Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº14, Agosto/Setembro/Outubro de 2025.
Antonio Galego.

Desde outubro de 2023 o Estado sionista de Israel (patrocinado pelos EUA) já assassinou mais de 60 mil palestinos em Gaza, com bombardeios, tiros, estupros, torturas, e crescem as mortes por inanição. Porém, segundo um relatório da Harvard Dataverse de junho de 2025, pelo menos 377 mil pessoas foram “desaparecidas”. Ou seja, o número de mortos pode ser várias vezes maior do que o oficial.
A cumplicidade das classes dominantes, no mundo e no Brasil
Os Estados e classes dominantes no mundo, para além de simbolismos “humanitários” (com doses de marketing) incapazes em parar a máquina diabólica nazi-sionista, mantém uma postura cúmplice ou auxiliar do genocídio que nunca deve ser esquecida. O Brasil, através do governo de Lula, é um caso exemplar.
Em 2024, Lula denunciou o genocídio em Gaza. No entanto, o Brasil segue normalmente as relações econômicas, militares e diplomáticas com o regime genocida. O Brasil é hoje o 12º maior parceiro comercial de Israel e o 2º maior do continente americano, atrás apenas dos EUA. O petróleo é o principal produto exportado, representando 30%. Além disso, importamos diversos produtos de Israel: agrotóxicos, aviões, armas, etc. Tudo isso é um alimento para a máquina de guerra que mata em Gaza.
Ação direta proletária, a mais eficaz arma contra a guerra
Ações contra a guerra têm ocorrido no mundo inteiro. Passeatas, boicotes, propaganda nas ruas, acampamentos estudantis, ajuda humanitária. Apesar de sua importância, a maioria delas têm a limitação de ficar no campo simbólico, de conscientização e de pressão indireta para os governos fazerem algo, romperem com Israel, etc. No Brasil, com a inalteração da política oportunista de Lula tais ações demonstram suas tristes limitações. Para dar um passo a frente é preciso voltar à luta de classes.
Apesar de produzir toda a riqueza e, portanto, ter o poder de pará-la, o proletariado tem tido pouco protagonismo na luta a partir de seu terreno (locais de produção e circulação de mercadorias) e de seus próprios métodos de ação. Mas isso está mudando. Cresce nos últimos meses a ação direta proletária anti-sionista pelo mundo. Em setembro de 2024, organizações sindicais (especialmente a CGT) convocaram uma greve nacional em solidariedade ao povo palestino. No dia 6 de junho de 2025, trabalhadores portuários franceses se recusaram a carregar um navio com munição para Israel. Em julho, portuários gregos também recusaram-se. Na Itália, portuários impediram no início de agosto o carregamento de navios para o genocídio.
Algumas dessas iniciativas estão organizadas pela recém-criada Coordenação Internacional de Estivadores, sob o lema: “abaixem as armas, aumentem os salários!”. Estivadores da Grécia, Itália, França, Turquia e Marrocos compõem a rede, com atuação estratégica no Mar Mediterrâneo e com a eficácia de parar a logística de guerra pela ação direta. É o internacionalismo proletário em ação, uma faísca de esperança em meio a crise internacional do proletariado e do socialismo revolucionário.
No Brasil, as burocracias sindicais mantém uma política similar ao governo, de condenação simbólica da guerra, de críticas abstratas ao imperialismo. Não mobilizam pras ruas nem pra greves, se restringem às notas de repúdio. Isso mostra a ligação entre diferentes tarefas: 1) reorganização nacional dos trabalhadores, varrendo as burocracias lulistas; 2) política classista e internacionalista baseada na ação direta proletária; 3) Organização de vanguarda classista e sua inserção nos setores estratégicos do proletariado. Isso será vital, não apenas pra enfrentar essa guerra, mas as próximas que virão. ■