
Comunicado nº6 do Grupo Libertação Popular – GLP, Brasil, novembro de 2025.
Contato: glp.nacional@inventati.org
Aos militantes do movimento sindical, estudantil, operário e camponês; A juventude, as mulheres trabalhadoras, ao povo oprimido, negro e indígena; Aos sinceros lutadores do povo, em partidos, sindicatos, cooperativas e demais entidades; Ao bravo povo brasileiro de forma geral.
Escrevemos esse texto com o objetivo de contribuir para um diálogo coletivo sobre os rumos do movimento de massas no Brasil, a participação dos setores classistas e combativos na CSP-Conlutas (Central Sindical e Popular – Conlutas) e sobre o papel dessa central na atual conjuntura.
Já estamos chegando ao final do governo burguês de Lula-Alckmin e, apesar de toda demagogia, a política econômica ultraliberal segue intacta, aprofundando a superexploração, a repressão, as privatizações e a dependência externa. Alguns salivam e se desesperam vendo o cenário perfeito para insistir no erro da “importância eleitoral” de 2026. Para nós, urge a necessidade de construir desde já um forte instrumento de luta da classe trabalhadora brasileira pautado pela independência de classe, ação direta e democracia operária, só possível sobre os escombros da velha política lulista, aburguesada e eleitoreira.
A origem da CSP-Conlutas e a intervenção classista e combativa
Desde o nascimento da Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas) em 2004, passando pelo seu 1º Congresso em 2006, pela fundação da Assembleia Nacional de Estudantes Livre (ANEL) em 2009, por uma série de encontros e lutas nacionais antigovernistas, os setores classistas e combativos (que nós construímos) defenderam e disputaram os rumos dessa entidade. No congresso da Central em 2010, a mudança de nome, de Conlutas para CSP-Conlutas, foi a marca de mudanças muito mais profundas na política e estrutura da central, frutos dos acordos de cúpula entre PSTU e PSOL. Diante disso alguns setores classistas e combativos saíram da central.
A nossa crítica se pautava no abandono do projeto inicial da Conlutas de ruptura com o governismo, denunciávamos os setores majoritários (PSTU e PSOL) de levarem a cabo uma política “paragovernista”, ou seja, apesar de se afirmarem na oposição ao governismo sindical-popular e ao governo do PT, por suas políticas eleitoreiras e burocráticas não levavam a ruptura com o governismo até as últimas consequências, ao contrário, reforçavam ele, socorrendo-o quando ele já estava em crise profunda. O maior exemplo foi na revolta de junho de 2013, mas isso já se verificava em dezenas de casos.
A nossa saída não foi principista. Tínhamos plena consciência desde o início da política reformista do PSTU e PSOL, dos limites e desafios gigantescos para a Conlutas se constituir como polo de reorganização da classe, alvo de nossas análises desde sempre. Por isso mesmo constituímos na época um bloco revolucionário para disputar a entidade. Por isso a nossa saída não teve qualquer relação “ideológica” ou “principista” com o fato do PSTU ou PSOL disputarem as eleições, serem trotskistas ou qualquer coisa parecida. O que definiu a entrada e a saída dos setores classistas-revolucionários foi a análise concreta sobre o papel daquele instrumento organizativo na luta de classes no Brasil.
Em um momento inicial (2004-2009) a Conlutas teve um papel extremamente positivo, sendo fruto e ao mesmo tempo impulsionando o maior processo de massas de ruptura e oposição ao governismo no movimento sindical, popular e estudantil (especialmente CUT e UNE). Num momento posterior o PSTU começou a sabotar esse processo, recuando politicamente, atropelando os setores mais combativos e minoritários, em nome da incorporação a qualquer custo do PSOL/Intersindical dentro da Conlutas. O objetivo era transformar a Conlutas numa correia de transmissão da “Frente de Esquerda” (PSTU, PSOL e PCB), copiando a relação dos demais partidos com “suas” centrais (PT em relação à CUT, PCdoB em relação à CTB, etc.). Recuavam também para disputar as bases do PSOL para o PSTU. O maior exemplo desse giro à direita (paragovernista e oportunista) foi a posição do PSTU/CSP-Conlutas na revolta de junho de 2013, e as consequências severas foram exatamente o oposto daquelas perseguidas, levando a extinção da ANEL, as rupturas à direita no PSTU que foram para o PSOL (em especial com formação da corrente “Resistência” do PSOL), e o consequente enfraquecimento da CSP-Conlutas.
