“Pax Antifascista” na UnB: a serviço de quem?

Grupo Libertação Popular – Distrito Federal (GLP-DF)

Brasília-DF, 25 de março de 2025.


Enquanto a esquerda universitária está “lutando” (simbolicamente) contra youtubers e meia dúzia de idiotas de direita, o rodo de medidas contra as massas populares, os estudantes pobres e a própria educação pública vai passando através dos órgãos do poder real do Estado: governo, parlamento, reitoria, etc. Esses órgãos e agentes do poder burguês não só ficam de fora da indignação seletiva da esquerda universitária como são comumente defendidos em nome da “luta antifascista”.

A questão não é defender os playboyzinhos de direita, mas entender a dimensão e o uso político que se faz da “luta antifascista” no atual contexto político, que desloca a energia dos ataques a direitos substanciais. De como essa centralidade é parte essencial dos aspectos negativos do movimento estudantil da UnB.

Jovens de direita e conservadores arrancando cartazes e apagando pichações da esquerda (e vice-versa) já existem bem antes do fenômeno bolsonarista e das redes sociais. No entanto, isso não tinha a mesma importância. Há uma ou duas décadas atrás a esquerda universitária (mesmo a reformista) era pressionada por muitas demandas concretas das bases estudantis e sindicais e em geral o conflito com os direitistas (e entre esquerda pelega x combativa) ocorria em torno de lutas materiais, em greves, piquetes, ocupações, protestos, etc. Não se davam em torno de disputas palacianas ou virtuais que em nada impactam a universidade e a vida dos estudantes pobres.

Essas disputas e lutas simbólicas são muito úteis como um esquenta pré-eleitoral para 2026. São muito úteis particularmente para a direita. Foi a direita que começou a provocação, ela sabia e esperava que teria alguma resposta. É essa pequena política de fundo eleitoral (mesmo que não explicitado por ambos os lados) que a esquerda e a direita pequeno-burguesas adoram, onde se engalfinham, se retroalimentam e agitam as suas bolhas. E, juntas, vão aumentando ano após ano a sua rejeição pelas massas.

Há 7 anos atrás, em abril de 2018, aconteceu a última ocupação da reitoria da UnB, antes da pandemia e do mandato de Bolsonaro. Antes disso, entre 2008 e 2018 as ocupações ocorriam mais de uma vez ao ano, além dos outros métodos de luta, mobilizando centenas e até milhares de estudantes por reivindicações concretas contra inimigos palpáveis. Mesmo quando a direita estava na direção do DCE, da ADUnB ou da Reitoria. No entanto, desde 2018 o órgão de poder universitário vive o seu período de menor contestação, é a “Pax Antifascista”. Essa paz é a expressão de um movimento estudantil profundamente capturado pela polarização eleitoral burguesa (lulismo x bolsonarismo), incapaz de mobilizar os estudantes pobres por reivindicações concretas, conciliatório e rabo preso com os poderes estabelecidos tidos como “democráticos”. Continuar a ler

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O Amigo do Povo nº12 – Fevereiro/Março/Abril de 2025

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A luta contra a escala 6×1 e a estratégia de guerra de classes no setor privado

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº12, Fevereiro/Março/Abril de 2025.

Antonio Galego.

A luta contra a escala 6×1 demonstrou três lições importantes: 1º) as redes sociais e a opinião pública são importantes, mas incapazes (por si sós) de criar os meios de vitória de uma luta como a redução da jornada, que exigirá um processo prolongado de organização e ação direta de massas; 2º) a baixa ou nula inserção das esquerdas (reformistas ou revolucionárias) no setor privado e precarizado limita a força e a legitimidade do movimento; 3º) as tentativas recentes de inserção militante no setor privado evidenciam limites das táticas e estratégias das esquerdas, colocando em xeque os métodos de trabalho de base tradicionais.

Essas três lições, confrontadas com a realidade de tirania burguesa exercido nos locais de trabalho, exige dos militantes classistas uma estratégia política condizente frente a uma situação altamente repressiva, uma nova estratégia de guerra de classes. Não é possível penetrar nesses espaços e ganhar a base das categorias com a estratégia tradicional da esquerda. A estratégia sindical reformista, com seus métodos e ilusões legalistas e democratistas, é incapaz de mobilizar as bases e mudar a correlação de forças entre patrão x empregado nessas condições, leva no máximo à “ganhos de posição”, à conquista do aparato sindical. Continuar a ler

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As mulheres e a luta contra a escala 6×1

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº12, Fevereiro/Março/Abril de 2025.

Aurora.

Em meio a ascensão da luta e debate pela redução da jornada de trabalho, os dados que começam a ser divulgados demonstram como a realidade do trabalho no Brasil é precária. Mesmo sendo uma potência em recursos naturais e energéticos, mesmo com o aumento da tecnologia, mesmo com os lucros exorbitantes da burguesia brasileira, as condições de trabalho no país não melhoram. Pelo contrário, a flexibilização do trabalho avança, os direitos são desmanchados e a carga horária é mantida e até mesmo ampliada.

