Aniversário de 10 anos da Revolução em Rojava

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº3, Setembro/Outubro/Novembro de 2022.

Por Antônio “Galego”.

No dia 19 de julho de 2012 a gloriosa Revolução em Rojava teve início. Rojava é uma região localizada no Norte e Leste da Síria, reivindicada pelos movimentos revolucionários do povo curdo como parte do Curdistão. O Curdistão é um território ancestral dos povos curdos hoje dominado pelos Estados da Turquia, Iraque, Irã e Síria.

Bem antes da estourar a revolução em 2012, os curdos da Síria já desenvolviam uma atuação revolucionária junto as massas populares da região. A ideologia que guia a luta em Rojava é o Confederalismo Democrático, que traz uma solução democrática para a realidade multiétnica e multireligiosa do Oriente Médio, com base na democracia popular, na libertação das mulheres e na ecologia, assim como na negação do Estado e do Capital.

Rojava é ameaçado pelos interesses de diferentes forças políticas e econômicas (regionais e internacionais) que almejam o controle desse território. Logo após a Revolução em Rojava, um grande sacrifício foi realizado para derrotar o Estado Islâmico. Hoje a Turquia ameaça oficialmente uma invasão de grande escala em Rojava, de profundidade de 30 km ao longo de toda fronteira, seguindo a ocupação colonial de cidades importantes como Afrin (2018).
Hoje, a revolução em Rojava tem enfrentado uma guerra de baixa intensidade, com uma variedade de táticas que incluem execuções extrajudiciais, apoio e o uso de grupos proxy, corte do suprimento de água e eletricidade, mudança demográfica e a guerra psicológica. Um exemplo são os 56 ataques com drones por parte da Turquia realizados desde o início de 2022 e que causaram a morte de 27 pessoas e feriram outras 74.

Saudamos e festejamos, desde o Brasil central, o aniversário de 10 anos da revolução social em Rojava! Reforçamos a nossa solidariedade classista e internacionalista à incansável luta do povo curdo, e convocamos os trabalhadores brasileiros a se informarem e se engajarem nas campanhas internacionais de solidariedade a essa importante experiência de construção de uma nova sociedade. ■

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Viva Zumbi dos Palmares! Herói revolucionário das massas populares!

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº3, Setembro/Outubro/Novembro de 2022.

Por Érico e Antônio “Galego”.

O dia 20 de novembro é um dia para rememorar as insurgências, rebeliões, sabotagens, greves e a organização do povo preto, e tem como referência o dia da execução de Zumbi dos Palmares, último líder do Quilombo dos Palmares. Localizado na região da Serra da Barriga, (à época pertencente aos limites da Capitania de Pernambuco, e hoje território de Alagoas) estima-se que esse quilombo possuía cerca de 20 a 30 mil pessoas entre pretos, indígenas, mestiços e mesmo brancos pobres ou perseguidos, e se manteve em resistência durante 100 anos (supõe-se que de 1600 a 1710).

Esse espaço de organização de homens e mulheres livres, quilombolas, abrigava fugitivos e rebeldes que não se sujeitavam ao sistema escravista. Surgiu durante o período colonialista, organizando-se para a resistência e enfrentamento do povo preto africano em contraposição ao sistema escravista imperial e supremacista dos portugueses e de demais países europeus. A forma de organização dos quilombolas contrapunha-se ao sistema de superexploração do trabalho através do trabalho coletivo na produção agrícola e na autodefesa de seus territórios. Continuar a ler

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Massacre de Guapo’y: A resistência ancestral Guarani Kaiowá escancara a farsa eleitoral

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº3, Setembro/Outubro/Novembro de 2022.

Por Anarquistas em Dourados (MS)

Marcha Guarani Kaiowá (28/06). Fotos de Iara Cardoso.

No dia 24 de junho de 2022, após retomada de terra ancestral dos Guarani Kaiowá conhecida como Guapo’y Mirin Tujury, na proximidade da Reserva Indígena de Amambai, Mato Grosso do Sul, a Polícia Militar realiza despejo ilegal contra os indígenas provocando o que ficou conhecido como Massacre de Guapo’y. Na ocasião, o Batalhão de Choque da PM do MS deixa dezenas de feridos/as, inclusive crianças – entre elas, um menino de 12 anos com exposição de suas vísceras após tiro de fuzil de um helicóptero. Além dos feridos, Vitor Fernandes Kaiowá, de 42 anos, foi assassinado brutalmente com dois tiros de fuzil.

