Cárcere e Genocídio: como o Estado de Goiás usa prisões para reprimir e exterminar os pobres

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº12, Fevereiro/Março/Abril de 2025.

Jiren D.

O sistema prisional em Goiás, assim como no restante do Brasil, reflete as desigualdades históricas e estruturais do país e do capitalismo dependente. Marcas do racismo estrutural, do colonialismo e da violência estatal genocida contra negros e pobres se manifestam de forma evidente nas condições degradantes das unidades prisionais no Estado de Goiás. O Estado, ao priorizar o encarceramento em massa como resposta à desigualdade social causada pelo capitalismo, pune o crime dos pobres, já que os crimes dos ricos são protegidos pela justiça burguesa.

Goiás ocupa posição de destaque nas estatísticas de encarceramento no Brasil. De acordo com dados recentes, o estado possui cerca de 26 mil pessoas privadas de liberdade, enquanto sua capacidade oficial é para pouco mais de 13 mil vagas, evidenciando um cenário de superlotação de mais de 100%. A Casa de Prisão Provisória de Aparecida de Goiânia, um dos maiores presídios do estado, tem 906 vagas e hoje abriga cerca de 1.940 pessoas, apresentando uma taxa de 214% de superlotação.

Além disso, cerca de 40% dos detentos em Goiás são presos provisórios, ou seja, ainda aguardam julgamento. Essa realidade reforça a ilegalidade, mesmo dentro dos marcos do sistema judicial burguês, em garantir o respeito às garantias fundamentais, transformando a prisão preventiva em regra e não em exceção para os mais pobres. A maior parte da população prisional é formada por homens jovens, negros e de baixa escolaridade, representando o perfil típico das massas marginalizadas do Brasil, excluídas da chamada democracia brasileira.
Continuar a ler

Publicado em Conjuntura, General, Goiânia, Matérias, Repressão | Comentários fechados em Cárcere e Genocídio: como o Estado de Goiás usa prisões para reprimir e exterminar os pobres

Ocorre no México a 1ª etapa dos Encontros de Resistência e Rebeldia convocados pelo EZLN

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº12, Fevereiro/Março/Abril de 2025.

Antonio Galego

Nos dias 28, 29 e 30 de dezembro de 2024 e 1 e 2 de janeiro de 2025 ocorreu em San Cristobal de las Casas, em Chiapas (México), a primeira etapa dos Encontros Internacionais de Resistência e Rebeldia convocados pelo Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), reunindo centenas de ativistas de organizações políticas, populares, indígenas, culturais, além de 900 zapatistas, autoridades autônomas, promotores de saúde e educação, bases de apoio, milicianos e comandantes.

As mesas do Encontro abrodaram os crimes do sistema capitalista e do imperialismo no mundo e no México, fortes denúncias do caráter anti-povo dos governos do MORENA com López Obrador e de Cláudia Sheinbaum, a história e o início da luta armada zapatista, assim como as transformações internas na estrutura zapatista e o programa do “Comum Zapatista” como aposta para eliminação da propriedade privada nos territórios autônomos.

As atividades se estenderam pela virada do ano até o dia 2 de janeiro com as comemorações dos 31 anos do levante armado zapatista. O EZLN segue vivo, sendo inspiração e exemplo para as lutas anticapitalistas no mundo. Para mais informações e vídeos das mesas: enlacezapatista.ezln.org.mx ■

Publicado em Anarquismo, Debate, Internacional, Matérias | Comentários fechados em Ocorre no México a 1ª etapa dos Encontros de Resistência e Rebeldia convocados pelo EZLN

A agonia do império e a tarefa dos revolucionários

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº12, Fevereiro/Março/Abril de 2025.

Antonio Galego

A posse de Donald Trump para um segundo mandato na presidência dos Estados Unidos tem gerado inúmeras análises e reações em todo o mundo assim como no Brasil. Não é por menos, a mudança de gerência do império estadounidense impactará o mundo inteiro. Nesse pequeno texto iremos pontuar alguns elementos dos motivos e da natureza do novo governo Trump e a tarefa dos revolucionários.

