Este texto foi escrito em outubro de 2013 por Antônio Galego à Plenária Nacional da RECC e ao 1º Encontro Nacional de Oposições Populares, Estudantis e Sindicais (ENOPES) que ocorreram em novembro do mesmo ano no Rio de Janeiro. Na época Galego era militante estudantil da Oposição CCI ao DCE-UnB.
Por Antônio Galego, outubro de 2013.
“… a ciência social, enquanto doutrina moral, não faz outra coisa senão desenvolver e formular os instintos populares. Mas entre estes instintos e esta ciência, há no entanto um abismo que é preciso preencher. Pois se os instintos justos fossem suficientes para a libertação dos povos, eles já estariam libertos há muito tempo. Estes instintos não impediram as massas de aceitar no decurso da sua história, tão melancólica e tão trágica, todos os absurdos religiosos, políticos, econômicos e sociais de que foram eternamente vítimas.” (Mikhail Bakunin)
O objetivo inicial desse texto era combater o subjetivismo na militância, aspecto este responsável em grande parte por erros no curso das lutas reivindicativas e que levam em muitos casos a posteriores “desilusões” ou sectarismos diversos, porém, com o desenrolar da reflexão vimos a importância de incluir o seu oposto na crítica (o fatalismo), tendo em vista dissolver mal entendidos e de fato apresentar uma análise mais “completa” (ainda que obviamente com diversas lacunas).
Primeiramente, devemos entender que as lutas reivindicativas não são logicamente construídas, elas não ocorrem ou deixam de ocorrer simplesmente por serem consideradas mais “justas” ou não, ou seja, as lutas reivindicativas não se formam unicamente por meio da argumentação lógica da justeza de uma causa “X” ou “Y” (o mesmo vale para a revolução: ela não é construída por meio da propaganda e da explicação lógica para os trabalhadores de que a revolução é necessária para acabar com seus males). As lutas reivindicativas ocorrem pelas condições objetivas e históricas que se encontra determinada fração de classe específica (no caso de reivindicações específicas), e o que determina se elas são lutas reivindicativas avançadas ou atrasadas é determinado nesse sentido por estes fatores históricos e objetivos, ou seja, relativos. Por exemplo, a luta internacional pela jornada de trabalho de 8 horas, ocorrida desde o século XIX, não nos torna mais avançados por lutarmos pela jornada de 6h atualmente. O mesmo pode ocorrer em algum local do país onde os estudantes estejam reivindicando o meio-passe, ao invés do passe-livre. Ou trabalhadores rurais que reivindicam o pagamento do salário atrasado, da marmita estragada, ou demais lutas reativas e defensivas, ao invés do salário mínimo indicado pelo DIEESE. Estudantes que defendem a não adesão ao ENEM, ou o fim das taxas do vestibular, ao invés do fim do vestibular. Talvez realmente em termos políticos estas sejam reivindicações “atrasadas”, porém, o são relativamente ao que está em pauta nas frações ou setores mais avançados do proletariado brasileiro, mas não, muitas vezes, em relação as condições particulares de determinado local de trabalho, estudo ou moradia.
As conjunturas de refluxo ou assenso colocam toda a classe trabalhadora nestas condições, até mesmo seus setores mais combativos. Não é uma simples escolha própria (uma questão de decisão) fazer lutas “defensivas” ou “ofensivas”. Devemos sim compreender nossas tarefas na atual conjuntura internacional, nacional, estadual, em cada curso, escola, etc. e a partir das condições que encontramos nestes locais, buscar, a partir do nível de organização, da consciência da fração de classe, do nível de conflito social, disputar (isso sim!) o curso do desenvolvimento da luta reivindicativa. O que significa “disputar o curso da luta”? Significa dar a nossa opinião, a nossa orientação, propor métodos e formas de organização combativas, desfazer ilusões e desmascarar os oportunistas aos olhos da base, demonstrando que uma direção combativa pode levar as massas para as vitórias imediatas e históricas. E tudo isso especialmente pela prática, pela ação, pelo exemplo. Continuar a ler →