Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº1, Março/Abril/Maio de 2022.
por Antônio Galego.
O Cazaquistão é o nono maior país do mundo, fazendo fronteira com Rússia, China, Quirguistão, Uzbequistão, Turcomenistão e com o mar Cáspio. Sua base econômica é a exploração de petróleo e minérios, tendo por isso uma grande quantidade do proletariado nacional ocupado na indústria extrativista. Além disso, a base energética do país é altamente dependente do gás liquefeito, que é usada em toda a logística alimentícia, de transporte público e privado do país.
A riqueza natural e as características territoriais colocam o Cazaquistão há anos sob a disputa interimperialista EUA/UE x Rússia/China. Além de estar na área de influência da Rússia, o governo cazaque realizou nos últimos anos várias políticas neoliberais. O petróleo e gás tem sido explorado por multinacionais como Chevron e Exxon Mobil (EUA), Total (França), Royal Dutch Shell (Reino Unidos e Holanda) e Lukoil (Rússia), e na indústria do aço a multinacional Arcelor Mittal. Por outro lado, o país é um parceiro do projeto imperial chinês Cinturão da Rota da Seda, sendo que o primeiro discurso de Xi Jinping sobre o projeto foi em 2013 no Cazaquistão.
Assim, a oligarquia burguesa cazaque está profundamente atrelada aos interesses das burguesias estrangeiras, com as (des)vantagens de um país semiperiférico. Mas quem tem sofrido de fato é a classe trabalhadora, sendo a insurreição de janeiro parte de uma série de revoltas proletárias no país. Em 2011, por exemplo, ocorreu uma greve operária de massas na cidade de Zhanaozen que teve 15 mortos e centenas de feridos. Não à toa é a cidade que iniciou a luta atual.
Na virada do ano 2021/2022 o governo aumentou em 100% o preço do gás. A revolta começou no dia 02 de janeiro com uma greve petroleira em Zhanaozen, que se alastrou no dia seguinte pra toda a região de Mangistau e depois pra região vizinha Atyrau. Nos dias seguintes a greve geral tomou um caráter insurrecional e se espalhou por todo o país, com confrontos armados e irregulares com as forças repressivas do Estado.
As reivindicações iniciais tinham um caráter classista (redução do aumento do gás, aumento salarial, condições de trabalho, liberdade sindical etc.). Com a expansão do movimento e a repressão do exército apoiada pela intervenção militar russa, as correntes burguesas (pró-EUA, pró-Turquia, etc.) e de clãs oligarcas internos disputam o movimento para os seus próprios fins. Mas isso não é novidade na luta de classes. Em todo levante autêntico existe disputa, avanços ou retrocessos, nunca é um processo linear e absoluto.
A base da análise anarquista da revolta no Cazaquistão é a luta de classes nacional e internacional. Os defensores dos EUA ou da Rússia desprezam a ação histórica das massas populares, são cegos pelo poder dos Estados. A socialdemocracia cai nessa armadilha com a acusação de “revolução colorida”. Para os bakuninistas o fundamental é construir uma linha classista e internacionalista que unifique o proletariado mundial e o leve a vitória contra as formas de exploração capitalista e projetos imperiais. ■
Viva a revolta proletária no Cazaquistão!
Por uma Tendência Classista e Internacionalista!