Primeiro é importante limpar o terreno. A esquerda liberal brasileira tem a tendência de ver o mundo pela ótica parlamentar burguesa. Com base em simbolismos e dispositivos de pânico, a política da esquerda pendula entre o deboche (de Bolsonaro não ir pra posse, etc.) e o medo da ameaça “nazista”. É uma resposta desesperada que expõe a impotência de uma esquerda que não tem mais base popular, nem programa e nem estratégia de transformação. Tudo gira em torno de criar “climas” propícios a ganhos eleitorais.

O novo governo Trump é fruto do aprofundamento da crise interna e externa dos EUA. Internamente, há o crescimento da insatisfação dos trabalhadores e pobres, com a alta da inflação, desemprego, desastres naturais, etc. Essas contradições são um barril de pólvora, que levaram recentemente à revoltas e conflitos de grande intensidade. Continuar a ler

Publicado em Conjuntura, Debate, General, Internacional | Comentários fechados em A agonia do império e a tarefa dos revolucionários

Lições da ação direta indígena e popular no Pará

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº12, Fevereiro/Março/Abril de 2025.

Antonio Galego

Diz um velho ditado: “a palavra convence, mas o exemplo arrasta”. Essa ideia, profundamente verdadeira, encontra correlação com outra ideia revolucionária de “propaganda pela ação”, ou seja, a ação concreta, a atividade de resistência, é a maior escola política das massas, não só para os diretamente envolvidos mas indiretamente para todos os explorados.

No dia 14/01 um protesto de indígenas contra retrocessos no âmbito educacional de suas comunidades culminou com a ocupação da Secretaria de Educação do Pará (SEDUC). As exigências eram claras: revogação da Lei 10.820 e a saída do secretário Rosseli Soares. A ação direta do indígenas foi se fortalecendo e expandindo com a chegada progressiva de mais povos, com outras ocupações e trancamento de estradas no interior. No dia 23/01 os professores iniciaram uma greve, se unindo ao movimento. O exemplo do Pará gerou protestos e denúncias em outros estados (Piauí e Goiás) por políticas similares contra comunidades indígenas, camponesas e quilombolas. Continuar a ler

Publicado em Conjuntura, General, Matérias, Questão agrária, Sindical | Comentários fechados em Lições da ação direta indígena e popular no Pará

As drogas na militância: Lições da experiência bakuninista no Brasil

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº12, Fevereiro/Março/Abril de 2025.

J. C. Ramos

Imagem: cartaz da CNT, central anarcossindicalista, durante a Guerra Civil Espanhola (1936-39).

No século XIX, Mikhail Bakunin apontava a revolução social como a única saída real para a miséria, enquanto igrejas e álcool seriam fugas ilusórias. Um século e meio depois, as massas se afastam da revolução e buscam novos escapes nas drogas, apostas e medicações psiquiátricas, entre outras fugas.

Em 2019, o Brasil registrou a abertura de 17 igrejas neopentecostais por dia. Já em 2022, o tráfico de drogas movimentou R$ 146 bilhões (3% do PIB), enquanto o setor de bebidas alcoólicas gerou R$ 120 bilhões. O consumo de antidepressivos e estabilizadores de humor aumentou 36% após a pandemia. Não por acaso, é nos bolsões urbanos da pobreza que a problemática das drogas assume contornos de filme de terror — e é justamente nesses territórios que igrejas e facções do tráfico expandem seu domínio, e onde a presença socialista é quase nula.

No início dos anos 2000, surgiu um movimento no Brasil de resgate do legado anarquista bakuninista da Primeira Associação Internacional dos Trabalhadores, que teve inicio no Rio de Janeiro e se expandiu pelo país. O bakuninismo buscava fortalecer o anarquismo na luta de classes e a auto-organização do proletariado marginal, combatendo a influência liberal e promovendo avanços teóricos. Nesse contexto, a questão das drogas tornou-se parte dos debates e enfrentamentos diários O resgate do anarquismo revolucionário exigiu romper com o ecletismo teórico e a visão contracultural das drogas como transgressão. Ao fomentar ocupações e cooperativas junto ao proletariado marginal, tornou-se inevitável enfrentar os impactos das drogas e da guerra urbana na região metropolitana do Rio. A morte de Porquinho, militante apoiador de uma das ocupações e oriundo da contracultura, executado pelo tráfico foi um evento que impactou a política bakuninista, levando à proibição de drogas ilícitas entre militantes e à orientação do não consumo álcool nos anos 2000. Com a mudança do foco para universidades e funcionalismo público, a restrição foi abandonada, resultando na liberalização do consumo. Continuar a ler

