
Comunicado nº7 do Grupo Libertação Popular – GLP, Brasil, dezembro de 2025.
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1 – Os atos convocados para esse domingo (14/12) com as palavras de ordem “Congresso inimigo do povo” e “Sem anistia”, pelas frentes governistas Brasil Popular e Povo sem Medo, assim como por todos os partidos e centrais de esquerda, ao contrário de um combate real em defesa dos direitos do povo pobre e trabalhador percorrem na verdade interesses eleitorais e de lobby parlamentar. O circo eleitoral de 2026 começou. Uma conjuntura marcada pela manipulação, encenação e demagogia política em máximo grau. Como disse o socialista revolucionário Miguel Bakunin: “O sufrágio universal é a exibição ao mesmo tempo mais ampla e refinada do charlatanismo político do Estado; um instrumento perigoso, sem dúvida, e que exige uma grande habilidade da parte de quem o utiliza, mas que, se souber servir-se dele, é o meio mais seguro de fazer com que as massas cooperem na edificação de sua própria prisão.”
2 – É certo que os poderes da República (Congresso Nacional, STF e o Executivo Federal) dão provas diárias do seu caráter de classe como um balcão dos negócios dos ricos, como inimigos do povo, merecedores do ódio salutar que despertam nos setores mais conscientes das massas populares. Com o avanço da corja de deputados bolsonaristas para diminuir a pena de seus próprios crimes (PL da Dosimetria) e outros absurdos como a aprovação do Marco Temporal, é compreensível e positivo que aumente a descrença e a indignação contra o sistema político e suas instituições. A extrema direita, aliás, tem usado muito eficazmente esse ódio para seus próprios interesses. A esquerda lulista, usando um itinerário similar (vídeos de IA em whatsapp, protestos no domingo, cinismo e falsificação, etc.) passou a disputar pontualmente esse ódio a seu favor, algo, aliás, que já faz há muito tempo com a manipulação do pânico de eleitores. No entanto, acreditar que a esquerda lulista está lutando contra o “Congresso inimigo do povo” é tão ingênuo quanto crer que a direita bolsonarista é “antissistema”. Não é para defender os interesses do povo, nem tampouco combater o Congresso, que estão sendo convocados os atos no próximo domingo.
3 – Afinal, de quê Congresso estamos falando? A composição atual da Câmara e do Senado, apesar de ser formada majoritariamente por partidos de direita, tem demonstrado uma relação de apoio e colaboração com o Governo Lula, não é possível afirmar o contrário sem falsificar a realidade. Segundo o portal “Congresso em Foco” os deputados votaram com o governo em 72% das oportunidades entre 2023 e 2024. O deputado Arthur Lira (PP-AL) ganhou a presidência da Câmara em 2023 com a maior votação da história (464 votos) e com o apoio do PT, já o atual presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) alcançou a segunda maior votação com 444 votos, apoiado pelo PL, PT e outros 16 partidos para um mandato até 2027. É certo que essa profunda coesão burguesa nas principais pautas tampouco é desprovida de contradições, especialmente com a mudança nas emendas parlamentares e a aproximação das próximas eleições. Mas a coesão burguesa e anti-povo é profunda, envolvendo o Congresso, o Governo Lula e o STF. Toda tentativa de desassociar o PT e os políticos governistas “de esquerda” da podridão do Congresso não passa de manipulação e mentira, e o povo sabe disso.