O Massacre, aplaudido pelo nazista Antonio Carlos Videira, secretário de segurança pública do MS, foi também consequência da ocupação criminosa das terras indígenas por latifundiários, em específico Waldir Candido Torelli, proprietário da fazenda ocupada – e inúmeras outras terras, que juntas somam mais hectares do que toda a Reserva de Amambai – e ligado a grandes redes de exportação e acumulação capitalista internacionalmente – a empresa Marfrig e exportação de grãos como soja e milho transgênico para países da Europa, Ásia e EUA são exemplos. Poucos dias após o Massacre, Márcio Moreira, guerreiro Kaiowá da mesma retomada foi assassinado em uma emboscada. Continuar a ler

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Em memória de Yuri, amigo e militante anarquista de Jataí (GO)

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº3, Setembro/Outubro/Novembro de 2022.

Por L.H.

Yuri Oliveira foi um jovem jataiense, como muitos da classe trabalhadora, acometido pela depressão, que em novembro de 2019 nos deixou.

Falar sobre alguém que já se foi sempre é difícil, falar sobre um amigo, filho, irmão, estudante, trabalhador e lutador social é uma tarefa ainda mais difícil.

Yuri pode ser descrito como uma pessoa edificante, no sentido de nos construir como pessoas melhores e de construir espaços para uma sociedade melhor. A cada reunião ele se mostrava mais radicalizado, a cada leitura teorica mais afiada, a cada conversa uma amizade mais sólida. Nos locais de luta sempre trazia apontamentos fundamentais; em nossas conversas palavras de conforto e ajuda. Muito generoso, não suportava injustiças, gostava de andar de bicicleta e era o maior fã de Belchior que já conheci. Um jovem, comum, mas único e muito especial para aqueles que o rodeavam. ■

“Eu sou apenas um rapaz latino-americano Sem dinheiro no banco, sem parentes importantes E vindo do interior” Belchior.

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Eleições em Goiás: a hegemonia conservadora e o descontentamento popular

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº3, Setembro/Outubro/Novembro de 2022.

Por Jiren D.

As eleições para o governo de Goiás vão ter 9 candidaturas entre partidos de direita e de esquerda, todos em busca de garantir a exploração através do Estado burguês. As pesquisas apontam reeleição, no primeiro turno, do conservador Ronaldo Caiado (União Brasil), ficando à frente do também direitista, Gustavo Mendanha (Patriota), com 24,9%. O total das intenções de voto nos partidos intitulados de esquerda (PT, PSOL, PCB, e UP) não chegou aos 5%. Outro dado é que mesmo com a polarização ideologica e investimentos publicitários do TSE incentivando o voto, 11% dos eleitores declaram que irão se abster, o que ultrapassa a somatória de outros seis partidos, de direita e esquerda, que estão na corrida eleitoral.

Se as projeções se confirmarem, a vitória do bolsonarista Caiado no primeiro turno, representa a manutenção no poder do representante das oligarquias rurais e lideranças religiosas (principalmente evangélicos) que tem grande força política em Goiás devido ao clientelismo eleitoral, Caiado se mantendo ileso mesmo sofrendo resistência por parte da pequena-burguesia rural bolsonarista insatisfeita com sua posição “recuada” na defesa das aventuras de Bolsonaro. Já Mendanha, candidato também Bolsonarista, tenta sustentar sua candidatura com o apoio de parte do empresariado como a FIEG, principalmente atacando o fechamento de indústrias como a Creme Mel durante o governo Caiado, algumas facções de igrejas evangélicas e prometendo gerar o aumento de empresas de serviços como fez na gestão de Aparecida de Goiânia. Continuar a ler

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Eleições no DF: dos ricos aos inexpressivos

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº3, Setembro/Outubro/Novembro de 2022.

Por Érico.

A fé no voto esse ano vem inflamada com a polarização a nível nacional, na disputa entre Lula e Bolsonaro. Muitos estão votando com fé no menos pior, o voto desesperado, clamando por algum milagre que supostamente as eleições burguesas poderiam operar. No Distrito Federal, o cenário de desesperança é, também, semelhante.

