México: Os territórios zapatistas à beira de uma guerra civil

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº6, Julho/Agosto/Setembro de 2023.

Aurora

Os territórios autônomos zapatista da região de Ocosingo, Chiapas, vem enfrentando diversos intentos de desalojamento por parte de grupos paramilitares. A ORCAO (Organização Regional de Cafeicultuores de Ocosingo) é um dos principais grupos que vem protagonizado ataques às comunidades autônomas, em especial as pertencentes a região autônoma Moisés y Gandhi.

Desde 2019 as denúncias se multiplicam. Os zapatistas já tiveram que lidar com a destruição de suas plantações, com a queima da mercearia Arco Íris, tiros direcionados às escolas autônomas, com o sequestro e tortura de membros das comunidades. Recentemente em meio aos intensos tiroteios que assombram a região um promotor de saúde zapatista de 22 anos, Jorge López Sántiz, foi alvejado. A sua situação de saúde ainda é delicada. Continuar a ler

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A política de preços da Petrobrás segue a mesma no governo Lula

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº6, Julho/Agosto/Setembro de 2023.

Antonio Galego

O Preço Paritário de Importação (PPI) foi uma política arbitrária adotada pela Petrobrás em outubro de 2016 durante o governo Temer (MDB). De 1953 à 2016 a política de preços da Petrobrás seguia outros critérios.

Mas o que é o PPI? Com base no PPI o preço de todo o petróleo e seus derivados (como a gasolina, gás de cozinha, diesel, etc.) consumidos no Brasil são calculados como se fossem importados. Porém, o Brasil tem potencial industrial não só de produzir o petróleo consumido internamente como de exportar excedente. A necessidade de importação é mínima, então por que estipular um preço como se tudo fosse importado quando de fato não é? Continuar a ler

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Tradução | As Jornadas de Junho de 1848 – de “La Solidarite Révolutionnaire”

Matéria do jornal La Solidarite Révolutionnaire, nº 4, Barcelona, 1º de julho de 1873.

*Tradução: Érico.

Nota introdutória, por Antônio Galego.

Como parte da nossa contribuição às comemorações dos 10 anos da insurreição de junho de 2013 no Brasil, nós temos a honra de publicar a tradução do camarada Érico do artigo histórico “As jornadas de Junho” de 1848, sobre a insurreição popular na França há 175 anos atrás. Esse artigo foi publicado originalmente na 4ª edição de “La Solidarite Révolutionnaire”. Ainda que separados pelo tempo e espaço, ambos os processos demonstram o caráter internacional dos dilemas do proletariado, ontem e hoje, no mundo todo.

O jornal “La Solidarite Révolutionnaire” (A Solidariedade Revolucionária) foi um órgão de propaganda bakuninista criado em junho de 1873 (há 150 anos atrás!) e editado em Barcelona por refugiados franceses da guerra franco-prussiana de 1870-1871. Os seus lemas eram “Anarquia – Coletivismo – Materialismo”, assim como “Nem direitos sem deveres, nem deveres sem direitos”, expostos em seu cabeçalho. Continuar a ler

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O futuro da nossa corrente: carta aos lutadores do povo e militantes revolucionários

Por Antônio Galego, diretor-geral do jornal O Amigo do Povo.
Brasil central, 22 de maio de 2023.

Foto: mesa de abertura do 1º ENOPES, novembro de 2013.

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Índice:
1 – Três momentos históricos “perdidos”: a ruptura anti-governista, o insurrecionalismo de 2013 e o retorno do cão arrependido
   1.1 – A CONLUTAS e a chance perdida de avançar na reorganização do proletariado
   1.2 – A insurreição proletária de 2013 e um novo ciclo da luta de classes
   1.3 – Ascensão do bloco conservador e a capitulação da “esquerda”
   1.3.1 – A farsa do golpe de 2016 e a relegitimação da política reformista
   1.3.2 – O “Fora Bolsonaro” e o paradigma da troca de governo
   1.3.3 – A política liberal-burguesa do “fique em casa” e suas consequências
   1.3.4 – A “unidade antifascista” a serviço da conciliação de classes
   1.4 – Como as organizações anarquistas nacionais se posicionaram nesses contextos
2 – Algumas questões candentes da política e da organização dos revolucionários
   2.1 – A crise do anarquismo brasileiro e a tarefa de construção do partido
   2.2 – A tática paralelista dos “sindicatos autônomos” da FOB e a reconstrução de uma linha classista e combativa no movimento de massas
   2.3 – A luta ideológica contra o identitarismo e a renovação do “anarquismo de estilo de vida”
   2.4 – Quem são os sujeitos da revolução brasileira? A fragmentação da classe, os setores estratégicos e as tarefas dos revolucionários
   2.5 – Os revolucionários e a questão nacional brasileira
3 – Um convite à reunificação das forças social-revolucionárias

