Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº13, Maio/Junho/Julho de 2025.
Érico.

Era cedo quando os moradores de sete bairros do município de Novo Gama (GO) interromperam a circulação de veículos numa importante rodovia que corta o município. No dia 28 de março de 2011, os trabalhadores que muito cedo levantavam para se dirigir ao serviço, se organizaram para efetuar um importante e prolongado protesto. A movimentação deu vazão a revolta acumulada de anos, devido ao desprezo dos governos municipal e estadual em relação à infraestrutura da rodovia GO-520 que liga bairros populares do município goiano ao Distrito Federal.
Somava-se a isso outra angústia dos moradores: as precárias condições do transporte público, monopolizado pela única empresa de transportes, a Viação Anapolina. As reivindicações eram a duplicação, asfaltamento e iluminação da rodovia, além da diminuição da tarifa paga no transporte público, à época 4 reais o trajeto da região dos bairros onde ocorreu o protesto, até a rodoviária do Plano Piloto de Brasília, há 48km de distância. O cumprimento dos horários corretos de circulação do transporte e melhoria geral nas condições dos ônibus também eram parte das reivindicações da comunidade.
Os trabalhadores começaram o protesto às 5h30 da manhã e foram encorajados por outros moradores dos bairros. As reclamações nos pontos de ônibus, na vizinhança e nos comércios, agora recebiam um desfecho prático e direto a partir da articulação e cobrança devida dos moradores.
Dez ônibus foram apedrejados e queimados, enquanto a truculenta PMGO chegou atirando para o alto e lançando bombas de efeito moral. A população revoltosa enfrentou a polícia, recebendo-a sob pedradas. Entre os moradores, seis foram presos acusados de vandalismo. O protesto terminou por volta das onze horas da manhã, tendo a população saído com algumas vitórias. Após receber líderes comunitários, a prefeitura iniciou, no ano seguinte (2012) as obras de duplicação e pavimentação da rodovia. O transporte público, porém, é ainda bastante precarizado e caro.
Relembrar esse episódio de revolta nos dá pistas dos caminhos necessários para enfrentar a precarização das condições básicas da vida em nossas periferias, e reforçar a necessidade das organizações nas esferas da vida social para alcançarmos as mudanças pelo povo desejadas. ■
