Foto: Muritão de construção de casas em Fortaleza (CE) no final dos anos 1980. Foto: Yves Cabannes
A crise econômica, os cortes de direitos, a carestia dos alimentos, o aluguel alto, o desemprego e a precariedade de vida causados pelo neoliberalismo jogam diariamente as massas populares no desespero da sobrevivência. Diante dessa miséria cotidiana, o povo, desorganizado e abandonado, tem buscado onde pode alguma forma de resistência e suporte — nas igrejas, nos partidos, nas ONGs, ou mesmo nos aparatos mínimos do Estado. São tentativas de garantir o básico: uma cesta básica, um auxílio emergencial, um psicólogo gratuito, uma creche para deixar o filho, uma passagem, um favor qualquer para não sucumbir.
Nas periferias, o crescimento vertiginoso das igrejas evangélicas se explica muito menos por questões teológicas e muito mais por sua função social direta. É na igreja que se consegue uma indicação de emprego, um pacote de arroz, um ombro amigo. O pastor assume, para muitos, o lugar do psicólogo, do conselheiro, do irmão. Isso não se dá por acaso — preenche um vazio, o vácuo deixado pela ausência de um projeto de organização popular real e cotidiano.
A chantagem tarifária de Trump ao Brasil (e a dezenas de outros países) se vincula a dois fatores da conjuntura nacional: 1º) a prisão de Bolsonaro e o acirramento das disputas no interior do Estado burguês; 2º) o aprofundamento da crise social, da superexploração e da dependência brasileira. Até agora a “guerra comercial” foi favorável a popularidade do governo burguês de Lula-Alckmin. O Lulismo encontrou uma nova bandeira, a defesa da “soberania nacional”, e a chance de vinculá-la contra o Bolsonarismo. A partir dessas ideologias o governo tem agido para representar os interesses da burguesia brasileira (agrária, industrial, mineradora, etc.) frente ao tarifaço e a crise política interna, aumentando a coesão burguesa e a “frente ampla”.
Por outro lado, ao apoiar e ser apoiada abertamente pelo imperialismo dos EUA, a política Bolsonarista expõe o seu caráter entreguista de submissão nacional e renova o enfrentamento contra os poderes da república burguesa, em especial ao Governo e ao STF. Age em nome de seus próprios interesses eleitorais, de frações burguesas e da estratégia da extrema direita latino-americana de submissão total aos EUA frente às disputas com a China. Apesar da prisão de Bolsonaro e da diminuição da capacidade de mobilização do bolsonarismo, tudo indica que seguirá sendo uma força importante na direita, pautando a polarização com o Lulismo.
As rusgas no interior do Estado burguês envolvendo o governo Lula, o tarifaço, a oposição bolsonarista, o STF, etc. são expressões dos interesses de diferentes setores das classes dominantes. Enquanto isso, o trabalhador brasileiro segue comendo o pão que o diabo amassou, sem nenhuma alternativa visível para o aprofundamento da superexploração, a rapina e destruição da natureza (com a expansão da fronteira agrícola e mineral), a precarização das condições de vida (saúde, moradia, transporte, etc.) e a violência contra o povo. Lulismo e Bolsonarismo, EUA e China, disputam o suor, o sangue e as riquezas do povo brasileiro.
Publicado emConjuntura, Debate, GLP, Internacional|Comentários fechados em O imperialismo, a crise brasileira e a farsa do país “democrático e soberano”
A Luta dos Ambulantes em Goiânia: O Trabalho Criminalizado e a Urgência da União Popular
Pró-frente de ambulantes e trabalhadores de comercio de rua de Goiânia
A cidade de Goiânia, como tantas outras do Brasil, reflete as feridas abertas pela engrenagem neoliberal. Empurrados para fora das fábricas e do comércio formal, milhares de trabalhadores e trabalhadoras buscam na rua seu sustento: seja vendendo pão de queijo, roupas ou artesanato. Segundo o IBGE, mais de 40% da força de trabalho brasileira já está na informalidade, fruto direto da precarização promovida pelos governos a serviço do grande capital.
O sistema chama esses trabalhadores de “empreendedores”. Mas que tipo de empreendedorismo é esse que enfrenta todos os dias o desprezo do poder público, a repressão policial e o isolamento social? Em vez de apoio, encontram cassetetes, multas, apreensão de mercadorias e a invisibilidade.
Em Goiânia, a gestão de Sandro Mabel, do União Brasil, empresário da FIEG, expõe com clareza essa política de exclusão. Ambulantes estão sendo expulsos de áreas como a Região da 44 — polo têxtil popular —, do entorno do Zoológico e de praças públicas, onde tentam sobreviver. A ordem é limpar a cidade dos pobres para agradar aos grandes lojistas e empresários.
