Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº7, Outubro/Novembro/Dezembro de 2023.
Jiren D.
No final de julho de 2023, ocorreu um golpe de Estado no Níger, país da África Ocidental e ex-colônia francesa. O golpe depôs o presidente Mohamed Bazoum, um aliado do Ocidente, e foi orquestrado por membros da Guarda Nacional Presidencial. O general Mohamed Bazoum Tchiana proclamou-se líder da junta militar em pronunciamento televisivo, no qual citou a deterioração da situação de segurança e a má situação socioeconômica como os motivos da tomada do poder.
O golpe de Estado militar no Níger ocorreu em um contexto de instabilidade política na região da África Ocidental, que vem se agravando nos últimos anos. O golpe seguiu o modelo de outros golpes no continente, como os golpes de Estado na Guiné (2021), Mali (2021) e Burkina Faso (2022). Todos esses países eram ex-colônias francesas e sofreram golpes militares com narrativas similares, marcados por um sentimento de rejeição a Paris e ao Ocidente, bem como pelo aumento da influência russa.
Esses golpes mostram mudanças geopolíticas na África Ocidental, onde a instabilidade política e econômica favorece um sentimento anti-francês/ocidental. A Rússia está aproveitando essa oportunidade para aumentar sua influência na região, incluindo o treinamento de golpistas por mercenários do Grupo Wagner.
Os golpes na África, a guerra da Síria e a guerra na Ucrânia evidenciam um aumento da disputa imperialista entre China/Rússia e os EUA/UE/Otan por recursos e influência política pelo mundo. Nessa disputa, são as massas populares que sofrem e morrem, enquanto elites locais se beneficiam das disputas.
Uma das tarefas dos revolucionários e anarquistas é estar atento às mudanças de conjuntura internacional para ter ação política mais assertiva. Nossa estratégia fundamental é ter uma linha de ação classista internacional, para que possamos contrapor a disputa imperialista com a luta de classes.
Dois grandes exemplos são a revolução curda no contexto da guerra da Síria e a luta dos zapatistas no sul do México. Essas lutas, juntas com outras lutas de massas ao redor do mundo, poderiam no futuro construir um internacional das massas populares de verdade. Essa internacional seria capaz de orientar e disputar as massas populares nessas disputas geopolíticas pelo mundo todo. ■