Assim, o enfraquecimento e isolamento relativo da CSP-Conlutas na conjuntura pós-2013 (que debateremos mais à frente) não foi causada pela posição do PSTU frente ao impeachment de Dilma, defendendo o “Fora todos” e criticando a narrativa de “golpe”. Isso é uma análise superficial, especialmente defendida pelos que confundem a reorganização das massas trabalhadoras do Brasil com disputar o que restou dos aparatos em crise da burocracia sindical e partidária (CUT, CTB, UNE, PT, PCdoB, etc.). O ponto de inflexão no refluxo da CSP-Conlutas foi a política expressa “teoricamente” no Congresso de 2010 e na “prática” na Revolta Popular de Junho de 2013, ou seja, no papel que uma Central classista de abrangência nacional poderia cumprir e não cumpriu no maior levante popular pós-redemocratização, devido aos compromissos e limites político-ideológicos (eleitoralismo e burocratismo) do setor majoritário.
Qual a situação política atual e qual papel pode cumprir a CSP-Conlutas?
Alguns elementos da atual conjuntura política podem ser resumidos aqui: 1º) a esquerda lulista aproveita eleitoralmente a situação de prisão de Bolsonaro e taxação de Trump; 2º) se aprofunda a divisão da direita com a política entreguista e ultra-ideológica do bolsonarismo; 3º) frente a taxação de Trump aumenta a coesão momentânea de frações burguesas, da direita e da esquerda (mesmo a “radical”), em torno do Lulismo; 4º) dificuldade da direita encontrar um novo nome que a unifique politicamente; 5º) as esquerdas “radicais” (PSTU, PSOL, UP, PCB, PCBR) se submetem novamente à agenda Lulista em torno da “luta contra o Congresso” e pela “Soberania”, ou seja, saem mais uma vez como apoiadoras do governo em crise; 6º) apesar da impossibilidade de aceitar na íntegra a chantagem de Trump, existe clara disposição para negociar e conciliar um acordo “menos pior” pró-imperialismo; 7º) o aprofundamento da crise social, da superexploração e da dependência brasileira.
Mas essa tendência política de favorecimento do Lulismo tem limites. A curto prazo: apesar da prisão de Bolsonaro, o bolsonarismo ainda possui força política, com bases sociais nas elites religiosas, na pequena-burguesia, setores do capital e das forças armadas. Além disso o Bolsonarismo conta com várias lideranças políticas de direita e extrema direita disputando o “pódio”. Essa base, ainda que na defensiva, segue mobilizada e renovando o discurso “contra as instituições” e “antissistema” que tem apoio popular. Outro elemento central da conjuntura, que age no subterrâneo das relações político-sociais mas com uma potência muito forte, é a manutenção da superexploração e da precarização da classe trabalhadora, é o principal fator da luta de classes nacional, comum ao projeto neoliberal da direita e da esquerda, e que representa o foco de qualquer ação classista e revolucionária.
No médio prazo o cenário é bem pior, “catastrófico” para a estratégia política do PT. Desde a redemocratização a construção do PT se dá em torno à redução parlamentar e eleitoreira da política, bem como de reforço do personalismo de Lula. Com a impossibilidade de Lula concorrer às eleições de 2030 (ou perder em 2026), e a incapacidade flagrante do PT em formar novas lideranças e reconstituir suas bases sociais, existe uma tendência muito forte de implosão do PT, não necessariamente levando ao fim do PT, mas a sua adequação ainda maior à ordem burguesa como partido tradicional e à rupturas nas suas já parcas bases partidárias, sindicais e populares. Por toda a importância do PT e de Lula na política nacional, os militantes classista e revolucionários devem se preparar para intervir nesse novo ciclo.
