Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº2, Junho/Julho/Agosto de 2022.
Por Érico.
Não, você não voltou no tempo! A escravidão nunca esteve distante de nós. No Distrito Federal e Goiás centenas de casos de trabalhadores em situações análogas à escravidão têm sido denunciados. Somente em 2022, em Cristalina-GO (à 131 km de Brasília) 32 trabalhadores rurais foram encontrados em carvoeiras dentro de duas propriedades rurais no município que é um dos mais importantes para o agronegócio no estado. Em 2020 vinte e oito trabalhadores foram resgatados em Águas Lindas de Goiás, e nesse ano, uma outra trabalhadora foi resgatada em uma chácara após 5 anos de trabalhos forçados. Casos como esses somam-se a outros 803 resgates de trabalhadores em situações análogas à escravidão, registrados entre 1997 e 2021 só no Distrito Federal e Entorno.
Os dados publicados pelo Ministério da Economia mostram que o perfil das vítimas resgatadas no DF e Entorno é de homens entre 30 e 39 anos, negros (pretos ou pardos), de origem mineira ou goiana. Apesar dos dados divulgados por esse ministério, a posição do Estado brasileiro é de (no mínimo) total incoerência. As ações governamentais que se valem da estrutura estatal não inibem, punem ou evitam que essa situação esteja sempre junto das transformações econômicas e da reprodução capitalista que a sociedade e território são sujeitos. Através das políticas de destruição dos direitos trabalhistas, os planos econômicos e os projetos que aliam a exploração de territórios e atividades agroextrativistas em regiões de grande vulnerabilidade social, o Estado brasileiro beneficia latifundiários, empresários e especuladores. Essa postura não é nova, tendo evoluído desde às antigas oligarquias do império às elites da república.
Além das elites historicamente referenciadas, muitas entidades religiosas exploram trabalhadores à escravidão. É o caso de uma seita religiosa denunciada na região administrativa do Gama (DF) onde escravizou 95 pessoas nas dependências de uma chácara vinculada à entidade.
A superação da exploração dos trabalhadores, seja na nova escravidão que demonstra não estar isolada nem na história nem em um espaço distante no território brasileiro, seja na exploração do trabalho assalariado, mas com jornadas exaustivas, postos de trabalhos distantes das origens dos trabalhadores, e com a finalidade de enriquecer grandes empresários, só será definitiva através da organização dos trabalhadores. ■
“Paz é uma palavra doce para aquele que é livre, mas tem sabores de sarcasmo para aquele que tem que alugar braços para poder viver. A paz será uma coisa desejável quando houver igualdade, pois enquanto subsistir a desigualdade, a paz será uma bênção para o amo, um sacrifício e exaustão para o escravo.” Ricardo Flores Magón