“Podem estar certos de que o trabalho não será perdido — nada se perde neste mundo — e as gotas de água, por serem invisíveis, nem por isso deixam de formar o oceano.” Mikhail Bakunin

A situação política nacional teve mudanças significativas na última década. Há dez anos atrás estávamos na véspera da insurreição popular de junho de 2013, num contexto social e político explosivo, em que uma semana valia mais que um ano. Desde então houveram mudanças gerais nos agrupamentos das classes e na correlação das forças políticas no Brasil. Vivemos hoje a maior crise da classe trabalhadora e do socialismo desde a redemocratização, uma situação de isolamento e fragmentação que não atinge apenas as organizações anarquistas mas também todas as forças socialistas autênticas, somadas à diminuição desde 2016/2017 do número de greves (série histórica do Dieese) e de ocupações de terras (CPT) e ao fortalecimento do autoritarismo estatal e da exploração dos trabalhadores (seja em seu modelo conservador ou desenvolvimentista). Enfim, vivemos uma situação histórica de defensiva do proletariado.

Nos dirigimos aqui aos velhos e novos militantes que ainda se mantém firmes nas ideias socialistas revolucionárias e na luta classista. Nosso objetivo aqui é apresentar um balanço do último período, tendo como base a experiência em organizações que ajudamos a construir, em especial a UNIPA (União Popular Anarquista) e a FOB (Federação das Organizações Sindicalistas Revolucionárias do Brasil), com base também em análises de conjuntura e das diferentes tendências do movimento de massas. A partir disso pretendemos traçar linhas gerais para a retomada de uma atuação classista e revolucionário. Não haverá futuro se não entendermos nosso passado, onde estão os acertos e erros, não só aqueles que viveram e que acumularam cicatrizes físicas e emocionais, mas também aos jovens militantes. Continuar a ler

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Sobre a luta reivindicativa e o papel do trabalho de base combativo: nem subjetivismo, nem fatalismo.

Este texto foi escrito em outubro de 2013 por Antônio Galego à Plenária Nacional da RECC e ao 1º Encontro Nacional de Oposições Populares, Estudantis e Sindicais (ENOPES) que ocorreram em novembro do mesmo ano no Rio de Janeiro. Na época Galego era militante estudantil da Oposição CCI ao DCE-UnB.

Por Antônio Galego, outubro de 2013.

“… a ciência social, enquanto doutrina moral, não faz outra coisa senão desenvolver e formular os instintos populares. Mas entre estes instintos e esta ciência, há no entanto um abismo que é preciso preencher. Pois se os instintos justos fossem suficientes para a libertação dos povos, eles já estariam libertos há muito tempo. Estes instintos não impediram as massas de aceitar no decurso da sua história, tão melancólica e tão trágica, todos os absurdos religiosos, políticos, econômicos e sociais de que foram eternamente vítimas.” (Mikhail Bakunin)

O objetivo inicial desse texto era combater o subjetivismo na militância, aspecto este responsável em grande parte por erros no curso das lutas reivindicativas e que levam em muitos casos a posteriores “desilusões” ou sectarismos diversos, porém, com o desenrolar da reflexão vimos a importância de incluir o seu oposto na crítica (o fatalismo), tendo em vista dissolver mal entendidos e de fato apresentar uma análise mais “completa” (ainda que obviamente com diversas lacunas). 