Por sua vez, as organizações de esquerda, reformistas ou revolucionárias, tem se afundado em confusões e rachas decorrentes da posição frente a política do PT. A raiz da crise e ruptura nas esquerdas é concreta: vivem à reboque e das migalhas do PT, não possuem independência real, não apenas política ou ideológica, mas de base social. Na medida em que a política lulista renega a organização e luta de massas, substituindo-as pelo mais podre eleitoralismo e personalismo burgueses, as demais esquerdas perdem junto com o PT uma base orgânica de massas. Por isso se torna vital o apoio dos revolucionários aos polos organizativos independentes, transitórios ou permanentes, tal como os “fóruns de luta”, “oposições unificadas”, mas em especial o fortalecimento nacional da CSP-Conlutas. Deve-se enfrentar em todos esses espaços as contradições e limitações inevitáveis com uma política própria, classista e combativa. Mas a política revolucionária tampouco pode se restringir a esses espaços.
Como foi dito, a tendência política no médio prazo é a decadência final do lulismo. Esse será o pano de fundo das disputas no curto-médio prazo, tanto na esquerda quanto na direita. Os militantes classistas e combativos devem saber intervir nesse contexto de crise política, não para renovar a estratégia reformista e eleitoreira, mas para destruí-la através de uma intensa luta ideológica. A política de renovação do oportunismo (que se apresenta como “renovação da esquerda”) é em maior ou menor grau reproduzida pelo PCBR, UP, PSTU, PCB, setores à esquerda do PT, PCdoB e PSOL. Não rompem com a teoria e a prática que levaram à degeneração do Lulismo, mas querem se reposicionar/diferenciar para “ocupar o vazio” que se abrirá (e que já vem se abrindo com o horizonte de fim eleitoral de Lula).
Essa política de renovação do oportunismo se manifestará nos processos de reorganização do movimento sindical e popular brasileiro. Hoje uma grande parte das lutas já não tem uma participação decisiva das velhas burocracias do PT, PCdoB, CUT, MST, MTST, UNE, etc. Há um notório afastamento da esquerda eleitoral da base trabalhadora e suas lutas. As últimas movimentações (greve de apps, resistência indígena, luta de ambulantes, ocupação e greves no Pará, 1º de maio, greves do serviço público, lutas nas favelas, ocupações de terra e de moradia, etc.) tem cada vez uma participação maior de organizações locais, informais, novas, inexperientes e independentes. Boa parte dessas lutas “espontâneas” tem uma grande dificuldade de nacionalização e, principalmente, dificuldade de formação de uma nova vanguarda com um grau de consciência estratégica e programática mais ampla, ou seja, de um Projeto Histórico que vá além dos limites do pragmatismo, imediatismo e corporativismo. Assim, essas lideranças populares locais, por mais “independentes” que sejam, diante de um conjuntura de refluxo, ao não avançarem num sentido revolucionário acabam retrocedendo e sendo cooptadas por Projetos burgueses do lulismo, bolsonarismo ou “terceiras vias” à direita e à esquerda.
Assim, a principal importância da crise do lulismo não é abrir a possibilidade de disputar “à esquerda” as suas velhas burocracias. Essa é a expectativa errada da maioria da esquerda reformista “radical” que vive na cauda do PT. Para nós a crise do lulismo debilitará (ou mesmo implodirá) o maior instrumento de controle da classe trabalhadora brasileira desde a redemocratização, gerando um contexto político favorável às novas movimentações e a reorganização das massas populares. Afrouxar a camisa de forças do petismo poderá favorecer as forças renovadoras das lutas e organizações populares. Mas isso precisa ser disputado corretamente. Ainda que os militantes oriundos da esquerda tradicional possam ser incorporados, a principal tarefa dos revolucionários é ir ao povo e se dedicar arduamente na formação de novos militantes e organizações de massas.
