A agonia do império e a tarefa dos revolucionários

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº12, Fevereiro/Março/Abril de 2025.

Antonio Galego

A posse de Donald Trump para um segundo mandato na presidência dos Estados Unidos tem gerado inúmeras análises e reações em todo o mundo assim como no Brasil. Não é por menos, a mudança de gerência do império estadounidense impactará o mundo inteiro. Nesse pequeno texto iremos pontuar alguns elementos dos motivos e da natureza do novo governo Trump e a tarefa dos revolucionários.

Primeiro é importante limpar o terreno. A esquerda liberal brasileira tem a tendência de ver o mundo pela ótica parlamentar burguesa. Com base em simbolismos e dispositivos de pânico, a política da esquerda pendula entre o deboche (de Bolsonaro não ir pra posse, etc.) e o medo da ameaça “nazista”. É uma resposta desesperada que expõe a impotência de uma esquerda que não tem mais base popular, nem programa e nem estratégia de transformação. Tudo gira em torno de criar “climas” propícios a ganhos eleitorais.

O novo governo Trump é fruto do aprofundamento da crise interna e externa dos EUA. Internamente, há o crescimento da insatisfação dos trabalhadores e pobres, com a alta da inflação, desemprego, desastres naturais, etc. Essas contradições são um barril de pólvora, que levaram recentemente à revoltas e conflitos de grande intensidade. Continuar a ler

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Lições da ação direta indígena e popular no Pará

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº12, Fevereiro/Março/Abril de 2025.

Antonio Galego

Diz um velho ditado: “a palavra convence, mas o exemplo arrasta”. Essa ideia, profundamente verdadeira, encontra correlação com outra ideia revolucionária de “propaganda pela ação”, ou seja, a ação concreta, a atividade de resistência, é a maior escola política das massas, não só para os diretamente envolvidos mas indiretamente para todos os explorados.

No dia 14/01 um protesto de indígenas contra retrocessos no âmbito educacional de suas comunidades culminou com a ocupação da Secretaria de Educação do Pará (SEDUC). As exigências eram claras: revogação da Lei 10.820 e a saída do secretário Rosseli Soares. A ação direta do indígenas foi se fortalecendo e expandindo com a chegada progressiva de mais povos, com outras ocupações e trancamento de estradas no interior. No dia 23/01 os professores iniciaram uma greve, se unindo ao movimento. O exemplo do Pará gerou protestos e denúncias em outros estados (Piauí e Goiás) por políticas similares contra comunidades indígenas, camponesas e quilombolas. Continuar a ler

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As drogas na militância: Lições da experiência bakuninista no Brasil

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº12, Fevereiro/Março/Abril de 2025.

J. C. Ramos

Imagem: cartaz da CNT, central anarcossindicalista, durante a Guerra Civil Espanhola (1936-39).

No século XIX, Mikhail Bakunin apontava a revolução social como a única saída real para a miséria, enquanto igrejas e álcool seriam fugas ilusórias. Um século e meio depois, as massas se afastam da revolução e buscam novos escapes nas drogas, apostas e medicações psiquiátricas, entre outras fugas.

Em 2019, o Brasil registrou a abertura de 17 igrejas neopentecostais por dia. Já em 2022, o tráfico de drogas movimentou R$ 146 bilhões (3% do PIB), enquanto o setor de bebidas alcoólicas gerou R$ 120 bilhões. O consumo de antidepressivos e estabilizadores de humor aumentou 36% após a pandemia. Não por acaso, é nos bolsões urbanos da pobreza que a problemática das drogas assume contornos de filme de terror — e é justamente nesses territórios que igrejas e facções do tráfico expandem seu domínio, e onde a presença socialista é quase nula.

