Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº2, Junho/Julho/Agosto de 2022.
Por Antonio “Galego”
Nós estamos em uma conjuntura de defensiva do proletariado. A burguesia está na ofensiva, ou seja, está em condições de realizar seus objetivos estratégicos como classe (reforma trabalhista, previdenciária, privatizações, etc.). Obviamente existem resistências populares, mas são restritas e na maioria das vezes recuadas. Em nenhum momento durante o governo Bolsonaro existiu correlação de forças favorável para derrubar o governo por meio de métodos de luta proletária-popular, ou seja, pela ação direta.
Sem uma mobilização combativa de massas (que foi sabotada pelo petismo particularmente desde o “Ocupa Brasília” em 2017 e durante todo governo atual) a palavra de ordem “fora Bolsonaro” caiu no vazio e foi usada pela oposição socialdemocrata/liberal para desgastar o governo, se utilizando de todo cenário de morte, precarização e ataques como trampolim eleitoral. O foco desde o começo foi a mudança de governo, “primeiramente fora Bolsonaro…”. O povo deveria submeter todas as suas reivindicações e lutas à troca do governo atual. É o paradigma clássica da socialdemocracia de superioridade da luta política (partido) sobre a luta econômica (sindicato).
Mesmo o “reformismo renovado” (PSOL, UP, PSTU, etc.) e setores autônomos acabaram à reboque da política Lulista do “fora Bolsonaro”. Por mais que uns defendiam o impeachment e outros a derrubada de Bolsonaro com “rebelião das massas”, não haviam condições para tais, e todos acabaram reforçando a concepção hegemônica de prioridade da troca de governo (paradigma socialdemocrata) que hoje fortalece a candidatura Lula-Alkmin (PT-PSB).
Para derrubar um governo com o método de luta proletária é necessária uma ofensiva das massas, e a partir disso colocar o governo capitalista em xeque. É isso que ocorreu com a greve geral de 1917 em SP, na luta pelas 8 horas do 1º de maio, na revolução mexciana em 1910, ou na revolução russa de 1917. A base da estratégia revolucionária é a mobilização popular por condições materiais de existência, que se orienta para o antagonismo estrutural entre as classes e culmina na destruição do sistema dominante.
Assim, o foco hoje é retomar a capacidade de resistência popular, enfrentando a desorganização e a burocratização. Aplicar o método materialista de mobilização do proletariado e a luta pela reorganização da classe. A agitação revolucionária deve relacionar continuamente as lutas reivindicativas específicas com a denúncia das políticas antipovo dos governos e patrões, mas não centrada no paradigma reformista de que a prioridade é a troca de governo. Contra esse paradigma opomos a verdade de que o povo pode conquistar vitórias sob o jugo de qualquer governo. Que a libertação e as conquistas dos trabalhadores serão obra dos próprios trabalhadores. ■