Publicada no Jornal O Amigo do Povo, nº11, Novembro/Dezembro de 2024.
Antonio Galego e Aurora
Os veículos de imprensa e a propaganda petista estão euforicamente divulgando o suposto recorde de trabalhadores ocupados no Brasil. Segundo os dados, o Brasil teria uma das menores taxas de desemprego da história. O que os desonestos do governo querem nos fazer crer é que nosso país está caminhando para o pleno emprego, que há avanços trabalhistas fenomenais. Seria essa realmente a nossa realidade?
Lembremos o que nos ensina a teoria econômica: quanto menor o desemprego na sociedade, menor é a força dos patrões para reduzir os salários. A tendência de uma sociedade com baixo desemprego é um maior poder de barganha do trabalhador frente ao patrão, pois tem mais e melhores opções de trabalho. Inversamente, a existência de um “exército de desempregados”, rebaixa os salários e piora as condições de trabalho, afinal há um contingente de trabalhadores prontos para substituir os insatisfeitos e ainda em piores condições. É aquele aprendizado que todo trabalhador sabe assim que ingressa no mercado de trabalho: “se você não aceitar esse salário e essas condições, tem uma fila que aceita”. Resumindo: muito desemprego = diminuição dos salários e direitos, pouco desemprego = melhorias salariais e de direitos.
Ora, todos nós que estamos no mercado de trabalho sabemos que as condições só tem piorado, os salários cada vez mais descolados das nossas reais necessidades, a jornada cada vez maior e mais abusiva, fora as demandas que ultrapassam o horário de trabalho (horas extras, xaropação em whatsaap, exigência de participar dos conteúdos digitais da empresa, etc). Se estamos caminhando para o “pleno emprego”, por que os trabalhadores brasileiros se encontram em tão péssimas condições salariais, de trabalho e de vida?
O que a propaganda petista não fala é o tipo de emprego que se tem criado nas últimas décadas: informal, com péssimas condições de trabalho, que correspondem a realidade de mais de 50% dos brasileiros. Segundo o IBGE a taxa de trabalhadores subutilizados é de quase 18%, bem diferente dos 6,4% divulgados. Ou seja, uma massa de trabalhadores pobres e informais seguem sendo um “exército de reserva” pressionando o mercado de trabalho ao rebaixamento de salários e direitos dos poucos setores assalariados ainda “formais” e integrados. Seria cômico, se não fosse trágico, considerar que o aumento exponencial de camelôs, motoristas de aplicativo, entregadores, trabalho intermitentes, free lancers, caracterize uma melhora da vida e das condições de existências dos trabalhadores do país.
Se por um lado essa divulgação da farsa do pleno emprego serve para agradar os devotos do “Santo Lula”, a massa trabalhadora sabe muito bem a realidade. Segue comendo o pão que o diabo amassou, em trabalhos adoecedores, aflitos diariamente com a possibilidade de não pagar as contas do mês.
Com o avanço da precarização, seja com a informalidade mas também da terceirização, a esquerda eleitoreira, restrita às camadas médias e integradas de trabalhadores, reproduz a política sindical mais corporativista, abandonando a organização e luta dos trabalhadores marginalizados, que vêem como uma ameaça aos seus direitos. Organizar esses trabalhadores seria “legitimar” a terceirização ou precarização. Alimentam ilusões em uma mudança da política governamental de “valorização do serviço público”, etc. Nada mais falso. Para os militantes classistas e combativos o caminho é muito diferente: enfrentar o avanço da precarização e superexploração do trabalho exige centralmente a organização e luta dos trabalhadores pobres e precarizados. O papel dos militantes classistas de setores integrados e sindicalizados é, além resistir sem rabo preso contra todos os ataques aos seus direitos (reformas neoliberais, cortes de gastos públicos, arrocho salarial, etc.), apoiar ao máximo a luta do proletariado marginal, dando toda a retaguarda necessária para atacar os patrões e governos no âmago de sua política burguesa: a exploração do trabalho, a precarização das condições de vida e a desmobilização dos marginalizados. ■