Três meses do Governo Lula: frente ampla e neoliberalismo “progressista”

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº5, Abril/Maio/Junho de 2023.

Jiren D.

Os três primeiros meses do governo Lula confirmaram a análise da edição passada de como o governo Lula seguiria a serviço da velha ordem política e econômica. A frente ampla com a esquerda e a direita, inclusive setores que compunham o governo Bolsonaro, mostra que toda a narrativa de “golpe” e “ameaça fascista” era apenas charlatanismo eleitoral.

Vinte anos se passaram desde o primeiro governo Lula (2003). Naquele contexto econômico-histórico, em que a democracia burguesa estava se estabilizando no pós-ditadura e o neoliberalismo estava se consolidando como a ideologia dominante no Brasil e na América latina, o PT se mostrou um partido viável para setores da burguesia nacional e internacional, por garantir a aceitação pacifica das reformas que seriam aplicadas, como as reformas da previdência e universitária, graças ao controle dos movimentos socais e sindicais pelo reformismo do PT.

No momento em que Bolsonaro perdia apoio de setores importante da burguesia, Lula se mostrou útil para restabelecer a “paz e o amor” entre os poderes, a elite e a volta da normalidade burguesa e institucional, com controle de qualquer possível revolta popular. Para isso, o PT construiu uma grande frente ampla que vai da esquerda (PSOL, PDT e PSB) até a direita (centrão, PSD, União Brasil). Isso só foi possível fazendo muitas ofertas e muitas concessões para as lideranças partidárias parasitas de cargos e verbas públicas.

A linha econômica do Governo Lula e de seu Ministro da Economia Haddad não é muito diferente do período Bolsonaro/Guedes, já que o cenário de ajuste fiscais, juros altos, inflação alta, baixos salários e privatizações não se alterou em nada. O que muda é apenas o discurso, adotando uma roupagem “progressista, identitária e inclusiva”, na mesma linha dos EUA de Biden e da França de Macron. O discurso pode mudar, mas na prática a estratégia do petismo para gestão do Estado burguês brasileiro não é muito diferente daquela de seus adversários.

O salário mínimo vai subir apenas 18 reais, depois de muito descontentamento do eleitorado e pressão de alguns setores. Enquanto isso, o salário do STF vai subir quase 7 mil reais. Haddad prepara o “arcabouço fiscal”, um novo nome para a mesma política de austeridade do “teto de gastos”.Rui Costa não vai reverter privatizações (como a do metrô de BH). Na educação os grandes empresários (como o instituto Itaú-Unibanco e Instituto Lemman) estão em cargos chaves no MEC e já ficou clara a falta de disposição para encaminhar a revogação do Novo Ensino Médio, que tem precarizado cada vez mais a vida de professores e estudantes das redes públicas.

Enquanto as queimadas da Amazônia batem recordes, a demarcação de terras indígenas não avança e a violência no campo e o trabalho escravo continua a crescer (como os recentes casos no RS e GO), o Governo Lula dá espaço para as lideranças do agronegócio (como a JBS) ampliarem seus negócios com a China utilizando a credibilidade do governo.

As principais movimentações dos 100 primeiros dias de governo foram “requentar” projetos do governo Lula 1 (como o Mais médicos) e apresentar medidas simbólicas para o aumento da representatividade e da “igualdade” para mulheres e negros. Discursos e gestos simbólicos foram tudo o que esse governo entregou para o povo até agora.
Além disso, o governo Lula já deixa suas marcas na desmobilização dos trabalhadores, como o caso da greve dos entregadores de aplicativos, em fevereiro, em que os trabalhadores saíram sem nenhuma vitória. Além disso, crescem os casos dos governistas sabotarem e atacar as lutas, como a recente nota do MST criminalizando a luta pela terra em Brazlândia (DF).

A única saída para os trabalhadores não é lutar contra fascismos e golpes imaginários, nem a favor de interesses políticos do governo, mas sim fortalecer a organização para lutar por seus próprios interesses como aumento de salários, por direitos e de forma independente do governo. Chega de ilusão com o governo Lula e com seus fantoches nos movimentos sociais e sindicais! ■

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