O atual governador do DF tenta a reeleição sustentando a fala sobre as inúmeras obras que ele realiza durante o governo, e crê que melhorará os inúmeros problemas urbanos alargando vias e construindo viadutos. Tão concreto foi o desastre de sua gestão no âmbito da saúde, que durante a pandemia, num primeiro momento se destacou entre os governadores que primeiro “reagiram” à covid-19, e um tempo depois foi símbolo da incompetência em prover testes, leitos nas enfermarias e UTIs para os que sofriam com a pandemia. Além disso, sua gestão foi marcada pelos casos de corrupção (superfaturamento, negociatas e organização criminosa) envolvendo a Secretaria de Saúde no auge da pandemia de Covid-19. Nesse mesmo período, foram registrados ainda o crescimento da população em situação de rua no DF, e o desamparo às famílias pobres que sofrem com o desemprego, e com a desastrosa política de assistência social.

No governo Ibaneis, só quem se deu bem foram os ricos (e na democracia burguesa, é essa lógica sempre)! Enquanto os trabalhadores pobres morriam e sofriam durante a pandemia, o mercado da construção civil crescia e enriquecia os grandes empresários do ramo no DF. Falando nisso, o candidato Paulo Octávio faz parte dessa elite de empresários brasilienses, e já esteve no GDF enquanto ex-governador de Arruda, e por 12 dias foi governador. Ele e Arruda renunciaram após o escandaloso mensalão que desviou cerca de 110 milhões de reais em verbas públicas. Na atual disputa, Paulo Octávio é o candidato mais rico: declarou um patrimônio de 618 milhões de reais. Em seus discursos, o candidato sempre fala em migalhas para o povo.
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A COTA DE GÊNERO NAS ELEIÇÕES: A lei muda a realidade ou a realidade muda a lei?

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº3, Setembro/Outubro/Novembro de 2022.

Por Aurora.

As cotas de gênero, criadas em 1997 para supostamente diminuir as disparidades entre homens e mulheres nos cargos de poder e estimular a participação das mulheres na política, são uma falsa solução. Elas não passam de um arremedo, endossado tanto pela direita quanto pela esquerda institucional, para tentar dar mais um fôlego ao falido sistema eleitoral.

O resultado disso é que, ao invés de efetivamente termos “+ mulheres na política” (1) o que vemos são maracutaias de todo tipo que os partidos (em especial os de direita) fazem para atender à exigência dos 30% de candidaturas femininas. Chovem candidaturas laranjas e, enquanto os partidos fingem incluir as mulheres, o TSE finge que vai punir tal prática (2).

Do outro lado, ao invés da esquerda que se diz socialista (sic!) destinar seus esforços para incentivar o protagonismo das mulheres nas instâncias da classe trabalhadora, valorizar e impulsionar as lutas protagonizadas por mulheres periféricas, com objetivo de fortalecer os movimentos, investem uma enorme energia para torna-las candidatas, para que virem só mais um peça do quebra-cabeça da farsa eleitoral.

Aqueles que vem nas cotas uma solução temos que alertá-los para não serem inocentes. Vencer o sistema capitalista patriarcal não perpassa por legitimar e compor as suas próprias estruturas. Além disso, não sejamos idealistas: não é a lei que muda a realidade, é a realidade (a luta de classes) que pode mudar a lei! ■


(1) Lema da campanha de 2022 da Justiça eleitoral.
(2) O Ministro Alexandre de Moraes após burburinhos sobre candidaturas laranja de mulheres em 2022 ameçou impugnar chapas inteiras, o que sabemos que dificilmente ocorrerá.
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Andando em círculos: os dilemas do imediatismo e o ultra-revolucionarismo na militância revolucionaria

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº3, Setembro/Outubro/Novembro de 2022.

Por Jiren D.

Vivemos tempos de conjuntura difícil para a luta dos trabalhadores, a pandemia piorou as condições econômicas e também a capacidade organizativa dos trabalhadores, junto com aumento da repressão, do estado de exceção, da cooptação dos movimentos socais, nos coloca numa situação delicada para a militância revolucionaria no Brasil.