Essa conjuntura está diretamente relacionada com a situação da CSP-Conlutas. Nos últimos anos a central teve uma série de rupturas à direita e à esquerda (em especial das correntes do PSOL, setores independentes, anarquistas, etc.) e entidades importantes como MTST, ANDES e SINASEFE, mas também de outros. Lembremos que foi dentro da CSP-Conlutas que o MTST fez o Pinheirinho e se nacionalizou. Todas as rupturas à direita se deram pressionadas pela polarização eleitoral, de setores que saíram de mala e cuia para o Lulismo. Vale lembrar que em algumas entidades, como o SINASEFE, setores “libertários” e “autonomistas” erroneamente se aliaram aos governistas do PT, PSOL e Internsindical para combater a CSP-Conlutas. Esse contexto de rachas à direita levou a vários graus de desestruturação da central em várias localidades, especialmente porque foi nas alianças com esse setor reformista à direita que o PSTU apostou suas fichas para o desenvolvimento da Central. Por outro lado, mais recentemente houve um crescimento da CSP-Conlutas no campo, com a filiação de movimentos camponeses, sindicatos de trabalhadores rurais, movimento indígena e quilombola.
O que ficou claro tanto nos casos específicos (ANDES, SINASEFE, MTST, etc.) como no cenário sindical nacional é que o enfraquecimento da CSP-Conlutas fortaleceu direta ou indiretamente o governismo lulista (CUT, CTB, UNE, PT, PCdoB, PSOL), e não uma outra alternativa combativa de reorganização, como apostávamos as organizações classistas e combativas. Na prática, o que se enfraqueceu foi um importante polo de aglutinação antigovernista da classe trabalhadora, e isso tem cobrado um preço alto a todos os lutadores do povo e às lutas sociais.
O 5º Congresso Nacional da CSP-Conlutas em 2023 expressou esse enfraquecimento relativo, sendo menor do que os anteriores. Ao todo foram 1.561 participantes entre delegados e observadores. O 4º Congresso em 2019, antes da pandemia, teve a participação de 2.300 pessoas. Nós do Grupo Libertação Popular (GLP) participamos do 5º Congresso como observadores, momento em que pudemos analisar mais profundamente os limites e potenciais da central, conversar com diferentes organizações, incluindo internacionais como a CGT espanhola e Solidaires francesa.
No 5º Congresso a CSP-Conlutas permaneceu sob a direção majoritária do PSTU, através do Bloco Operário e Popular. Outras organizações como CST/Combate, MRT/Nossa Classe, RS/Unidos pra Lutar (PSOL), POR, ART, LBI, MRS, Comuna Pachamama, OSL, CAB, etc. estiveram presentes no congresso. Também estavam presentes uma variedade de delegações sindicais, estudantis, indígenas, quilombolas, de favelas, de luta por moradia, camponesas, sindicatos operários, de funcionários públicos, além de uma grande quantidade de oposições. Existia uma diversidade de frações de classe, categorias, tipos de organização e pautas de luta que iam muito além do sindicalismo burocrático hegemônico.
Apesar de todas as dificuldades, desde o início do governo Lula-Alckmin (e mesmo antes dele), a existência de um movimento sindical-popular independente do governo demonstrou sua importância com a participação e apoio da CSP-Conlutas em vários protestos e greves que os governistas tentaram boicotar (e em muitos deles alcançaram êxito). No movimento concreto da luta de classes, especialmente dentro do sindicalismo, se impôs novamente a divisão entre governistas e antigovernistas, e a CSP-Conlutas continua sendo, apesar de tudo, o maior polo aglutinador de lutadores e entidades com independência de classe e na oposição ao governo.
Mas o potencial de uma Central classista e antigovernista como a CSP-Conlutas ainda está muito longe de alcançar um nível satisfatório de expressão na luta de classes, seja pelo tamanho quantitativo da central seja pelo refluxo e crise de organização da classe trabalhadora. Nesse sentido, a importância de tal Central se faz sentir não apenas pela sua participação (modesta) na luta de classes, mas principalmente pelo peso da sua ausência, ou seja, por tantos ataques do Estado, do Capital e das Burocracias sindicais em que não existe uma Central com força nem vontade política para impulsionar a organização e a resistência ativa das massas populares.
Isso significa que hoje, assim como na criação da Conlutas em 2004, a necessidade de fortalecer uma central de massas classista e antigovernista fala mais alto do que o fato de já termos tal Central pronta e acabada. Em 2004 também a Conlutas era relativamente fraca e cheia de contradições. Ela era e, continua sendo, um projeto em construção, e acreditamos que uma derrota desse projeto representaria um retrocesso para as lutas, seria uma vitória para as burocracias. Mas a realidade da luta de classes é cruel e não se molda pelas nossas vontades. Não é possível avançar se não se corrige a análise e a linha política.
