salarial. Os trabalhadores fecharam os portões da empresa localizada no Setor de Indústria e Abastecimento, região próxima ao centro de Brasília. Continuar a ler

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