Além do mais, a militância revolucionaria vive um dilema: existem grupos e organizações que tem atuações mais massificadas que ficam presos no nível de programa mais imediatista e economicista (resolvendo problemas imediatos dos trabalhadores, como salários, direitos básicos e auxílios), mas tem uma dificuldade de avançar num horizonte mais revolucionário o que pode dar margem para militância assistencialista e reformista e, por outro lado, tem grupos com atuações com perfil mais de minoria-ativa, principalmente no movimento estudantil e na educação, que ficam “engessados” num “revolucionarismo auto proclamatório”, porem abstrato e teórico e longe da realidade, se afastando da luta de massa.

Diante desse dilema, cabe aos anarquistas revolucionários refletir e teorizar para dar respostas e corrigir a linha, para ser possível construir uma linha revolucionaria e de massas no Brasil, sem idealismos e sectarismo, levando uma harmonia do programa reivindicativo ao programa revolucionário. Continuar a ler

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O trabalho terceirizado nos serviços públicos no Distrito Federal

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº3, Setembro/Outubro/Novembro de 2022.

Por Érico.

A terceirização do trabalho tem como ideia central a flexibilização dos modos de organização e gestão das atividades, com o objetivo de desonerar o processo produtivo, com foco na atividade ou serviço intermediário ou final da empresa e órgão contratante, promovendo ao máximo o lucro através da superexploração. A assiduidade, a imposição de metas e a maximização do tempo são palavras de ordem das empresas para pressionar os trabalhadores.

As características mais hostis dessa modalidade podem ser verificadas no aumento do desemprego, uma vez que há alta rotatividade dos empregados, o que ocasiona a criação de um “exército de trabalhadores” polivalentes (que atuam em diversas frentes) desempregados. A subcontratação, o decréscimo na quantidade de empregos formais com as empresas contratantes (chamadas tomadoras de serviço), além do enfraquecimento das relações coletivas dos trabalhadores devido a ampliação da competitividade e consequente individualismo são outros males que a terceirização ocasiona aos trabalhadores.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) realizada e publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2015, cerca de 18,9% da população brasileira foram empregadas por contratação intermediária, ou seja, através de uma terceira pessoa ou empresa contratante. Na região Centro-Oeste, 19,1% dos trabalhadores ativos correspondem a essa categoria. Dados mais recentes do Tribunal de Contas da União (TCU), mostram que na esfera Federal de governo há cerca de 80 mil trabalhadores terceirizados que prestam serviços nas empresas estatais, órgãos governamentais como ministérios e autarquias.

Brasília, capital federal, concentra a maior parte dos órgãos e autarquias do Governo Federal, além daqueles da administração distrital. A terceirização do trabalho está nas instituições de ensino, de saúde, nas empresas públicas e privadas, geralmente com trabalhadores alocados aos serviços que não são os produtos finais daquela instituição, organização ou empresa. São trabalhadores contratados por uma terceira empresa para executar os serviços de atividades específicas, sendo elas responsáveis dos encargos trabalhistas. Geralmente, essas mesmas empresas não possuem condições financeiras necessárias para arcar com a responsabilidade dos direitos dos trabalhadores. Continuar a ler

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Arqueologia Indígena no Brasil Central

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº3, Setembro/Outubro/Novembro de 2022.

Por Domingos.

Foto: Múmia Acauã encontrada em 1971 na Gruta do Gentio II – Unaí MG, que só em 2021 teve as escavações retomadas.

Está em andamento o Projeto Arqueologia e História Indígena no Brasil Central (PHIBRA), organizado por pesquisadores da USP, UnB e UFoPA. A iniciativa vem trazendo uma série de informações e materiais sobre o passado indígena na região central do Brasil.

A ação mais recente ocorreu em Unaí – MG onde está sendo realizada a escavação na Gruta do Gentio II, sítio arqueológico onde foi encontrado o corpo de uma menina de 12 anos que viveu a cerca de 3.500 anos atrás (conhecida também por múmia Acauã). Além de dezenas de outros ossos humanos e de animais, cerâmicas e outros artefatos, a Gruta também está repleta de desenhos rupestres que datam de até 12 mil anos.

O projeto tem por objetivo realizar parcerias com as escolas públicas da região, em modelo de Sitio-Escola, visando trazer a comunidade para construir e se apropriar do conhecimento, das técnicas e de sua história ancestral, assim como formar novos pesquisadores na área da arqueologia indígena e comunitária. Continuar a ler

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