Primeiramente, devemos entender que as lutas reivindicativas não são logicamente construídas, elas não ocorrem ou deixam de ocorrer simplesmente por serem consideradas mais “justas” ou não, ou seja, as lutas reivindicativas não se formam unicamente por meio da argumentação lógica da justeza de uma causa “X” ou “Y” (o mesmo vale para a revolução: ela não é construída por meio da propaganda e da explicação lógica para os trabalhadores de que a revolução é necessária para acabar com seus males). As lutas reivindicativas ocorrem pelas condições objetivas e históricas que se encontra determinada fração de classe específica (no caso de reivindicações específicas), e o que determina se elas são lutas reivindicativas avançadas ou atrasadas é determinado nesse sentido por estes fatores históricos e objetivos, ou seja, relativos. Por exemplo, a luta internacional pela jornada de trabalho de 8 horas, ocorrida desde o século XIX, não nos torna mais avançados por lutarmos pela jornada de 6h atualmente. O mesmo pode ocorrer em algum local do país onde os estudantes estejam reivindicando o meio-passe, ao invés do passe-livre. Ou trabalhadores rurais que reivindicam o pagamento do salário atrasado, da marmita estragada, ou demais lutas reativas e defensivas, ao invés do salário mínimo indicado pelo DIEESE. Estudantes que defendem a não adesão ao ENEM, ou o fim das taxas do vestibular, ao invés do fim do vestibular. Talvez realmente em termos políticos estas sejam reivindicações “atrasadas”, porém, o são relativamente ao que está em pauta nas frações ou setores mais avançados do proletariado brasileiro, mas não, muitas vezes, em relação as condições particulares de determinado local de trabalho, estudo ou moradia.  

As conjunturas de refluxo ou assenso colocam toda a classe trabalhadora nestas condições, até mesmo seus setores mais combativos. Não é uma simples escolha própria (uma questão de decisão) fazer lutas “defensivas” ou “ofensivas”. Devemos sim compreender nossas tarefas na atual conjuntura internacional, nacional, estadual, em cada curso, escola, etc. e a partir das condições que encontramos nestes locais, buscar, a partir do nível de organização, da consciência da fração de classe, do nível de conflito social, disputar (isso sim!) o curso do desenvolvimento da luta reivindicativa. O que significa “disputar o curso da luta”? Significa dar a nossa opinião, a nossa orientação, propor métodos e formas de organização combativas, desfazer ilusões e desmascarar os oportunistas aos olhos da base, demonstrando que uma direção combativa pode levar as massas para as vitórias imediatas e históricas. E tudo isso especialmente pela prática, pela ação, pelo exemplo.  Continuar a ler

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1º DE MAIO | Despertar a revolta dos trabalhadores contra a exploração dos patrões e dos governos

Edição extra do Jornal O Amigo do Povo, 1º de maio de 2023. [PDF]

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Sempre no 1º de maio recebemos muitas mensagens e homenagens, algumas sinceras outras nem tanto, elogiando aqueles que trabalham e dão duro todos os dias. Muitos governantes, patrões, gerentes, encarregados, que são responsáveis pelo sofrimento e a pobreza dos trabalhadores, vão sorrir e desejar felicidades. Mas poucas pessoas falam da verdadeira realidade do trabalhador, poucos falam o que o trabalhador merece pelo seu esforço, poucos falam como ele vai conquistar uma vida digna, justa e livre.

É hora de parar com as mentiras eleitoreiras, de ostentação, de nos entupir com drogas, redes sociais e remédios. Essas coisas não vão melhorar nossa vida. É hora de falar a verdade sobre o que o trabalhador merece, é hora de tomar de volta tudo aquilo que os ricos andam nos roubando todos os dias há mais de 500 anos. É difícil? Sim, parece loucura, mas é a única forma de mudar a nossa realidade. Ir à luta, unir nossos irmãos e irmãs do trabalho e do bairro, ser a faísca que vai incendiar o canavial. É essa conversa que precisamos ter nesse 1º de maio.

O trabalho cria toda a riqueza do país, mas vive na miséria!

Imagine que, de uma hora pra outra, não existisse mais trabalhadores no mundo. A agricultura, a indústria, o comércio, os serviços, todos eles com as suas diferentes utilidades, não produziriam mais nada sem a força do trabalho humano.  Ninguém teria o que comer, ninguém teria mais roupa, nem celular, nem móveis, nem casas.

Tudo o que nós temos foi criado pelo trabalho, mas os trabalhadores vivem na miséria, vivem de aluguel ou de favor, sem um emprego fixo, sem um salário digno, sem liberdade de expressão no local de trabalho. Por que isso acontece? Por que na nossa sociedade os patrões, os ricos e os governantes roubam a maior parte do que o trabalho produz! Eles têm a propriedade, as leis e a polícia. Essas coisas não criam nada, não alimentam ninguém, mas garantem que eles vivam como parasitas, improdutivos, roubando o suor dos trabalhadores através do “lucro” e do “imposto”. E isso não é de hoje! Continuar a ler

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O AMIGO DO POVO nº5 – Abril/Maio/Junho2023

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Nesta edição:


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Três meses do Governo Lula: frente ampla e neoliberalismo “progressista”

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº5, Abril/Maio/Junho de 2023.