Artigo de Antônio “Galego” publicado na revista “Rojo y Negro” nº401, junho de 2025, editada pela Confederação Geral do Trabalho (CGT – Espanha), páginas 24 à 26.
Imagem 1 – Movimento Resistência Popular realiza protesto por moradia, 2015.
Completam-se já 10 anos de uma intensa campanha de criminalização e perseguição política do Estado brasileiro contra importantes lideranças da luta pela moradia e pela terra em Brasília, capital federal do Brasil. Estamos falando do líder popular Edson Francisco e outras lideranças, membros e ex-membros do Movimento Resistência Popular (MRP), vítimas de prisões, torturas e processos jurídicos ao longo desses anos.
O capítulo jurídico mais recente ocorreu em agosto de 2024 com a condenação em 2ª instância pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) de 11 militantes e ex-militantes do MRP com as acusações de extorsão de famílias, organização criminosa e outros delitos penais. A situação dos 11 condenados pelo TJDFT é grave, correndo o risco de serem encarcerados a qualquer momento, com penas que chegam a 8 anos de cadeia. No exato momento, início de abril de 2025, a criminalização se intensifica com a expedição dos mandatos de prisão contra os lutadores do povo.
A história que vou denunciar aqui é cruzada profundamente pela formação desigual da capital do Brasil, pelo avanço da política de repressão dos movimentos sindicais e populares e pelos desafios e crises da classe trabalhadora no país.
Panfleto distribuído na assembleia geral das/os professoras/es dia 05/06/2025
Grupo Libertação Popular / Coletivo de Base – SEEDF
As professoras e professores do DF estão iniciando um movimento histórico de resistência, após meses de enrolação do GDF e da própria diretoria do Sinpro (PT e PCdoB), a greve foi aprovada como a um tsunami que já era impossível impedir, um grito de “Já Basta!” após tantos anos de sucateamento da Educação e das condições de trabalho, de arrocho salarial e tantos retrocessos. Agora é hora de massificar e radicalizar nosso movimento, não aceitar qualquer migalha do governo, não cair em manipulações da atual diretoria do Sinpro, levar a greve até a vitória! Mas para isso precisamos basear nosso movimento em três pilares: 1) poder da base; 2) ação direta; 3) ruptura com o corporativismo.
Maioria da base no comando de greve e na comissão de negociação! Democracia real nas assembleias, já!
Falar de “unidade” e “democracia” é fácil, mais difícil é praticá-la, especialmente quando começam a surgir as divergências no movimento. O clima de luta e união dos inícios de greve devem ser estimulados, mas seguimos vigilantes, não temos ilusões: a atual diretoria do Sinpro continua manipulando as assembleias, fazendo negociações às portas fechadas e mantendo seu controle “paternal-autoritário” sobre o Comando de Greve. As propostas da oposição Alternativa para a democrtização das instâncias têm sido sistematicamente ignoradas e silenciadas. Para nós a unidade e mobilização da categoria se forjam com democracia real. A construção de um Poder da Base nas nossas instâncias do movimento é o que garantirá que os rumos tomados refletirão de fato a vontade da categoria e não serão um fruto de manipulações e conchavos da diretoria.
Trabalhador e trabalhadora: ajude a divulgar o socialismo revolucionário compartilhando nossas matérias, adquirindo o jornal ou ainda criando uma célula de apoio do Amigo do Povo na sua cidade.
Publicado emEdições complestas|Comentários fechados em O Amigo do Povo nº13 – Maio/Junho/Julho de 2025
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicaram um aumento do desemprego e da precarização do trabalho no primeiro trimestre de 2025. Ao somar os dados de informalidade (38,9 milhões) com a desocupação (7,7 milhões), pessoas fora da força de trabalho (67 milhões) e subocupação por insuficiência de horas trabalhadas (4,6 milhões), chegamos a um total de 118,2 milhões de brasileiros, ou seja, mais da metade da população do país sobrevivendo diariamente sem uma renda estável e digna, sem perspectivas.
Os trabalhadores do setor privado ou público também tem sobrevivido com cada vez menos direitos (retirados por reformas neoliberais como a trabalhista e previdenciária), trabalhos temporários, terceirizados, jornadas exaustivas e salários baixos. O salário mínimo do Brasil (que teve um pífio aumento para R$ 1.518) está entre os piores da América Latina, atrás de Paraguai, Colômbia, Guatemala, Bolívia, entre outros.
