Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº6, Julho/Agosto/Setembro de 2023.
Antonio Galego
O assassinato pela polícia de um jovem de 17 anos de origem argelina, Nahel M., reascendeu uma onda de protesto na França. Os trabalhadores franceses e imigrantes que tomaram de conta das ruas e paralisaram setores estratégicos da economia no início do ano contra a reforma da previdência de Macron, retomam nos meses de junho e julho para denunciar o racismo e a violência policial.
Para se ter dimensão da revolta popular, entre a noite de 27 para 28 de junho e a de 3 para 4 de julho, houve oficialmente 12.031 veículos queimados, 2.508 prédios incendiados ou degradados, incluindo 273 instalações da polícia nacional, municipal e gendarmeria, 105 prefeituras incendiadas ou degradadas, 168 escolas atacadas. 722 policiais ficaram feridos. Os órgãos do Estado e da civilização burguesa não foram perdoados.
Frente a isso o governo publicamente pediu calma aos indignados e vocifera por “democracia” e justiça, mas por outro lado aprofunda a repressão para tentar calar a revolta. Houve uma caça às bruxas e 3.625 pessoas em todo o país (incluindo 1.124 menores) foram detidas. Além disso houve ameaças de limitar ou cortar o acesso às redes sociais com a desculpa de que postagens estariam incentivando a violência durante os protestos.
A revolta teve como a sua principal base os bairros periféricos e os jovens imigrantes. A rápida expansão e radicalização mostrou que a morte de Nahel foi o estopim de uma indignação de anos frente a incapacidade dos governos franceses ditos “progressistas” em garantir condições dignas de vida para as massas populares.
Além de apoiar a revolta na França, é fundamental entendermos que: 1) Os métodos de ação direta tem sido criminalizados lá e aqui como atos “terroristas” e “antidemocráticos”, isso é uma política internacional; 2) A criminalização tem sido acompanhada de medidas repressivas e de controle social, tal como a regulamentação das redes sociais; 3) Em 40 anos a polícia francesa matou 800 pessoas, em apenas um ano (2020) a polícia brasileira matou 6.424 pessoas. Ou seja, há pontos em comum e outros não. O fato é que povo brasileiro tem motivos de sobra pra seguir o exemplo francês. ■