4 – “Quem votar, não volta!” gritam os ingênuos na intensão de demonstrar algum poder com essa “apavorante ameaça”, revelam, ao contrário, a profunda impotência e crise atual da classe trabalhadora organizada. Hoje, a pressão que paira efetivamente sobre os deputados e senadores é das eleições de 2026, e apenas indiretamente e midiaticamente dos protestos nas ruas. Fazer essa diferenciação é importante por que, no modelo dos atos de domingo, o que pode aparentar uma “forte pressão” exercida pelas ruas, sob o controle e o poder daqueles que estão ali participando, na verdade não ocorre bem dessa forma. Os atos de rua nos moldes “bolsonaristas” e “lulistas” (aliás, que se tornaram muito similares, e que o PT foi se adaptando: atos de domingo, estilo passeio cívico ou festa de carnaval, carro de som, ordeiro, etc.) são voltados na prática para exercer uma pressão indireta sobre a “opinião pública” que será mediada e filtrada pela mídia burguesa (tradicional e redes sociais) e, através dessa, tentar influir nas decisões políticas dominantes. É uma variação de lobby parlamentar, se utilizando de grupos de pressão social para influir em decisões no parlamento, para mobilizar bases eleitorais, mas de forma alguma colocando as massas populares como sujeitos do processo de transformação e conquista de direitos. Os atos são pensados desde o início não pela pressão real e direta que podem exercer (tal como uma greve, fechamento de estradas, ocupações, etc.), mas no efeito de sua divulgação, da sua “repercussão”. Se não tiver fotos ou aparição na mídia é como se não existissem.
5 – Marx disse uma vez que “a história se repete, a primeira vez como tragédia, e a segunda como farsa”. Recapitulemos então um momento histórico recente e similar, pré-eleitoral, o movimento “fora Bolsonaro”. Durante o governo Bolsonaro, sem uma mobilização combativa de massas (que foi sabotada pelo petismo particularmente desde o “Ocupa Brasília” em 2017 e durante todo governo Bolsonaro) a palavra de ordem “fora Bolsonaro” caiu no vazio e foi usada pela oposição social-liberal para desgastar o governo, se utilizando de todo cenário de morte, precarização e ataques como trampolim eleitoral. O foco desde o começo foi a mudança de governo, “primeiramente fora Bolsonaro…”. O povo deveria submeter todas as suas reivindicações e lutas materiais (terra, salário, moradia, saúde, educação, etc.) à troca do governo. Era o paradigma clássico da esquerda burguesa de superioridade da luta política (partido) sobre a luta econômica (sindicato). Mesmo os partidos reformistas “radicais” (PCB, UP, PSTU, PSOL, etc.) e setores autônomos acabaram à reboque da política Lulista do “fora Bolsonaro”. Por mais que uns defendiam o impeachment e outros a derrubada de Bolsonaro com “rebelião das massas”, não haviam condições para tal, e todos acabaram apenas reforçando os objetivos hegemônicos. Ao fim e ao cabo, Bolsonaro virou carta fora do baralho, mas o povo continua comendo o pão que o diabo amassou.
6 – Hoje nós seguimos em uma conjuntura de defensiva do proletariado. A burguesia segue na ofensiva, ou seja, está em condições de realizar seus objetivos estratégicos como classe (arcabouço fiscal, privatizações, marco temporal, etc.). Obviamente existem resistências populares, mas são restritas e na maioria das vezes recuadas. Em nenhum momento durante o governo Lula existiu correlação de forças favorável para derrubarmos esse Congresso de Ratazanas por meio de métodos de luta proletária-popular, ou seja, pela ação direta. Porém, a farsa de que é necessário buscar primeiro uma mudança político-eleitoral, ontem por um Governo “democrático”, hoje por um Congresso “de esquerda”, para depois conquistar as reivindicações sociais e econômicas da classe trabalhadora, não só não leva a conquista dessas reivindicações populares depois, como retira o protagonismo proletário das mudanças, prolongando a crise de organização e direção do proletariado e postergando ad infinitum as condições necessárias para o avanço da luta e, portanto, das vitórias. Essa política é a negação da “emancipação dos trabalhadores como obra dos próprios trabalhadores”, na verdade toda a obra de mudança é depositada em políticos oportunistas liberais e de esquerda, seus conchavos e disputas palacianas. A eleição de um “novo Congresso” e a reeleição de Lula em 2026, tais são os objetivos dos atos domingo.
