Desastres do Capital: a crise ambiental que assola o globo

Publicada no Jornal O Amigo do Povo, nº11, Novembro/Dezembro de 2024.

Editora Grito do Povo

Foto: Moradores são resgatados de enchente em Canoas, no Rio Grande do Sul (maio de 2024)

Em 2024, o mundo enfrentou uma série de desastres climáticos extremos, exacerbados pela degradação ambiental e pelo aquecimento global. No Brasil, chuvas intensas no Rio Grande do Sul deixaram 180 mortos e danos de US$ 7 bilhões. A Alemanha e a Itália também foram duramente atingidas por enchentes, e na Ásia, terremotos afetaram Taiwan e Japão. Nos EUA, furacões causam grandes perdas, enquanto no leste da África, inundações afetaram milhares. A América Latina registrou um recorde de 67 desastres climáticos, e na Espanha, 89 pessoas estão desaparecidas após a maior enchente do século, com 219 mortes desde o mês passado. Em Santa Catarina, no Brasil, novas chuvas intensas causam estragos. Esses eventos mostram a ligação entre crises ambientais e modelos de desenvolvimento predatório capitalista que apontam para um futuro catastrófico.

A Conexão entre Crise Ambiental e os donos do Capital

A crise ambiental está principalmente ligada à expansão das fronteiras agrícolas, à mineração, à exploração de energia fóssil e à concentração urbana e industrial, impulsionada pelo modelo agroindustrial adotado. Os problemas ambientais são um reflexo direto do capitalismo, que com apoio do Estado, financia a degradação por meio de incentivos fiscais, empréstimos a juros baixos, flexibilização de leis e fiscalização e, principalmente, através do modo de produção capitalista. No Brasil, apesar dos desastres causados pela mineração, o agronegócio continua sendo o maior responsável pela degradação ambiental, recebendo grandes incentivos do governo. Em 2017, o governo Temer perdoou dívidas bilionárias do setor, e atualmente, o governo Lula liberou R$ 475 bilhões em crédito pelo plano Safra, dos quais a maioria foi destinada aos grandes latifundiários, enquanto os pequenos agricultores receberam apenas R$ 74,98 bilhões. Sendo que, somente a agricultura familiar, é responsável por 70% de todos os alimentos consumidos e produzidos no Brasil.

A decisão política de fortalecer a concentração de terras nas mãos dos grandes latifundiários resulta em prejuízos para trabalhadores rurais, indígenas, quilombolas e no aumento de assassinatos no campo. O fortalecimento do agronegócio implica o massacre da natureza e das populações que resistem. Medidas passadas como o Código Florestal, a ADI anti-quilombola, a PEC 215 e os projetos da Bancada Ruralista refletem uma ofensiva do capital sobre essas populações, muitas vezes alinhada aos interesses desenvolvimentistas do petismo e do expansionismo ruralista, como ficou explícito na nomeação de Kátia Abreu como ministra da Agricultura no governo Dilma.

Por outro lado, uma parte significativa das lideranças do campo e dos movimentos sociais acaba se aliando ao desenvolvimentismo ao defender a ilusão de um “desenvolvimento sustentável”, adotando o discurso demagógico difundido pela militância governista, que tenta apresentar a agenda desenvolvimentista como uma bandeira anti-imperialista.

Por um Caminho Alternativo a concepção capitalista e ocidental de progresso

O conceito de progresso no mundo ocidental é antropocêntrico, colocando o ser humano como dominador da natureza, em vez de parte dela. Isso gera a ilusão de que a humanidade controla a natureza, embora, na realidade, sejamos produtos dela, com “domínio” sobre uma fração ínfima de sua totalidade. Autores socialistas como Mikhail Bakunin e Murray Bookchin oferecem visões naturalistas que contrapõem esse mito liberal. No entanto, o que predomina, até mesmo à esquerda, é a reprodução desse antropocentrismo, como no economicismo de Marx, que vê o homem não como um produto da natureza, mas como um sujeito econômico, adaptação do “sujeito cultural linguístico” kantiano e influenciado pelos mitos Rousseaunianos que fundamentam o pensamento ocidental e sua concepção de progresso.

O verdadeiro progresso para os trabalhadores e a preservação do meio ambiente são impossíveis no capitalismo, que explora tanto o ser humano quanto a natureza e que só pode existir com o consumo desenfreado dos recursos naturais. Para construir um futuro em que a natureza e os povos coexistam, é essencial superar o capitalismo, reorganizar os movimentos de trabalhadores globalmente e romper com a visão de mundo perpetuada pelo capitalismo ocidental. Além disso, é necessário combater as ideologias liberais e aquelas à esquerda que defendem um desenvolvimento sustentável dentro do sistema capitalista, bem como os marxismos que ainda se apegam ao economicismo e à ideia suicida do desenvolvimentismo burguês. A mudança só será possível assumindo o poder com os oprimidos e criando novas utopias revolucionárias que, por meio da luta, do preparo e da ação, se transformem em utopias em realidade. ■

Revolução social contra a gestão destrutiva do capital!
Que Estado e capital sejam responsabilizados pelas perdas e destruição!

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