Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº13, Maio/Junho/Julho de 2025.
Guina.

A Rua 44, na região central da cidade — um importante polo têxtil —, onde existe grande concentração de trabalhadores ambulantes, volta a se tornar palco do embate entre o direito ao trabalho e as forças repressoras, defensoras do lucro dos patrões e do poder político da classe dominante.
Mudam-se os governos, mudam-se as alianças e os conchavos, mas permanecem inalterados os interesses estruturais das classes dominantes, fazendo parecer que a história se repete como tragédia e farsa.
O que devemos aprender com essa repetição é a clareza: existem interesses inconciliáveis entre as classes. O que as classes opressoras não conseguem cooptar, buscam proibir e exterminar.
Em outras metrópoles do Brasil não é diferente: as melhores respostas à opressão sempre foram a ação direta, combativa e coletiva, sem ilusões em representantes políticos, sem confiar na morosidade burocrática das vias institucionais que apenas servem ao capital.
Há alguns anos, durante uma importante mobilização dos ambulantes da região da 44, o movimento popular se deparou com uma escolha: seguir por uma via combativa ou se render à via moderada.
Na via moderada, a prefeitura condicionou que os ambulantes elegessem sete representantes para compor uma comissão de negociação com as autoridades. Tal medida conciliatória surgiu da dificuldade da Polícia Militar e da Guarda Municipal em reprimir a resistência popular, além do desgaste da imagem da prefeitura diante da brutalidade policial cada vez mais exposta pela imprensa.
A resistência direta, massiva, vinha sendo vitoriosa. Mas a prefeitura, afastando a luta das ruas para as mesas fechadas, subordinando a maioria à decisão de poucos, neutralizou a força coletiva.
A prefeitura prometeu criar uma feira no contraturno do comércio, concentrada em uma das ruas da região. Com os ambulantes domesticados e sem a pressão popular nas ruas, abandonou o projeto e traiu o acordo.
Essa experiência expõe os limites da via colaboracionista e ensina: sem mobilização popular permanente, não há conquistas duradouras.
Saber quando radicalizar é fundamental. Tão importante quanto criar conjuntura de pressão sobre as autoridades é manter o protagonismo coletivo acima de qualquer representação.
Para isso, é imprescindível construir bases sólidas de mobilização: assembleias, pequenos coletivos, redes de solidariedade entre ambulantes, jornais populares e ferramentas de organização autônoma.
Esse é o dever dos revolucionários: ajudar o povo na grande tarefa da auto-organização e da construção da sua força social para avançar na luta! ■