Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº5, Abril/Maio/Junho de 2023.
Jiren D.
O mês de março foi marcado pelo aumento da radicalização e avanço da luta de classes na França. Os trabalhadores franceses lutam desde janeiro contra a reforma da previdência do “progressista” Macron, que pretende entre outros pontos aumentar a idade mínima de 62 para 64 anos. Nessa segunda reforma, por dificuldade de aprovação pelo parlamento, o governo Macron se utilizou de dispositivo especial para aprovação da reforma sem passar pelo parlamento, com isso os protestos e as greves voltaram a crescer e radicalizar por todo o país. O governo vem respondendo somente com repressão e prisão contra os manifestantes.
Essa revolta social na França vem sendo uma das maiores dos últimos anos e vem combinando táticas de greve geral em setores estratégicos como refinarias, transporte público, limpeza urbana, ferrovias, aeroportos, e contando com grande participação da juventude precarizada nos subúrbios das grandes cidades, combinando esses elementos com protestos combativos de caracteres insurrecionais como a tática black block e dos coletes amarelos, de certa forma resgatando de forma instintiva um dos elementos centrais do sindicalismo revolucionário que é unir as lutas de base e de massa com uma linha insurrecional.
Os protestos já vem ecoando em toda Europa, nas Grécia e na Espanha já ocorreram manifestações em solidariedade a luta dos trabalhadores franceses que além da reforma da previdência lutam contra as consequências do aumento da carestia de vida no contexto pós-pandemia e como consequência também da guerra na Ucrânia.
A greve geral e os protestos crescem, não sabemos que vão conseguir ou não barrar a reforma da previdência, porém, mais uma vez a classe trabalhadora francesa dá um grande exemplo de combatividade. Essa luta se junta à longa tradição coletiva de lutas da classe trabalhadora francesa, como a Comuna de Paris em 1871, o maio de 1968, as revoltas nos subúrbios de Paris em 2005 e mais recentemente os coletes amarelos em 2018-2019.
Na França existe minimante uma cultura militante de base, aonde mesmo os sindicatos reformistas majoritários com a CGT cumprem um papel “mínimo” na mobilização, diferente do Brasil aonde as grandes centrais como a CUT nunca mobilizam nada. Outra característica é a maior pluralidade das correntes e consequentemente um campo maior de dos movimentos sociais combativos, com dezenas de grupos anarquistas, sindicalistas revolucionários, trotskistas e comunistas revolucionários e antifas, que apesar dos seus limites e contradições acabam contribuindo para potencializar as lutas em momentos como esse.
Aos trabalhadores e revolucionários do Brasil cabe a missão de se solidarizar com a luta dos trabalhadores franceses e avançar no processo de luta e organização para também avançarmos a luta de classes por aqui. ■