100 anos da Revolução Paulista, da Coluna Prestes e da Comuna de Manaus

Publicada no Jornal O Amigo do Povo, nº10, Agosto/Setembro/Outubro de 2024.

Antonio Galego.

A “revolução esquecida” de 1924 foi uma revolta armada das médias e baixas patentes do Exército e da Força Pública, apoiada por camadas populares e pelo movimento operário paulista, contra o governo oligárquico-repressivo de Arthur Bernardes (1922-1926). Seu objetivo era derrubar o governo federal e efetivar mudanças políticas e sociais democráticas no país.

Os revolucionários tomaram São Paulo durante quase todo o mês de julho, onde também foram cercados e brutalmente bombardeados (especialmente os bairros operários). Uma testemunha contaria, décadas depois, que “Os aviadores tiveram ordem de jogar bombas no Brás; diziam que a italianada era a favor da revolução”. De fato, o movimento operário dirigido pelos anarquistas declarou apoio a revolta.

Cercados por 15.000 soldados do governo, os revolucionários abandonam São Paulo em 27 de julho. Em outubro do mesmo ano saía do Rio Grande do Sul a Coluna da Esperança liderada por Luís Carlos Prestes, para o encontro dos revolucionários paulistas.

Da-se início assim a longa marcha da Coluna Prestes pelo território brasileiro que duraria até 1927, percorrendo 25 mil quilômetros, 13 estados das regiões sul, sudeste, centro-oeste e nordeste (ver imagem acima), e não tendo sido jamais derrotada pelas forças militares governistas.

A Comuna de Manaus, por sua vez, foi outra insurreição militar articulada à revolta paulista, cujo estopim se dá em 23 de julho de 1924. A insurreição iniciada na capital do Amazonas ganha forte apoio popular e se expande inclusive para municípios do Pará. Além de medidas políticas, os revolucionários aplicam medidas sociais e nacionais: confisco de propriedades e fundos bancários das oligarquias, incluindo empresas inglesas. Apenas em 28 de agosto, com a ameaça de bombardeio de Manaus pelas tropas do governo, a revolta chega ao fim.

Todos esses movimentos ficaram conhecidos como “tenentistas”. O Tenentismo foi uma tradição local revolucionária e conspirativa com base na média e baixa oficialidade e praças do exército e da marinha, bem como numa nova relação Exército-Povo. A revolta armada era um fato fundamental, bem como a desobediência dos militares. É certo que possuía uma série de contradições em seu vago programa revolucionário “democrático”, desdobrando-se historicamente em posições à direita e à esquerda.

Por fim, fazendo um paralelo, a Revolta Dezembrista na Rússia protagonizada em 1825 por militares insurgidos contra o Czar, viria a ser uma importante fonte de inspiração e aprendizado para os movimentos sociais revolucionários russos nas décadas seguintes. Assim como eles, aprendamos (com erros e acertos) e nos inspiremos com a grandiosa história revolucionária do povo brasileiro! ■

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