Editorial | Não votar! As eleições municipais e as tarefas dos revolucionários

Editorial do Jornal O Amigo do Povo, nº10, Agosto/Setembro/Outubro de 2024.

Antonio Galego.

Apertem os cintos, o show de horrores vai começar! As eleições municipais são aquele momento onde partidos de direita e de esquerda escancaram o seu oportunismo eleitoral, deixando à mostra o que realmente perseguem: a participação no Estado burguês a qualquer custo. A lista do “vale tudo” é grande, mas dois elementos são centrais: as alianças e a violência política.

A primeira representa o abandono das máscaras e dos “princípios” que dizem defender. O PT aprovou se aliar ao PL “desde que apoiem a reeleição de Lula em 2026”. O PL, por sua vez, negou coligações com a esquerda. Porém, na prática, já foram registradas coligações entre PT e PL para essas eleições. Além disso, o PT comporá dezenas de alianças com partidos de direita e extrema-direita como MDB, PSD, União Brasil, Republicanos, PP, PSDB, etc. Até mesmo PSOL e UP se aliarão a partidos burgueses e de direita, a exemplo de Natal (RN).

Isso não significa de modo algum que as coligações “puras” entre partidos de esquerda (PT, PCdoB, PSOL, PSB, etc.) sejam exemplos de coerência. Na maioria dos casos apresentam programas burgueses “progressistas” que não mudarão em nada a realidade sofrida do povo, tal é o exemplo de Boulos (PSOL) em São Paulo.

A violência política, por outro lado, expõe a farsa da “festa da democracia”. Ao fim e ao cabo, a disputa pelo poder se resolve na violência. Nas últimas eleições municipais (2020) foram assassinados 85 candidatos em todo país. Nesse ano já houveram algumas mortes de pré-candidatos, mas a tendência é aumentar com a proximidade das eleições. Sabemos, no entanto, que os rios de sangue e suor do povo trabalhador é o verdadeiro butim dessa “guerra”.

Esse cenário de coligações e violências se mistura com uma contexto nacional onde o governo Lula-Alckmin aprofunda os ataques às massas populares, com uma política de austeridade que cortou (só em julho) 15 bilhões de setores sociais como Educação, Saúde, etc.e que vem atacando greves e reivindicações de trabalhadores públicos federais. Tudo isso orientado pelo Novo Teto de Gastos, marco do continuísmo neoliberal do governo Lula. Além disso, a aprovação do Novo Ensino Médio, do Marco Temporal, as privatizações de escolas e outros setores com apoio do BNDES, o apoio financeiro e político ao agronegócio, bem como a passividade criminosa do governo Lula frente aos ataques armados do latifúndio aos territórios indígenas e camponeses, em especial aos Guarani Kaiowá que resistem heroicamente nas retomadas em Douradina (MS), são exemplos que esvaziam política e ideologicamente o atual circo eleitoral e mostram o seu verdadeiro significado: a disputa entre setores burgueses “progressistas” e “conservadores” para a gestão do sistema de miséria e morte do nosso povo.

Todos esses fatos, em pleno contexto de eleições municipais, se somam a quase nula capacidade política das organizações populares e revolucionárias pelo interior do país. Esse raquitismo político é resultado de anos de uma estratégia eleitoreira da esquerda, de priorização dos grandes centros urbanos, que as burocracias sindicais e partidárias seguem à reboque. Confundem coeficiente eleitoral com Poder. A consequência tem sido o fortalecimento da extrema direita no interior, ligada a setores burgueses e latifundiários. Os fechamentos de estradas pós-eleições de 2022 e os ataques aos indígenas e camponeses pelas milícias “Invasão Zero”, são exemplos disso.

Hoje, todos os partidos, pequenos ou grandes, moderados ou “radicais”, que mobilizam as energias dos trabalhadores para o circo eleitoral, não fazem mais do que legitimar o sistema democrático burguês, um sistema ilegítimo e amaldiçoado corretamente por amplos setores do povo brasileiro! Por isso, o papel dos revolucionários hoje é duplo: romper com a política e com a estratégia dos setores eleitoreiros, assim como apresentar uma alternativa de organização e luta para as massas.

Politicamente, ao contrário dos esquerdistas e liberais que querem “moralizar a política”, é preciso aprofundar a crítica à farsa eleitoral, desmascarando os oportunistas de esquerda e de direita, aproveitando a sabedoria popular historicamente acumulada “contra os políticos e partidos” e elevá-la ao patamar de consciência de classe contra o Estado e o Capital.

Estrategicamente significa trabalhar mais e mais pela base. O interior e o campo são territórios estratégicos da revolução brasileira. As bases interioranas das organizações classistas e combativas devem ser exemplos de organização, qualidade dos quadros e de ligação com as massas.

Por fim, é preciso apresentar uma alternativa. Ainda que essa alternativa seja uma tarefa coletiva, que deve emanar do povo e se provar na prática, é possível definir algumas linhas gerais: 1º) a retomada da estratégia de mudanças sociais pela via da ação direta da classe trabalhadora em oposição ao parlamentarismo/reformismo; 2º) a derrubada das burocracias sindicais-populares e a reconquista pelos trabalhadores de suas organizações representativas; 3º) a expansão de um projeto de auto-organização profunda nas favelas, interiores, setores precarizados e economicamente importantes das massas populares. ■

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