
Comunicado nº5 do Grupo Libertação Popular – GLP, Brasil, agosto de 2025.
Contato: glp.nacional@inventati.org
A chantagem tarifária de Trump ao Brasil (e a dezenas de outros países) se vincula a dois fatores da conjuntura nacional: 1º) a prisão de Bolsonaro e o acirramento das disputas no interior do Estado burguês; 2º) o aprofundamento da crise social, da superexploração e da dependência brasileira. Até agora a “guerra comercial” foi favorável a popularidade do governo burguês de Lula-Alckmin. O Lulismo encontrou uma nova bandeira, a defesa da “soberania nacional”, e a chance de vinculá-la contra o Bolsonarismo. A partir dessas ideologias o governo tem agido para representar os interesses da burguesia brasileira (agrária, industrial, mineradora, etc.) frente ao tarifaço e a crise política interna, aumentando a coesão burguesa e a “frente ampla”.
Por outro lado, ao apoiar e ser apoiada abertamente pelo imperialismo dos EUA, a política Bolsonarista expõe o seu caráter entreguista de submissão nacional e renova o enfrentamento contra os poderes da república burguesa, em especial ao Governo e ao STF. Age em nome de seus próprios interesses eleitorais, de frações burguesas e da estratégia da extrema direita latino-americana de submissão total aos EUA frente às disputas com a China. Apesar da prisão de Bolsonaro e da diminuição da capacidade de mobilização do bolsonarismo, tudo indica que seguirá sendo uma força importante na direita, pautando a polarização com o Lulismo.
As rusgas no interior do Estado burguês envolvendo o governo Lula, o tarifaço, a oposição bolsonarista, o STF, etc. são expressões dos interesses de diferentes setores das classes dominantes. Enquanto isso, o trabalhador brasileiro segue comendo o pão que o diabo amassou, sem nenhuma alternativa visível para o aprofundamento da superexploração, a rapina e destruição da natureza (com a expansão da fronteira agrícola e mineral), a precarização das condições de vida (saúde, moradia, transporte, etc.) e a violência contra o povo. Lulismo e Bolsonarismo, EUA e China, disputam o suor, o sangue e as riquezas do povo brasileiro.
O “plebiscito popular” e a impotência das burocracias sindicais e partidárias
Com a queda de popularidade do governo Lula no 1º semestre, e reagindo à disputas entre o Executivo e o Congresso, as burocracias sindicais e partidárias (Frente Povo Sem Medo e Frente Brasil Popular) iniciaram em julho um Plebiscito contra o Congresso, pela taxação dos super-ricos e contra a escala 6×1. Apesar da bandeira histórica de redução da jornada, o Plebiscito (e algumas ações de rua e agitação virtual) se demonstrou uma farsa, um lobby parlamentar e eleitoreiro, e, por isso mesmo, desvinculado das bases trabalhadoras.
Com o ataque comercial de Trump e as ações bolsonaristas, os lulistas mudaram subitamente as bandeiras, saíram as ruas em defesa das exportações dos “super-ricos” para os EUA (em nome da soberania nacional), e, com o bloqueio da mesa da Câmara por deputados bolsonaristas, chamaram um ato no dia 06 de agosto “O Congresso é do povo” (sic!). O certo é que o discurso de “pobres contra ricos” não passou de charlatanismo com os olhos em 2026. Todos os atos da esquerda no último mês demonstraram a sua impotência e incapacidade de mobilização.
Pior que isso, as Centrais lideram hoje a capitulação à burguesia brasileira. No dia 16 de julho as burocracias sindicais (CUT, CTB, Força Sindical, UGT, CSB e NCST) apresentaram, em reunião conjunta com o Governo Lula e empresários exportadores, o documento “Propostas das Centrais Sindicais diante da Guerra Comercial: Soberania, Emprego e Desenvolvimento” e selaram um pacto de capitulação em prol do desenvolvimento capitalista nacional, para salvar os patrões. Assim, o contexto de emergência comercial e as ações bolsonaristas melhoram a popularidade de Lula e o livram ainda mais de qualquer responsabilidade com “plebiscito” ou medidas “sociais”, com a total anuência das Centrais.
O imperialismo dos EUA e o social-entreguismo do governo Lula
Como disso Lênin, “o imperialismo é a fase superior do capitalismo”. Não é fruto da ação conjuntural de um governo X ou Y, é essencialmente um sistema de exportação de capitais dos países do centro para a periferia. Na origem da exportação de capitais está a necessidade de aumentar a taxa de lucro através da superexploração do trabalho e apropriação de recurso naturais nas periferias. O desenvolvimento do capitalismo levou a formação dos grandes bancos e empresas e sua representação pelos Estados nacionais, concentrando o capital e centralizando o poder em escala mundial. A concorrência entre as burguesias imperiais levou às Guerras Mundiais no século XX.
O que acontece hoje na América Latina e no Brasil é um acirramento da concorrência imperialista entre EUA e China. A dominação imperialista da região tem no Brasil um país estratégico. Apesar de sua submissão inconteste aos EUA, a política do governo Lula em relação ao BRICS, a defesa da desdolarização, a expectativa de construção da ferrovia bioceânica, a presença do capital chinês na economia brasileira e latino-americana é uma grande preocupação do imperialismo estadunidense.
