A revolta das lavadeiras de Taguatinga

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº6, Julho/Agosto/Setembro de 2023.

Érico.

Cena do filme “A Revolta das Lavadeiras” de 1982.

Em 1960 um grupo de mulheres trabalhadoras protagonizou uma das primeiras revoltas da cidade. Elas habitavam, junto com suas famílias, num acampamento provisório da Novacap, em Taguatinga (DF). O terreno foi cedido para a moradia provisória dos operários da construção, face a ilusão de que os “candangos”, homens e mulheres migrantes, habitariam o Plano Piloto de Brasília.

Dada a situação provisória do acampamento, as moradias sem infraestruturas contavam apenas com uma bomba d’água comunitária que distribuía aos barracos água para tanques, chuveiros e torneiras. A bomba foi doada por Sarah Kubistchek, cedendo ao pedido dos moradores do acampamento. Enquanto isso, Israel Pinheiro, à época prefeito de Brasília já possuía parreiras na Granja do Ipê (região entre Riacho Fundo e Núcleo Bandeirante), residência oficial e propriedade que habitava. Sem estrutura para irrigar sua plantação, ele ordenou que os encarregados da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) expropriassem do acampamento a bomba d’água doada aos trabalhadores.

Foi então que durante uma noite, Josefina Rocha Orlando notou a falta d’água repentina e saiu a verificar, quando encontrou os homens da Novacap retirando canos PVC da estrutura da bomba d’água. Imediatamente Josefina, aguerrida, saiu a bradar no acampamento, denunciando a injustiça, e convocou a reunião das mulheres. Decidiram, em seguida, fazerem vigília. De manhã quando os homens da companhia chegaram, elas, com paus e porretes em mãos, avançaram sobre eles na tentativa de impedir que a expropriação se desse.

Na época, a cidade em construção contava com a Guarda Especial de Brasília (GEB), instituição ligada à Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás, corja policial que oprimia os trabalhadores no Planalto Central. A GEB então foi chamada para conter o motim, e novamente, sem temer qualquer furor, as mulheres se mantiveram firmes em defesa da permanência da bomba d’agua no acampamento, expulsando com gritos e porretes os policiais de lá.

Sabendo da revolta das lavadeiras em Taguatinga, o senador Auro de Moura Andrade em exercício do poder devido a vacância de João Goulart, ordenou que levassem as mulheres até os palácios do poder, onde elas reivindicaram que Sarah Kubistchek assinasse um documento declarando a posse da bomba aos moradores do acampamento.
Esse simples exemplo de ação direta de trabalhadoras em Brasília foi retratado nos cinemas num curta-metragem dirigido por Armando Lacerda. ■

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