Neste contexto de precarização existe um amplo setor do nosso povo que vive para trabalhar, aqueles/as submetidos/as à escala 6X1. Segundo dados da OIT 11% da população brasileira trabalha mais do que 48h semanais! Ou seja, um significativo setor da nossa população encontra-se submetido a uma rotina de trabalho que usurpa o tempo de lazer, descanso, de socialização com a família e/ou amigos. Continuar a ler

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Impactos da chuva no Sol Nascente: crise socioambiental na periferia de Brasília

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº12, Fevereiro/Março/Abril de 2025.

Érico.

Foto: Agência Brasília – Voçoroca e habitações em área de risco no Trecho III do Sol Nascente em Brasília-DF

Todos os anos acompanhamos nos noticiários cenas de uma mesma tragédia social e ambiental que assola as periferias das grandes cidades após períodos severos (ou nem tão severos) de chuvas. Se por um lado vemos o acirramento das chuvas torrenciais e registros da pluviosidade superando a normal mensal, em poucas horas ou dias de chuva, de outro vemos o acúmulo da desigualdade e o problema habitacional, relacionado diretamente com a situação ambiental.

No Sol Nascente, quebrada localizada há 33km do centro de Brasília, registrou-se em 2024, cenas lamentáveis de pessoas e veículos sendo arrastadas pelas enxurradas. Casas sendo devastadas pelas correntezas de córregos que transbordaram, e famílias amedrontadas com a possibilidade de perderem suas moradias, muitas vezes localizadas em áreas de risco.

Tendo como primeiros habitantes chacareiros e pequenos agricultores, propriedades rurais que logo foram loteadas, o Sol Nascente cresceu também por meio das ocupações de terras espontâneas ou lideradas por movimentos sociais. Em todos esses casos, o cerne é o direito de morar, base para o desenvolvimento humano. Continuar a ler

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Perseguição aos movimentos sociais: o medo das classes dominantes

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº12, Fevereiro/Março/Abril de 2025.

Érico.

Manifestação em frente ao STJ, em Brasília, contra a criminalização dos movimentos sociais (05/12/2024).

A elite político-econômica brasileira apresenta cada vez maiores e mais violentas ofensivas no campo institucional e fora dele. Em texto publicado no número 10 do nosso jornal, a autora Aurora apontou que uma das interpretações possíveis para o foco da bancada ruralista e outros parlamentares na criminalização de ocupações, nos sugere que essa tática da ação direta atinge prontamente o regime de concentração de terras e da lógica da propriedade privada.

Além desta ameaça, o contrapoder das ocupações de terra demonstra à sociedade a capacidade das mobilizações de massa, e questiona a ideologia dos latifundiários que naturaliza a desigualdade e concentração, legitimando a propriedade como direito absoluto, independente dos cenários de fome, devastação ambiental ou de exclusão promovida por ela. Ocupações bem-sucedidas incentivam outras mobilizações, criando virtuosamente a possibilidade de novas ações.

Recentemente na Câmara dos Deputados, o PL 4357/2023 propôs a exclusão do conceito de “função social da terra”, introduzido pelo Estatuto da Terra e incorporado à Constituição Federal. Desta forma através da criação dos Projetos de Lei, as elites políticas e econômicas antecipam-se perante o avanço da histórica luta dos povos pela desconcentração de terras. Esses projetos possuem caráter ofensivo preventivo, visando tornar inviáveis as ações dos movimentos populares, desmobilizando sua capacidade organizativa, estratégica e tática. Exemplo desta tentativa de desmobilização e descaracterização dos movimentos sociais, o PL 4183/2023 busca tornar obrigatória a forma de pessoa jurídica nos movimentos, visando facilitar a criminalização e responsabilização legal, além de burocratizar movimentos. Continuar a ler

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A Conjuração Negra em Pilar de Goiás

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº12, Fevereiro/Março/Abril de 2025.

Jiren D.

A história oficial frequentemente silencia sobre as fugas de escravos e a existência de quilombos bem-sucedidos na capitania de Goiás. Contudo, alguns episódios emergem dessa omissão, como o Quilombo de Papuã, localizado em Pilar de Goiás, cujo nome faz referência ao capim marmelada, planta abundante na região.