Estamos em uma conjuntura de refluxo e de crise profunda da classe e suas vanguardas (levando à fragmentação e rachas à direita e à esquerda), porém, as contradições sociais e políticas se avolumam empurrando nossa classe ao combate. Maiores ou menores, novas revoltas virão. É daí, e não da moribunda burocracia e aristocracia lulista, que sairão os elementos vitais de reorganização da nossa classe num sentido emancipatório e revolucionário. Há um desencontro histórico e sem volta entre a esquerda lulista e as massas. Atrair as massas para um alternativa exige suportar o peso da rejeição dessa esquerda. Assim, uma Central classista se quiser cumprir com um papel positivo nesse processo deve ter uma estratégia de ruptura com a burocracia lulista, deve ir ao povo e às massas proletárias desorganizadas e marginalizadas, se preparar política e materialmente para impulsionar as lutas reivindicativas de massas, pela via da ação direta e da independência de classe. Ou seja, fazer o oposto do que foi feito no pré-2013, onde se buscava projetar a Central como base de apoio para frentes eleitoras “de esquerda” e disputas burocráticas, até que as massas revoltadas em 2013 despedaçaram todas essas ilusões.
Assim, em termos mais amplos e estratégicos, sabemos que a CSP-Conlutas não é nem será o único polo de reorganização da classe, mas tem o potencial de ser um importante espaço de apoio e unificação desse processo. Os setores classistas e combativos não precisam restringir a sua atuação à CSP-Conlutas ou ao sindicalismo oficial. Mas nós temos que atuar no presente e encarar a realidade, por mais difícil que ela seja. A reorganização da classe será um processo vivo e dinâmico, exige mediações, onde a luta concreta das massas cumpre um papel central. Por isso também o governismo lulista é tão pernicioso, ele boicota e impede a luta das massas. Uma central que tenha uma política de impulsionar, unificar e apoiar as lutas, cumprirá um papel positivo na reorganização. Não há reorganização ou disputa de consciência sem luta. A atividade de resistência é a maior escola do povo.
Assim, podemos numerar aqui as principais características positivas que a CSP-Conlutas preservou e que hoje voltam a ser centrais: 1) A independência de classe e o antigovernismo; 2) a composição sindical e popular e representatividade de massas, abrangendo não apenas o sindicalismo oficial, mas uma variedade de movimentos populares do campo e da cidade; 3) uma organização mais democrática, através de plenárias estaduais e nacionais com participação aberta de delegados de base (tal como as reuniões da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas); 4) Uma política internacional de aliança com centrais sindicais combativas e sindicalistas revolucionárias. Todos esses pontos possuem contradições e disputas, é natural, mas nenhuma outra central ou movimento social de escala nacional no Brasil possui essas características.
Linha internacional da CSP-Conlutas: a Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas
Outra característica importante da CSP-Conlutas é a sua articulação internacional. Hoje a central compõe a Rede Internacional de Solidariedade e Luta com cerca de 200 organizações em todo o mundo, entre as principais fundadoras estão a CGT (Espanha) e a Solidaires (França), ambas organizações sindicais relevantes em seus respectivos países e com uma orientação bastante combativa. Certamente a formação de um bloco classista e combativo na CSP-Conlutas poderia fortalecer os setores revolucionários na Rede Internacional, através de intercâmbios e apoios diversos.
No site da Rede (laboursolidarity.org) um breve resumo de sua história e concepção:
Criada em março de 2013, com base nas orientações e práticas sindicais comuns das centrais sindicais Solidaires da França, da CGT do Estado espanhol, e da CSP-Conlutas do Brasil, a RSISL (Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas) surgiu da necessidade de unificar os trabalhadores e as lutas populares e sociais contra os ataques de governos e patrões em todo o mundo.
Nosso objetivo é promover ações sindicais de caráter combativo e internacionalista, visando fortalecer a classe trabalhadora na luta contra o capital e os governos, e promover a solidariedade internacional, para fortalecer o sindicalismo anticapitalista, de autogestão, democrático, pelo meio ambiente, independente dos patrões e dos governos, e internacionalista, lutando contra todas as formas de opressão: machismo, racismo, homofobia, xenofobia.