Jiren D.

Os três primeiros meses do governo Lula confirmaram a análise da edição passada de como o governo Lula seguiria a serviço da velha ordem política e econômica. A frente ampla com a esquerda e a direita, inclusive setores que compunham o governo Bolsonaro, mostra que toda a narrativa de “golpe” e “ameaça fascista” era apenas charlatanismo eleitoral.

Vinte anos se passaram desde o primeiro governo Lula (2003). Naquele contexto econômico-histórico, em que a democracia burguesa estava se estabilizando no pós-ditadura e o neoliberalismo estava se consolidando como a ideologia dominante no Brasil e na América latina, o PT se mostrou um partido viável para setores da burguesia nacional e internacional, por garantir a aceitação pacifica das reformas que seriam aplicadas, como as reformas da previdência e universitária, graças ao controle dos movimentos socais e sindicais pelo reformismo do PT.
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Editorial | Literalmente, dourando a pílula!

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº5, Abril/Maio/Junho de 2023.

Antônio Galego.

Depois de prometer a “volta da democracia” e da “cerveja com picanha”, a realidade começa a bater na porta. O aumento da repressão aos pobres e movimentos sociais desde janeiro provam isso: polícia faz chacina e mata 13 em São Gonçalo (RJ); Em Rondônia 3 camponeses da Liga dos Camponeses Pobres (LCP) assassinados; a Frente Nacional de Luta (FNL) tem 3 lideranças presas em SP; Os indígenas Guarani Kaiwoás de Mato Grosso do Sul sofrem repressão da polícia e jagunços com prisões e feridos. E a lista é longa…

Depois de tantas críticas e lutas contra o “teto de gastos” (chamado na época de PEC da Morte!), o anúncio do “novo arcabouço fiscal” pelo ministro da fazenda Fernando Haddad (PT) demonstra uma continuidade, com mínimas diferenças, da política fiscal em benefício do capital financeiro internacional. O governo garante aos ricos que se a economia deixar de crescer, quem vai pagar a conta são os pobres! Haverá ajuste fiscal e cortes! Os políticos, empresários e economistas aplaudiram o novo teto de gastos, e o que fez a “esquerda” diante do absurdo? Diferente da época de Temer, nenhum protesto registrado, eis a magia do governo atual! Continuar a ler

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Os massacres nas escolas e a falência da nossa sociedade

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº5, Abril/Maio/Junho de 2023.

Aurora.

Van Gogh. Esgotado, lápis em papel, 1882.

A notícias dos recentes massacres nas escolas tem chocado a sociedade brasileira. Aquelas notícias que pareciam que só existiam longe, nos EUA, estão se tornando uma realidade também aqui. Segundo dados da Unicamp, do total de 22 ocorrências desde 2002, 13 delas estão concentradas nos últimos dois anos. A análise sobre as motivações para tal barbárie é complexa pois envolve tanto elementos psicossociais como estruturais.

Não vamos nos debruçar sobre como se formou a subjetividade de cada um dos assassinos pois corremos o risco de cairmos em uma análise demasiado restrita. Por mais difícil que seja, pensamos que é importante pensar de um ponto de partida estrutural.

Acreditamos que um dos primeiros pontos a se desmitificar é a análise hegemônica da esquerda, patrocinada pelos influencers do PT/PSOL, de que tais fatos são diretamente derivados de 4 anos de “discurso de ódio” propagado pelo Bolsonarismo. Bem, por mais que não neguemos que existe uma proliferação de discursos de ódio, convém evocar uma análise materialista antes de confundir causa e consequência.

O discurso cria a realidade ou o contrário? Temos claro que todo e qualquer discurso nasce de uma realidade material. Se vivêssemos em uma realidade de paz, o “discurso de ódio” não se proliferaria tão facilmente. Entretanto, o Brasil vem construindo uma realidade de ódio ao longo dos últimos 30 anos com o aprofundamento do neoliberalismo. Em uma sociedade onde impera a guerra pela sobrevivência e o individualismo, os laços de solidariedade e coletividade são desestimulados. O discurso de ódio nasce daí, desse modelo de sociedade, e se prolifera neste contexto e não o contrário. Continuar a ler

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