Publicado em Anarquismo, Cultural, Debate, General, Matérias, Teoria e ideologia | Comentários fechados em As drogas na militância: Lições da experiência bakuninista no Brasil

DF | Ciclo de Formação Básica do Militante do Povo

O Grupo Libertação Popular convida para o Ciclo de Formação Básica do Militante do Povo, que acontecerá em Brasília (DF), na sede da CSP-Conlutas, sempre aos sábados, a partir das 9h da manhã nas seguintes datas: 22/02, 15/03 e 29/03. Iniciaremos cada formação com um Café da Manhã para os participantes, apresentação das pautas e organização da atividade.

Abordaremos em nosso encontro os temas: Trabalho de Base, perfil militante e análise de conjuntura. A formação tem o objetivo de auxiliar jovens, adultos, estudantes, trabalhadores e trabalhadoras a refletir sobre mobilização, organização e atuação junto ao povo; e subsidiar cada militante com conteúdo teórico, ideológico e técnico. Em cada encontro aprenderemos sobre os seguintes temas:


22/02, Sábado às 9h –  Trabalho de base: agitação, propaganda e organização.

Essencial para a mobilização popular, nosso objetivo é subsidiar cada militante com conteúdo teórico, ideológico e técnico para o trabalho de base cotidiano, sempre sob a ótica do método materialista dialético. Discutiremos sobre a importância do trabalho de base, suas prerrogativas e a necessidade de articular agitação, propaganda e organização.

 15/03, Sábado às 9h – Perfil do militante do povo e crítica ao ativismo

Entenderemos como identificar e evitar armadilhas comuns que distanciam nossa ação das massas populares. Um exemplo dessas armadilhas é o ativismo desorganizado, que, apesar de suas boas intenções, carece de uma estratégia política de longo prazo. Aprenderemos quais as características do militante do povo e como nos prepararmos para os desafios da atualidade para a luta classista e combativa.

 29/03, Sábado às 9h- Análise de conjuntura

Discutiremos a importância da teoria e de seu embasamento nos processos reais na realidade cotidiana do nosso país em articulação com a prática política e os valores da ideologia para as transformações e ações necessárias no curso da nossa história. Estudaremos o método de análise de conjuntura e como fazê-la, sendo essas, etapas fundamentais para a organização popular e o avanço e efetividade das nossas ações.


Material para leitura prévia

O material essencial para cada encontro está estruturado no Caderno de  Formação Básica do Militante do Povo: Trabalho de base, perfil militante e análise de conjuntura, Volume I,  disponível no link: https://oamigodopovo.noblogs.org/post/2024/10/17/formacao-vol-1/.

* Obs: É imprescindível, mas não obrigatória,  a leitura prévia dos materiais.

 

Ninguém nasce pronto, todos estamos aptos a aprender!

Formar novos militantes do povo, sementes da libertação!

Publicado em Atividades, Conjuntura, Debate, Distrito Federal, GLP, Teoria e ideologia | Comentários fechados em DF | Ciclo de Formação Básica do Militante do Povo

Goiânia | Ação contra a escala 6×1 junto aos trabalhadores do Shopping Araguaia

BAIXE O CARTAZ | BAIXE O PANFLETO

No último dia 18/01, o GLP-GO e seus apoiadores realizaram mais uma atividade de propaganda contra a escala 6×1, com o objetivo de avançar na construção de uma atuação de base regular e qualitativa. A ação teve como foco os trabalhadores que enfrentam a escala 6×1 na região do Shopping Araguaia, no centro de Goiânia.

Durante a atividade, militantes realizaram panfletagem dentro do shopping, conversando diretamente com os trabalhadores sobre os desafios da rotina na escala 6×1. Continuar a ler

Publicado em Atividades, Campanha, GLP, Goiânia, Sindical | Comentários fechados em Goiânia | Ação contra a escala 6×1 junto aos trabalhadores do Shopping Araguaia

Não temos uma democracia a defender! Pela autonomia da classe trabalhadora e pela luta por uma vida digna


Comunicado nº3 do Grupo Libertação Popular – GLP, Brasil, dezembro de 2024.