A isso se soma o poder real de compra das pessoas. De nada adianta aumentar uma migalha o salário se a inflação dos alimentos e outros produtos essenciais vem aumentando. Segundo o IBGE, nos últimos 12 meses a inflação acumulou uma alta de 7,42%, com destaque para o ovo de galinha (+19,44%), o tomate (+12,57%), o café moído (+8,53%). A tendência é a continuidade da carestia. As medidas do governo para o controle dos preços não tem surtido efeito, ao contrário, beneficiam as empresas na “falácia” de chegar no consumidor, tal como a isenção de impostos sobre importação de determinados alimentos.
Grupo Libertação Popular (GLP) em acampamento sem terra do MRP. Dezembro de 2024.
O jovem grupo revolucionário Libertação Popular completa um ano de existência em maio de 2025. Para aqueles que estão de fora pode parecer pouco, mas certamente para todos os militantes que assumiram os desafios da nossa opção de luta e se lançaram à ação, em um momento adverso como o atual, foi um ano intenso, ainda mais se somamos os problemas de vida, tempo e condições de trabalho precárias.
Os debates internos e a prática diária do Grupo buscaram refletir os balanços que fizemos em vários âmbitos (político, teórico, estratégico e organizacional) a partir da experiência de luta nos últimos anos. Foi um ano para colocar as fundações, pilares ou vigas da obra. Formar um novo agrupamento para seguir os mesmos erros, arrotar soberba, dogmatismo e impaciência não foi a nossa opção. Ainda há muito o que fazer, na teoria e na prática.
Anualmente representantes de diversos países se reúnem na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP) para discutir os desafios da questão climática global. Este ano, em novembro, esta ocorrerá no Brasil, em Belém (PA). O que embasa tal encontro é a discussão acerca da emissão de gases de efeito estufa e o enfrentamento às mudanças climáticas.
Entretanto, desde o início de tais encontros traçaram estratégias de enfrentamento que não visam uma redução total da emissão destes gases, nem tampouco uma reflexão sobre a necessária mudança do atual modelo produtivo, mas sim a financeirização da questão ambiental. Isso porque desde a assinatura do Protocolo de Quioto (1997) se colocou a possibilidade de compra de “crédito de carbono” dos países pobres, que via de regra poluem menos, pelos países ricos. Ou seja, não há uma intenção real de redução mas de troca financeira entre países, aliviando a consciência e dando um verniz ambientalista para as superpotências. É o que podemos chamar de “capitalismo verde” ou “imperialismo ambiental”.
No apagar das luzes de um feriado, de forma oportunista o Governo burguês do Lula/Alckimin do PT publicou o Decreto nº 12.438 de 17 de abril de 2025, um verdadeiro atentado contra mais de um milhão de catadores e catadoras de materiais recicláveis em todo o país. O decreto, feito nas sombras e sem qualquer consulta às organizações da categoria, revoga na prática os avanços conquistados com a Lei nº 15.088/2025 — uma conquista arrancada com suor e mobilização das massas dos catadores. A nova regulamentação reabre as portas para a importação de resíduos recicláveis, cinicamente chamados de “insumos estratégicos”, entregando de bandeja o mercado nacional às multinacionais da máfia do lixo internacional.
O decreto ignora a dura realidade de quem vive da coleta nas ruas, lixões e cooperativas. Com a entrada de materiais estrangeiros, os preços do reciclável nacional vão despencar, empurrando milhares de famílias para a miséria, fechando cooperativas e destruindo décadas de organização popular. É o decreto da fome, do desemprego e da falência das bases autônomas de reciclagem no Brasil. A realidade é que, enquanto os catadores garantem mais de 90% de tudo que é reciclado no país, são tratados como lixo pelo próprio Estado Burguês.
O Congresso Nacional representante dos interesses do capital faz lobby com as máfias do lixo internacional e promove o desastre social e ambiental que se anuncia. E o governo federal, que vende como verde e inclusivo nas cúpulas internacionais como a COP 30, ataca de forma covarde justamente os sujeitos históricos da reciclagem no país. É mais um ataque do Partido dos Trabalhadores, que governa com banqueiros e empresários, enquanto massacra e mata e humilha as massas populares.
“A sociedade, no grande sentido da palavra, o povo, a vil multidão, a massa dos trabalhadores, não só dá a força e a vida, mas também dá os elementos de todos os pensamentos modernos, e um pensamento que não sai do seu seio e que não é a expressão fiel dos seus instintos populares, é um pensamento que já nasceu morto."