A cidade de Pilar de Goiás, durante o século XVIII, possuía uma população majoritariamente negra, com os brancos representando apenas 2,2% da população. Esse cenário demográfico, aliado à localização geográfica distante de reforços militares, fez da cidade um território especialmente vulnerável para os colonizadores e terreno fértil para a resistência escrava. Pilar de Goiás era cercada por quilombos que desafiavam constantemente a autoridade do regime escravista. Entre os muitos relatos de resistência, está o ataque de quilombolas a uma lavra em 1751, que resultou na morte de um senhor e seus dois escravos aliados, com mutilações nos corpos como forma de intimidação psicológica. Continuar a ler

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Massacre dos Turmeiros em Catalão: Sangue operário na ferrovia pela mão assassina do Estado

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº12, Fevereiro/Março/Abril de 2025.

Jiren D.

O Massacre dos Turmeiros, ocorrido em 5 de fevereiro de 1916, foi um dos primeiros registros de violência extrema contra trabalhadores urbanos em Goiás. O episódio aconteceu na cidade de Catalão e teve como vítimas a morte de 9 operários e 15 feridos que atuavam na construção da ferrovia. Naquela manhã fatídica, um grupo de trabalhadores embarcava em gôndolas para se dirigir à frente de serviços, reivindicando melhores condições de trabalho, quando foram brutalmente atacados.

As forças repressivas, sob comando de autoridades locais, dispararam contra os operários, promovendo um verdadeiro massacre. Tentando escapar da chacina, o maquinista da locomotiva deu ré no trem, recuando até o largo da Velha Matriz. Os mortos e feridos foram então descarregados no salão da Escola Sagrada Família, onde hoje funciona uma concessionária de veículos. Ali, com o apoio da população, os feridos receberam atendimento improvisado, mas, tragicamente, mais quatro pessoas faleceram, entre elas duas crianças. Continuar a ler

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Corrupção na Saúde: não é sobre saber votar

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº12, Fevereiro/Março/Abril de 2025.

Guina.

Secretário corrupto (ao meio) é homenageado na Câmara de Vereadores de Goiânia pelo “trabalho realizado”.

No dia 17 de dezembro de 2024 os noticiários foram tomados pela cobertura de uma operação da Polícia Civil de Goiás que cumpria mandados de prisão contra o ex-secretário de Saúde de Goiânia, Wilson Pollara, e o então secretário interino da pasta, Quesede Ayres, além de outros suspeitos de desviar R$ 10 milhões em recursos públicos. A operação resultou em cinco mandados de prisão, 17 de busca e apreensão, a prisão de três envolvidos no esquema, e a apreensão de milhões em espécie — tudo isso apenas na manhã em que a operação foi deflagrada. Os dois ex-secretários, no entanto, permanecem foragidos.

A investigação revelou que os R$ 10 milhões foram transferidos da Secretaria de Saúde para uma associação privada sem fins lucrativos. Durante o convênio, o montante foi rapidamente desviado em apenas 17 dias, entre 20 de agosto e 5 de setembro. Segundo uma reportagem do G1, os recursos foram movimentados por transferências via PIX, TED e TEV, além de saques em dinheiro. A rapidez das transações deu origem ao nome da operação: Speedy Cash, destacando o uso indevido e acelerado dos recursos públicos. Os depósitos foram realizados diretamente nas contas dos beneficiários, sem qualquer preocupação com prestação de contas. Continuar a ler

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Cárcere e Genocídio: como o Estado de Goiás usa prisões para reprimir e exterminar os pobres

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº12, Fevereiro/Março/Abril de 2025.

Jiren D.

O sistema prisional em Goiás, assim como no restante do Brasil, reflete as desigualdades históricas e estruturais do país e do capitalismo dependente. Marcas do racismo estrutural, do colonialismo e da violência estatal genocida contra negros e pobres se manifestam de forma evidente nas condições degradantes das unidades prisionais no Estado de Goiás. O Estado, ao priorizar o encarceramento em massa como resposta à desigualdade social causada pelo capitalismo, pune o crime dos pobres, já que os crimes dos ricos são protegidos pela justiça burguesa.

Goiás ocupa posição de destaque nas estatísticas de encarceramento no Brasil. De acordo com dados recentes, o estado possui cerca de 26 mil pessoas privadas de liberdade, enquanto sua capacidade oficial é para pouco mais de 13 mil vagas, evidenciando um cenário de superlotação de mais de 100%. A Casa de Prisão Provisória de Aparecida de Goiânia, um dos maiores presídios do estado, tem 906 vagas e hoje abriga cerca de 1.940 pessoas, apresentando uma taxa de 214% de superlotação.

Além disso, cerca de 40% dos detentos em Goiás são presos provisórios, ou seja, ainda aguardam julgamento. Essa realidade reforça a ilegalidade, mesmo dentro dos marcos do sistema judicial burguês, em garantir o respeito às garantias fundamentais, transformando a prisão preventiva em regra e não em exceção para os mais pobres. A maior parte da população prisional é formada por homens jovens, negros e de baixa escolaridade, representando o perfil típico das massas marginalizadas do Brasil, excluídas da chamada democracia brasileira.
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