A cada dois anos, a Rede realiza encontros internacionais e atualiza um manifesto construído coletivamente entre as cerca de 200 organizações sindicais e movimentos filiados.
Dado o caráter global do sistema capitalista, construir articulações internacionais de trabalhadores é fundamental. O avanço das guerras na Ucrânia, na Palestina, as ameaças de Trump na América Latina, etc., fruto de disputas interimperialistas, reforçam a importância de uma alternativa classista e internacionalista do proletariado e dos povos oprimidos. Essa Rede pode não ser o projeto acabado de “Internacional” que reivindicamos, mas pode também ser disputado e servir de apoio, e, além disso, nós podemos participar de outras articulações internacionais.
A tática de atuação em sindicatos e centrais: construir a unidade na luta dos explorados
As táticas e métodos de disputa em sindicatos e Centrais não são isentas de responsabilidades. O mesmo vale para a tática de não disputá-las, o chamado “paralelismo”. Não basta criticarmos a política hegemônica na esquerda (reformista ou liberal), não avançaremos sem reconhecer também os erros dos grupos minoritários, autônomos e combativos, incapazes de construir no último período uma alternativa de massas. O paralelismo é um desses erros.
O paralelismo, como teoria ou como prática acrítica, está baseado na ideia sectária de que as formas de organização tradicionais das massas (em sindicatos, especialmente, mas não só) são muito atrasadas e burocráticas, acreditam que podem pela força de um bom modelo ou manual construído logicamente ou com base em experiências distantes no tempo-espaço convocar os trabalhadores a seguirem o seu “caminho correto”, apostam então na autoconstrução, desprezando a vida, a sabedoria e as necessidades reais dos trabalhadores. A tendência geral e lamentável do paralelismo é, buscando a autoconstrução, alcançar a autodestruição.
Mas por que retomar esse debate? Por que, devido ao grau de recuo político das organizações “independentes”, “libertárias” e “sindicalistas revolucionárias” para uma política paralelista, onde o debate sobre a intervenção em alguma Central sindical está fechado há anos, esse erro também se estendeu hoje para as próprias entidades de base com a ideia de construir artificialmente sindicatos paralelos, com pouca ou nenhuma ligação com o processo real da luta de classes. O projeto doutrinário de importar um modelo europeu de “sindicalismo revolucionário”, de tão descolado da realidade e ancorado no campo idealista dos desejos, acaba não sendo nem “sindicato”, muito menos “revolucionário”, apenas mais um grupo libertário que desconsidera as tradições e a realidade de luta do povo, incapaz de aceitar a realidade para transformá-la, e por isso mesmo, geralmente pendulante entre o ultraradicalismo e a capitulação ao reformismo. Frente a esse doutrinarismo, nós precisamos reafirmar: nosso povo não é folha em branco que qualquer um pode escrever o que bem quiser.
Para nós, uma política classista e combativa deve reconhecer e combater as limitações das atuais entidades sindicais e populares, mas reconhecer também a tradição e a importância dessas organizações em muitas categorias concretas da classe trabalhadora, e nessa tensão optar por estar onde estão as massas, sem deixar de analisar e disputar concretamente os rumos da direção e da organização da luta. Construir a unidade na luta dos explorados não é opção, é uma necessidade de sobrevivência. O nosso povo sabe que a força vem da união, e rejeita o sectarismo. Estar inserido e disputando as organizações de massas, representativas e unitárias, exige que nós saiamos do cômodo isolamento em nossas próprias correntes. Romper com a mera política de autoconstrução e autoproclamação, para se lançar a construção e disputa de organizações e lutas coletivas, exige análise e trabalho militante diante de condições concretas, disputa com outras forças políticas, desgastes, etc. mas ela é necessária.