7 – Isso não significa que a crise e a podridão do poder político burguês não podem ser aproveitados pelos movimentos de massa e pelas vanguardas revolucionárias. De forma alguma. Porém, primeiramente isso exigiria métodos e reivindicações (forma e conteúdo) totalmente diferentes dos atuais, e segundo, por que não agimos com cenários imaginários, desejáveis, mas reais. Na atual correlação de forças da esquerda, nesses atos impulsionados e dirigidos pela burocracia lulista, com fins claramente eleitoreiros, os setores críticos e antigovernistas (reformistas ou revolucionários) não poderão fazer mais do que, novamente, agirem como forças auxiliares da agenda lulista e, apesar de toda intenção ou fraseologia radical, acabar por legitimar e seguir a reboque dessa agenda. Sabemos que existem militantes e organizações com disposição sincera de luta que irão participar domingo, crentes na possibilidade de “disputar” o movimento, mas infelizmente, o caminho do inferno está pavimentado de boas intenções.
8 – Em todas as escalas os setores que se pretendem “renovadores da esquerda” não fazem mais do que repetir as velhas fórmulas e seguir à reboque das velhas burocracias. Enquanto o PT disputa a direita e a extrema direita, o PSTU, UP e PCBR disputam o PT, e ainda tem os grupos menores que disputam as migalhas e rachas do PSTU… Quanta miséria de horizonte e de futuro! O nosso povo trabalhador passa ao largo de todas essas disputas mesquinhas “de vanguarda” e de “direção”. Mas sem o povo, o novo não vem, a correlação de forças não muda, a realidade política da esquerda será esse círculo viciosos infernal e perfeito para afastar os melhores e mais honestos lutadores do povo e premiar os mais oportunistas e capituladores.
9 – Por isso insistimos e reafirmamos a nossa estratégia de “Ir ao Povo!” como parte integrante e imprescindível da intervenção dos socialistas revolucionários no processo de reorganização dos trabalhadores brasileiros, de suas organizações de massas e de vanguarda. Ir ao povo, para apoiar e impulsionar suas lutas e reivindicações materiais, pelos métodos históricos da ação direta proletária, pelo fortalecimento e desenvolvimento das práticas/instituições de apoio mútuo, pela inserção nos setores estratégicos do proletariado, com uma práxis adaptados às situações de defensiva e ofensiva na luta de classes, tudo isso servindo de base e sustentação para a construção de uma organização revolucionária de quadros, não dogmática e comprometida acima de tudo e de todos com a revolução brasileira e a libertação do nosso povo.
10 – Para derrubar ou derrotar um Governo, Congresso ou qualquer instituição burguesa com o método de luta proletária é necessária uma ofensiva das massas, e a partir disso colocar o governo capitalista em xeque. Essa ofensiva revolucionária não está dada hoje, nem cairá do céu, trabalhemos desde já por ela, mas sem delírios triunfalistas. A base da estratégia revolucionária é a mobilização popular por condições materiais de existência, que se orienta para o antagonismo estrutural entre as classes e culmina na destruição do sistema dominante. É a relação histórica entre “Paz, Pão e Terra” e “Todo poder ao sovietes”. O foco hoje é retomar a capacidade de resistência popular, enfrentando a desorganização das massas e a burocratização do movimento sindical e popular. Aplicar o método materialista de mobilização do proletariado e a luta pela reorganização da classe. Segunda (15/12), por exemplo, começa a greve nacional dos petroleiros, na terça (16/12) os trabalhadores dos Correios que cruzam os braços, ambos os movimentos se enfrentam com o governo Lula e com as burocracias sindicais da CUT e CTB. A agitação revolucionária deve relacionar continuamente essas lutas reivindicativas específicas com a denúncia das políticas antipovo dos governos e patrões, mas não centrada no paradigma reformista da prioridade na troca de políticos pela via eleitoral. Contra esse paradigma falacioso nós opomos a verdade de que o povo pode conquistar vitórias sob o jugo de qualquer governo ou congresso. Que a libertação e as conquistas dos trabalhadores serão obra dos próprios trabalhadores.
Abaixo o oportunismo eleitoral!
Anistia para o povo pobre e trabalhador!
Ir ao povo! Organizar a ação direta por uma vida digna e pela libertação popular!







