Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº12, Fevereiro/Março/Abril de 2025.
Guina.

Secretário corrupto (ao meio) é homenageado na Câmara de Vereadores de Goiânia pelo “trabalho realizado”.
No dia 17 de dezembro de 2024 os noticiários foram tomados pela cobertura de uma operação da Polícia Civil de Goiás que cumpria mandados de prisão contra o ex-secretário de Saúde de Goiânia, Wilson Pollara, e o então secretário interino da pasta, Quesede Ayres, além de outros suspeitos de desviar R$ 10 milhões em recursos públicos. A operação resultou em cinco mandados de prisão, 17 de busca e apreensão, a prisão de três envolvidos no esquema, e a apreensão de milhões em espécie — tudo isso apenas na manhã em que a operação foi deflagrada. Os dois ex-secretários, no entanto, permanecem foragidos.
A investigação revelou que os R$ 10 milhões foram transferidos da Secretaria de Saúde para uma associação privada sem fins lucrativos. Durante o convênio, o montante foi rapidamente desviado em apenas 17 dias, entre 20 de agosto e 5 de setembro. Segundo uma reportagem do G1, os recursos foram movimentados por transferências via PIX, TED e TEV, além de saques em dinheiro. A rapidez das transações deu origem ao nome da operação: Speedy Cash, destacando o uso indevido e acelerado dos recursos públicos. Os depósitos foram realizados diretamente nas contas dos beneficiários, sem qualquer preocupação com prestação de contas.
O escândalo se torna ainda mais revoltante diante do estado deplorável da saúde pública em Goiânia. Enquanto milhões são desviados, pacientes morrem em filas de espera por vagas em leitos de UTI, cirurgias ou tratamentos para doenças crônicas. Para os usuários, a demora rouba a dignidade e, muitas vezes, a vida; para os servidores, a constante falta de condições de trabalho, direitos defasados, e salários baixos agravam a situação. O IMAS — plano de saúde dos funcionários da prefeitura —, completamente falido, não é aceito por médicos e clínicas, deixando os servidores desamparados. Enquanto isso, corruptos enriquecem descaradamente com o dinheiro público, sem sequer se preocuparem em ocultar suas ações.
É necessário compreender que os escândalos de corrupção não são simplesmente fruto de escolhas eleitorais equivocadas, mas sim consequência direta do nosso modelo de governo. Enquanto continuarmos a legitimar, por meio de uma falsa democracia, que poucos decidam sobre os caminhos do dinheiro arrecadado com nossos impostos, esse será o resultado: recursos que deveriam atender a todos sendo desviados para beneficiar interesses privados.
As famosas Parcerias Público-Privadas (PPP) e as Organizações Sociais (OS) são exemplos claros desse sistema. Essas práticas visam trazer para a administração pública o lucro corporativo, legalizando o uso do dinheiro público para ganhos pessoais. Em outras palavras: normalizam a corrupção.
Para combater essa realidade, é imprescindível lutar por um serviço público que contemple a participação ativa do povo em todas as etapas: levantamento das necessidades, planejamento, execução e fiscalização. Conselhos, comitês e comissões populares devem estar presentes desde a tomada de decisões até o acompanhamento das obras e do orçamento público.
Além disso, é fundamental entender que “democracia” precisa ir além do voto. É necessário romper com o modelo estatista e construir um modelo comunitário-cooperativista, onde o povo seja protagonista das decisões e da execução de políticas e demandas que realmente atendam às suas necessidades.■