Um “paralelismo de baixa intensidade” também se reproduz timidamente na forma de uma política “basista”, que apesar de atuar no interior das entidades, restringe o horizonte da atuação à “base” e tem como única solução a “organização pela base”, sem compreender a necessidade de disputar as entidades em todas as suas instâncias e escalas, em particular a direção das entidades. Fruto dessa política basista, a tendência que temos visto é a criação de uma “cultura” ou “consciência” mais democrática e combativa nas bases, mas que são ciclicamente destruídas ou cooptadas pelas burocracias no poder da entidade, gerando num segundo momento a desilusão e desmobilização dessas mesmas bases e dos próprios grupos basistas, impotentes diante da capacidades de autoperpetuação das burocracias.
Para nós, os grupos combativos não devem ser as eternas e puras vozes de denúncia dos crimes das burocracias, ou da eterna preparação de uma “reorganização pela base” sempre sabotada e derrotada por cima pelas burocracias. Tanto a oposição ao peleguismo quanto a organização pela base devem andar juntas e são fundamentais, mas os setores combativos não podem se restringir a isso, esperando um momento idealizado em que a “base tome o poder” em abstrato. A vida real exige mediações. Uma dessas mediações é a disputa da direção dessas entidades, participando das eleições sindicais, para retirar o entrave burocrático e pelego e abrir brechas para a reorganização democrática, independência de classe e luta combativa. Não é um mar de rosas, mas avançaremos mais que na situação atual.
Também não negamos toda ruptura ou criação de novas entidades de massa, isso seria cair num dogmatismo inverso, tal como as correntes que justificam pateticamente a legitimação da CUT e da UNE com base em textos de Trotsky e Lênin (sic!). A própria CSP-Conlutas é um ruptura com os governistas. Mas as rupturas podem ser necessárias e salutares ou podem ser perniciosas. Criticamos aqui àquelas fruto de doutrinarismo sem base na realidade, que se cristalizam em linhas políticas equivocadas, que levam os grupos combativos a se afastarem das massas, do trabalho paciente no seio do povo e das difíceis tarefas de reorganização da classe.
Isso não se confunde em nada com uma defesa do sindicalismo oficial, e sim que as novas formas de organização e luta das massas que podem vir a surgir (e que devem ser apoiadas pelos revolucionários) devem ser uma verdadeira obra das massas ou das categorias e não da cabeça de meia dúzia de iluminados. Já chega! Os setores classistas e combativos devem ser capazes de analisar e intervir na realidade concreta de cada categoria, e da classe em geral, afim de avançar sua luta e organização.
Em relação a disputa da CSP-Conlutas, ela se justifica taticamente por vários motivos. Primeiramente por ser uma entidade de massas de caráter amplo, nacional, unitário, que abre outras escalas e categorias para a intervenção e disputa dos revolucionários junto a classe (congressos, campanhas, mobilizações, encontros, etc.), incluindo a escala internacional. Segundo, é um espaço com mínima estruturação material, jurídica, política (advogado, sede, apoios diversos entre as organizações, etc.) e que poderá servir para fortalecer e apoiar nossas lutas. Terceiro, apesar de todos os erros do PSTU e dificuldades da conjuntura, a CSP-Conlutas possui o potencial político de apoiar lutas por fora e contra o governismo, incluindo dos movimentos populares e setores estratégicos da classe trabalhadora.
Pela construção de uma CSP-Conlutas classista e combativa!
Fazemos aqui um chamado públicos e fraterno aos lutadores do povo, grupos e movimentos classistas para ingressarmos na CSP-Conlutas, superando a fragmentação e o localismo dos setores independentes e combativos, construindo e fortalecendo uma alternativa de massas e pela base às burocracias sindicais e partidárias em decadência, um polo de reorganização da nossa classe e, além disso, defendendo internamente um programa classista e combativo frente aos desvios burocráticos e reformistas do setor majoritário. Uma atuação na CSP-Conlutas ao nosso ver não pode ser uma participação passiva, um “atestado de inserção social”, inconsequente frente aos rumos do movimento. Disputar o movimento sindical-popular implica analisar as forças políticas, formular críticas e proposições, estabelecer blocos e articulações de solidariedade e campanhas de luta.