Contato: glp.nacional@inventati.org


Há uma nova tentativa de reviver a polarização eleitoral entre o Lulismo e o Bolsonarismo, sustentada pelo apoio das instituições burguesas. Na semana de 17 de novembro toda a mídia burguesa foi tomada por notícias sobre a descoberta pela Polícia Federal de um “plano de golpe” em 2022 que envolvia as altas cúpulas militares para impedir a posse do novo governo, na deslegitimação do processo eleitoral e no possível assassinato ou prisão de Lula, Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes.

Diante de tais denúncias, qual deve ser a análise e a posição dos revolucionários e militantes classistas?

Primeiramente, é básico e fundamental manter a desconfiança e o pensamento crítico frente aos discursos ideológicos dos órgãos que dirigem toda a trama investigativa e punitiva: a Polícia Federal (PF) e o Superior Tribunal Federal (STF). Tais órgãos sempre foram conhecidos e odiados pela manutenção da ordem burguesa e repressiva, no julgamento e aplicação de medidas contrárias às massas trabalhadoras. Essa premissa inicial não retira a gravidade do ocorrido, mas deve retirar toda a ingenuidade de ativistas e organizações na legitimação das análises e soluções pregadas por essas instituições burguesas. De um ponto de vista classista-revolucionário as massas populares não podem ficar à reboque da “política democrática” da PF e STF. Continuar a ler

Publicado em Conjuntura, Debate, General, Repressão, Teoria e ideologia | Comentários fechados em Não temos uma democracia a defender! Pela autonomia da classe trabalhadora e pela luta por uma vida digna

DF | Audiência e protesto denunciam a criminalização dos movimentos populares

Veja mais fotos no canal do Telegram ou na página do Instagram do GLP


A luta contra a criminalização dos movimentos populares que lutam por terra e por moradia no Distrito Federal deu mais um passo importante na manhã do dia 05/12.

Nesse dia ocorreu a Audiência Pública na Comissão de Legislação Participativa (CLP) da Câmara dos Deputados com o tema “criminalização dos movimentos sociais”. A denúncia principal foi a condenação de 11 ativistas e ex-ativistas do Movimento Resistência Popular (MRP) e da forte repressão contra o Acampamento Terra Prometida em Brazlândia (DF).

O ato-Audiência contou com a participação do Movimento Resistência Popular (MRP), Frente Nacional de Luta Campo Cidade (FNL), Central Sindical e Popular Conlutas (CSP-Conlutas), Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), Grupo Libertação Popular (GLP) e do Coletivo de Base Honestino Guimarães (CBHG), além dos parlamentares Glauber Braga (PSOL) e Érika Kokay (PT). Continuar a ler

Publicado em Atividades, Campanha, Comunitário, Distrito Federal, GLP, Questão agrária, Repressão | Comentários fechados em DF | Audiência e protesto denunciam a criminalização dos movimentos populares

Memória | Camarada Yuri, presente!

Na madrugada o dia 28 para 29 de novembro de 2019, em Jataí (GO), o jovem trabalhador e militante anarquista, Yuri Oliveira, acometido pela depressão, tirou a própria vida depois de deixar uma carta no facebook.

Yuri, militava na Federação Autônoma dos Trabalhadores (FAT), já extinta. Era uma pessoa edificante, no sentido de nos construir como pessoas melhores e construir espaços para uma sociedade melhor. A cada reunião ele se mostrava mais radicalizado, a cada leitura teórica mais afiado, a cada conversa uma amizade mais sólida. Nos locais de luta sempre trazia apontamentos fundamentais; em nossas conversas palavras de conforto e ajuda. Muito generoso, não suportava injustiças, gostava de andar de bicicleta e era um grande fã de Belchior.

Em sua carta de despedida pediu que sua morte, longe de nos paralisar, nos tirasse do imobilismo e nos fizesse lutar com mais força e garra por um mundo justo. Teve a generosidade de isentar seus familiares, seus amigos e seus companheiros de qualquer culpa. Mas, não isentou o ambiente universitário, nem o sistema de merda que nos explora, oprime e mata diariamente. Continuar a ler

Publicado em Anarquismo, General, GLP, Memória e história, Repressão | Comentários fechados em Memória | Camarada Yuri, presente!