Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº14, Agosto/Setembro/Outubro de 2025.
Jiren D.

A crise econômica, os cortes de direitos, a carestia dos alimentos, o aluguel alto, o desemprego e a precariedade de vida causados pelo neoliberalismo jogam diariamente as massas populares no desespero da sobrevivência. Diante dessa miséria cotidiana, o povo, desorganizado e abandonado, tem buscado onde pode alguma forma de resistência e suporte — nas igrejas, nos partidos, nas ONGs, ou mesmo nos aparatos mínimos do Estado. São tentativas de garantir o básico: uma cesta básica, um auxílio emergencial, um psicólogo gratuito, uma creche para deixar o filho, uma passagem, um favor qualquer para não sucumbir.
Nas periferias, o crescimento vertiginoso das igrejas evangélicas se explica muito menos por questões teológicas e muito mais por sua função social direta. É na igreja que se consegue uma indicação de emprego, um pacote de arroz, um ombro amigo. O pastor assume, para muitos, o lugar do psicólogo, do conselheiro, do irmão. Isso não se dá por acaso — preenche um vazio, o vácuo deixado pela ausência de um projeto de organização popular real e cotidiano.
No entanto, esse papel de apoio direto às massas já foi cumprido, em outros momentos históricos, pelos próprios movimentos socialistas e revolucionários. O avanço do movimento operário no século XIX só foi possível porque se enraizou na vida concreta da classe trabalhadora. Inspirado nas ideias mutualistas de Joseph Proudhon, o proletariado organizava sociedades de apoio mútuo, criava caixas de solidariedade para grevistas, fundava creches operárias, escolas populares, cooperativas de produção e consumo. Foi a força dessas práticas de apoio mútuo que sustentou greves, ocupações e a própria cultura política da classe.
Essas experiências foram tão fortes que o Estado burguês foi forçado a copiá-las, criando suas estruturas previdenciárias e assistencialistas para conter o impulso autônomo do povo. Não por generosidade, mas para impedir que o povo construísse suas próprias soluções.
Hoje, com o povo jogado na miséria, com a esquerda institucional mergulhada em disputas eleitorais e dogmatismos acadêmicos, o retorno ao apoio mútuo não é uma nostalgia, mas uma necessidade. É preciso recomeçar do começo: IR AO POVO. Precisamos construir redes de apoio mútuo enraizadas nas realidades concretas das categorias precarizadas e dos bairros periféricos. Essas redes devem garantir alimentos, apoio psicológico, creches populares, formação política, geração de renda através de cooperativas, atendimento jurídico, espaços culturais autônomos.
O apoio mútuo não é caridade, é ferramenta de organização. Não é só ajuda, é construção coletiva. É a base material para formar confiança, para reerguer a dignidade e construir laços sólidos de comunidade. Quando uma rede de apoio ajuda um trabalhador desempregado com alimentos e escuta, ela abre espaço para diálogo, organização e luta. Quando uma cooperativa de bairro começa a funcionar com autogestão, ela ensina que não precisamos de patrões para produzir. Quando um espaço autônomo acolhe crianças com afeto e educação crítica, estamos formando novas gerações de lutadores populares.
Se quisermos fazer frente à influência do assistencialismo religioso, das ONGs de fachada e dos partidos que só aparecem em época de eleição, é preciso retomar o caminho da ação direta. Um caminho onde o povo constrói com suas próprias mãos as soluções para seus problemas. Assim como os zapatistas em Chiapas no México, que construíram redes autônomas de saúde, educação e produção sob a lógica do apoio mútuo, ou como os anarquistas gregos que, em plena crise de 2008, organizaram ocupações que acolhem imigrantes e oferecem comida, escola e abrigo, também nós, no Brasil, devemos construir a autonomia a partir do apoio mútuo, essas ações mutualistas independentes devem ser fundidas à luta reivindicativa combativa e independente e essa união pode ser uma forma de reconstruir a organização de base das massas populares com a cara e o jeito das massas populares do Brasil, se afastando do doutrinarismo burguês e da polarização burguesa de Lula e Bolsonaro e se centrando na método materialista de mobilização. ■
Pela construção de redes de apoio mútuo nos bairros populares!
Pela organização de rede solidarias em categorias precarizadas!
Por uma ação direta que una solidariedade e luta reivindicativa!
Vamos às favelas, aos bairros, às ocupações, aos becos e vielas. Vamos construir com o povo, e não apenas para o povo…