Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº3, Setembro/Outubro/Novembro de 2022.
Por Anarquistas em Dourados (MS)
No dia 24 de junho de 2022, após retomada de terra ancestral dos Guarani Kaiowá conhecida como Guapo’y Mirin Tujury, na proximidade da Reserva Indígena de Amambai, Mato Grosso do Sul, a Polícia Militar realiza despejo ilegal contra os indígenas provocando o que ficou conhecido como Massacre de Guapo’y. Na ocasião, o Batalhão de Choque da PM do MS deixa dezenas de feridos/as, inclusive crianças – entre elas, um menino de 12 anos com exposição de suas vísceras após tiro de fuzil de um helicóptero. Além dos feridos, Vitor Fernandes Kaiowá, de 42 anos, foi assassinado brutalmente com dois tiros de fuzil.
O Massacre, aplaudido pelo nazista Antonio Carlos Videira, secretário de segurança pública do MS, foi também consequência da ocupação criminosa das terras indígenas por latifundiários, em específico Waldir Candido Torelli, proprietário da fazenda ocupada – e inúmeras outras terras, que juntas somam mais hectares do que toda a Reserva de Amambai – e ligado a grandes redes de exportação e acumulação capitalista internacionalmente – a empresa Marfrig e exportação de grãos como soja e milho transgênico para países da Europa, Ásia e EUA são exemplos. Poucos dias após o Massacre, Márcio Moreira, guerreiro Kaiowá da mesma retomada foi assassinado em uma emboscada.
Ao mesmo tempo, ocorre a retomada de Kurupi, no município de Naviraí, também atacada pela Polícia Militar. A comunidade foi alvejada por semanas por pistoleiros e fazendeiros. Os Guarani Kaiowá, desde o início de 2022 vem realizando diversos avanços de retomadas, a exemplo de Laranjeira Nhanderu, em março, despejada ilegalmente; da vitoriosa retomada de Jopara, em Taquaperi, noticiada neste jornal após assassinato do companheiro Alex Lopes; a retomada de Guapo’y Mirin Tujury e a retomada de Kurupi. No caso de Guapo’y, os Guarani Kaiowá organizam no dia 28 de junho uma marcha fúnebre em direção à fazenda que haviam ocupado, retomando novamente a área e expulsando os seguranças privados com uma ofensiva massiva de mais de 2000 pessoas, que carregaram o caixão de Vitor Fernandes aos gritos de “Retomada!” e mostraram aos carrascos do Estado colonial a força coletiva capaz de derrubar os novos bandeirantes e senhores do engenho com a flechada certeira da luta popular.
Enquanto isso, políticos e patrões, serviçais do imperialismo e donos dos latifúndios que rasgam as terras do MS, preparam suas candidaturas para as eleições de 2022, apoiados e financiados pelos financiadores do massacre. Entre os candidatos para o governo do estado no MS, estão por exemplo Eduardo Riedel (PSDB) e André Puccinelli (MDB), assim como Tereza Cristina (DEM) para o senado, todos donos de inúmeras fazendas na região e figuram como principais articuladores do leilão da resistência em 2013, quando os sindicatos rurais e latifundiários do estado se juntaram para leiloar bois para comprar armas e contratar seguranças privados para assassinar indígenas. Outros candidatos, como Nelsinho Trad, estão vinculados à gigantescos esquemas de corrupção envolvendo a JBS. Ainda, Capitão Contar (PRTB) surge representando o segmento militar e Giselle Marques (PT) o velho desenvolvimentismo de seu mandatário Vander Loubet (PT), defensores da Nova Ferroeste e da Rota Bioceânica, grandes projetos de infraestrutura que afetarão diretamente territórios Guarani Kaiowá e dos outros 9 povos indígenas do MS, assim como terras quilombolas e assentamentos.
Nessa eleição, os candidatos partilham sangue em suas mãos e a união de interesses comuns: governar para as elites latifundiárias deste país. Dos governos estaduais ao governo federal, conclamamos ao povo que NÃO VOTE, e se organize para construir a grande rebelião que irá derrubar os gestores do Estado colonial e capitalista. A conivência dos candidatos com o Massacre de Guapo’y deve ser denunciada, na medida em que todos eles atuam para enriquecer os bolsos dos financiadores do massacre. ■