Quais as nossas principais críticas hoje ao PSTU? 1º) Sua política de subordinar (mesmo que em baixa escala e intensidade) o movimento dos trabalhadores às disputas partidárias e eleitorais. A velha fórmula reformista-estatista de subordinar a luta econômica (sindicato) à luta política (partido). Isso faz com que o PSTU force excessivamente os espaços da CSP-Conlutas para a sua estratégia eleitoral e para a autopromoção das suas teses doutrinárias no plano teórico e internacional; 2º) Sua política de supervalorizar a disputa do sindicalismo oficial e da aristocracia operária, a disputa de cargos, os acordos de cúpula (inclusive com setores governistas), que os levam a secundarizar a crise atual do sindicalismo e da própria classe trabalhadora, jogada na marginalização e precarização generalizada, assim como os leva a secundarizar as novas formas organizativas no seio do povo (crítica feita inclusive pelos movimentos populares no 5º Congresso da central); 3º) Uma política recuada e reformista em relação às táticas de luta, recusando normalmente as ações combativas das massas, ou mesmo ações diretas como greves e ocupações, sob a justificativa de que “faltam condições”.
Porém, não cabe a nós apenas a crítica, devemos reconhecer que o PSTU não é o setor majoritário por simples manipulação e burocratismo, mas por um trabalho que fizeram. Nossa crítica deve ser justa e correta, e, principalmente, deve vir acompanhada de um intenso trabalho de base, de organização, de luta política e ideológica, única forma que poderemos expandir nossa proposta classista e combativa para setores cada vez expressivos e estratégicos de trabalhadores e, assim, fazer frente e superar os setores reformistas e oportunistas no movimento sindical-popular.
Acreditamos que a constituição de um bloco, articulação, ou como se queira chamar, entre os setores independentes, classistas e combativos é uma tática adequada a fim de potencializarmos nossas intervenções e nos apoiarmos mutuamente em nossas lutas e campanhas. Para a constituição desse bloco propomos alguns pontos de unidade a serem debatidos coletivamente: 1) Democracia de base, internamente ao movimento e socialmente representada pela palavra de ordem “todo poder ao povo” e “contra as burocracias sindicais”; 2) Avançar na radicalização das lutas, defesa da ação direta e crítica ao eleitoralismo; 3) Defesa da unificação das lutas, dias nacionais de luta, unificação de greves, contra os ataques aos direitos do povo; 4) Defender a centralidade estratégica da Central para o apoio e organização do proletariado marginal e demais setores precarizados da classe.
Convocamos todos os militantes e organizações que queiram se somar a essa iniciativa para entrarem em contato conosco. Já existem reuniões e diálogos iniciais sendo realizados entre alguns grupos, e acreditamos que o 6º Congresso da CSP-Conlutas que acontecerá nos dias 18, 19, 20, 21 de abril de 2026 será um momento crucial para avançarmos nessa proposta de articulação. O Congresso será em ano eleitoral, uma grande batalha política deve ser travada pela real independência de classe da Central, para não ser usada como base de apoio para mini-candidaturas eleitorais de “esquerda”, muito menos para seguir à reboque da “frente ampla” e ceder às chantagens do Lulismo, mesmo sob a máscara envergonhada do “apoio crítico”. Para se reconectar com as massas populares no Brasil, para resgatar o caráter antissistêmico do socialismo e da luta classista, é preciso dizer em alto e bom som: Abaixo a farsa democrática dos ricos que mata e escraviza o nosso povo! Construir uma alternativa classista de baixo para cima, desde as bases, assentada nas lutas, nas redes de apoio mútuo, nas comunidades pobres e sindicatos, na vanguarda dos próximos levantes e rebeliões do nosso povo!
Esse é um documento com análises e propostas iniciais. Sabemos que existem diferenças entre os grupos, respeitamos isso e queremos também ouvir o que os demais camaradas e grupos tem a dizer. Mas sabemos também que existem pontos importantes em comum para avançarmos nessa articulação. Um bloco de atuação dentro da CSP-Conlutas teria como maior objetivo potencializar a nossa força através da solidariedade, e não como ingerência na autonomia de cada organização ou disputismo entre nós. Esperamos com toda sinceridade que esse chamado sirva para abrir um diálogo sério, fraterno e construtivo para as lutas e os grandes desafios que enfrentaremos no Brasil no próximo período.
Classe trabalhadora, nenhum passa atrás!