Mas a existência de um entreguista aberto e suicida não dignifica o lulismo. O governo Lula, apesar de “resistir” à ingerência de Trump na esfera jurídico-política (como uma necessidade vital de estratégia eleitoral), cede e concilia de mil maneiras no nível comercial e econômico (big techs, terras raras, etc.), se apoiando nos interesses de uma burguesia brasileira dependente e associada ao imperialismo, e com o apoio das burocracias sindicais. O discurso hipócrita de “soberania nacional” do Lulismo e seus asseclas em nenhum momento toca nas bases fundamentais da Dependência: a superexploração do trabalho e a rapina de recursos naturais (como o petróleo, minérios, terras, etc.) pelas empresas multinacionais, aprofundadas pelas privatizações, ajustes fiscais e demais políticas neoliberais levadas a cabo por todos os últimos governos, de direita e de esquerda.
Durante a I Guerra Mundial, a capitulação dos partidos social-democratas europeus ao “social-chauvinismo”, ou seja, à política de apoiar seus Estados e burguesias imperialistas em nome da “soberania nacional”, levou a destruição da II Internacional. Naquele período, a política revolucionária de independência de classe, defendida por uma oposição revolucionária de comunistas e anarquistas, ganhou as massas e saiu vitoriosa com a revolução russa. Hoje no Brasil a degeneração política do Lulismo e das burocracias sindicais é, na forma e no conteúdo, um Social-entreguismo! Em nome da ideologia de “soberania nacional” o governo Lula acelera na prática os principais mecanismos da Dependência e da exploração contra o povo brasileiro.
Prisão de Bolsonaro e possível impeachment de Moraes, e daí?
Na crise interna, duas hienas da política nacional estão ameaçadas: o ex-presidente Jair Bolsonaro, já condenado a prisão domiciliar, e o ministro Alexandre de Moraes, ameaçado com um possível processo de impeachment pela oposição bolsonarista. Apesar de serem tratados como heróis por cada extremo da política burguesa, ambos merecem o profundo desprezo das massas, como inimigos do povo que são.
Frente aos grandes desafios do nosso povo, tais disputas são uma “cortina de fumaça” para requentar a polarização entre Lulismo x Bolsonarismo. Elas não garantem em nada que o futuro será “menos pior”. Assim, a crise política que se aprofunda não deve levar os trabalhadores e os militantes classistas a atuarem como torcida. A crise entre os poderosos é muito bem vinda, mas apenas se for usado pelas organizações e militantes classistas para reforçar e radicalizar as suas próprias lutas e reivindicações populares.
Uma via classista e combativa para as lutas do povo brasileiro
É preciso romper com as ilusões de Lulistas e Bolsonaristas. São arapucas para a manutenção da velha ordem que explora e oprime o nosso povo. A construção de uma Nação autônoma, igualitária, com uma vida digna e livre para todos, que é o verdadeiro ideal e anseio do povo brasileiro, só será alcançada por uma Revolução Social, ou seja, por um movimento insurrecional das massas populares que destrua todas as formas de exploração e opressão do Sistema Capitalista e Imperialista. A luta será dura para derrotar as Classes Dominantes nacionais e estrangeiras. Mas não existe atalho. O “jeitinho” dos Oportunistas e covardes nós já sabemos aonde leva. A tomada do Poder pelo povo trabalhador e a construção do Socialismo no Brasil abrirão uma nova era para a nossa Nação e para as lutas de libertação em todo o mundo.
Mas essa Revolução é o objetivo final, consciente, de uma luta que já começou. As lutas do povo brasileiro para melhorar sua vida, das mais pequenas até as maiores, com greves, revoltas, ocupações, redes de apoio, etc. são a semente, o embrião, desse Ideal sagrado de libertação e revolução. Mas para o embrião se desenvolver, para a semente brotar e crescer, as lutas e organizações populares precisam ter independência das classes dominantes (nacionais ou estrangeiras), ou seja, não podem servir de massa de manobra nas disputas políticas e comerciais dessas classes. Por isso os revolucionários são como parteiras, ou jardineiros, da Libertação Popular.
Hoje, diante da crise brasileira, os revolucionários e lutadores do povo devem lutar ferreamente para os trabalhadores e suas organizações não servirem, sob o pretexto de defender a “democracia” ou a “soberania” em abstrato, de bucha de canhão aos interesses burgueses, de lucros e votos. Mas é necessário uma linha de ação concreta. Em oposição aos “planos de emergência” das classes dominantes, prepararemos desde as bases um verdadeiro plano de emergência popular e proletário. Diante do tarifaço de Trump e da ofensiva imperialista afirmamos: Que os patrões paguem pela crise! Combater toda e qualquer negociação de nossas riquezas nacionais; lutar contra demissões ou flexibilização de direitos; nenhum dinheiro público às empresas afetadas; nenhum aumento de preços; pela construção de comitês de apoio aos trabalhadores atingidos; Por uma política classista e internacionalista: todo apoio a luta das massas trabalhadoras dos EUA, América Latina e de todo o mundo contra o imperialismo e suas burguesia nacionais! Diante da polarização entre Lulismo e Bolsonarismo: nenhum apoio a qualquer bloco burguês; impulsionar a ação direta e a organização das massas pelas suas reivindicações materiais (terra, trabalho, salário, saúde, paz, etc.) e contra as políticas neoliberais e repressivas de caráter nacional.
Que os patrões paguem pela crise! Nenhum direito a menos!
Avante a ação direta por terra, trabalho, paz e por uma vida digna!