No início dos anos 2000, surgiu um movimento no Brasil de resgate do legado anarquista bakuninista da Primeira Associação Internacional dos Trabalhadores, que teve inicio no Rio de Janeiro e se expandiu pelo país. O bakuninismo buscava fortalecer o anarquismo na luta de classes e a auto-organização do proletariado marginal, combatendo a influência liberal e promovendo avanços teóricos. Nesse contexto, a questão das drogas tornou-se parte dos debates e enfrentamentos diários O resgate do anarquismo revolucionário exigiu romper com o ecletismo teórico e a visão contracultural das drogas como transgressão. Ao fomentar ocupações e cooperativas junto ao proletariado marginal, tornou-se inevitável enfrentar os impactos das drogas e da guerra urbana na região metropolitana do Rio. A morte de Porquinho, militante apoiador de uma das ocupações e oriundo da contracultura, executado pelo tráfico foi um evento que impactou a política bakuninista, levando à proibição de drogas ilícitas entre militantes e à orientação do não consumo álcool nos anos 2000. Com a mudança do foco para universidades e funcionalismo público, a restrição foi abandonada, resultando na liberalização do consumo. Continuar a ler

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DF | Ciclo de Formação Básica do Militante do Povo

O Grupo Libertação Popular convida para o Ciclo de Formação Básica do Militante do Povo, que acontecerá em Brasília (DF), na sede da CSP-Conlutas, sempre aos sábados, a partir das 9h da manhã nas seguintes datas: 22/02, 15/03 e 29/03. Iniciaremos cada formação com um Café da Manhã para os participantes, apresentação das pautas e organização da atividade.

Abordaremos em nosso encontro os temas: Trabalho de Base, perfil militante e análise de conjuntura. A formação tem o objetivo de auxiliar jovens, adultos, estudantes, trabalhadores e trabalhadoras a refletir sobre mobilização, organização e atuação junto ao povo; e subsidiar cada militante com conteúdo teórico, ideológico e técnico. Em cada encontro aprenderemos sobre os seguintes temas:


22/02, Sábado às 9h –  Trabalho de base: agitação, propaganda e organização.

Essencial para a mobilização popular, nosso objetivo é subsidiar cada militante com conteúdo teórico, ideológico e técnico para o trabalho de base cotidiano, sempre sob a ótica do método materialista dialético. Discutiremos sobre a importância do trabalho de base, suas prerrogativas e a necessidade de articular agitação, propaganda e organização.

 15/03, Sábado às 9h – Perfil do militante do povo e crítica ao ativismo

Entenderemos como identificar e evitar armadilhas comuns que distanciam nossa ação das massas populares. Um exemplo dessas armadilhas é o ativismo desorganizado, que, apesar de suas boas intenções, carece de uma estratégia política de longo prazo. Aprenderemos quais as características do militante do povo e como nos prepararmos para os desafios da atualidade para a luta classista e combativa.

 29/03, Sábado às 9h- Análise de conjuntura

Discutiremos a importância da teoria e de seu embasamento nos processos reais na realidade cotidiana do nosso país em articulação com a prática política e os valores da ideologia para as transformações e ações necessárias no curso da nossa história. Estudaremos o método de análise de conjuntura e como fazê-la, sendo essas, etapas fundamentais para a organização popular e o avanço e efetividade das nossas ações.


Material para leitura prévia

O material essencial para cada encontro está estruturado no Caderno de  Formação Básica do Militante do Povo: Trabalho de base, perfil militante e análise de conjuntura, Volume I,  disponível no link: https://oamigodopovo.noblogs.org/post/2024/10/17/formacao-vol-1/.

* Obs: É imprescindível, mas não obrigatória,  a leitura prévia dos materiais.

 

Ninguém nasce pronto, todos estamos aptos a aprender!

Formar novos militantes do povo, sementes da libertação!

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Goiânia | Ação contra a escala 6×1 junto aos trabalhadores do Shopping Araguaia

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No último dia 18/01, o GLP-GO e seus apoiadores realizaram mais uma atividade de propaganda contra a escala 6×1, com o objetivo de avançar na construção de uma atuação de base regular e qualitativa. A ação teve como foco os trabalhadores que enfrentam a escala 6×1 na região do Shopping Araguaia, no centro de Goiânia.

Durante a atividade, militantes realizaram panfletagem dentro do shopping, conversando diretamente com os trabalhadores sobre os desafios da rotina na escala 6×1. Continuar a ler

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Não temos uma democracia a defender! Pela autonomia da classe trabalhadora e pela luta por uma vida digna


Comunicado nº3 do Grupo Libertação Popular – GLP, Brasil, dezembro de 2024.

Contato: glp.nacional@inventati.org


Há uma nova tentativa de reviver a polarização eleitoral entre o Lulismo e o Bolsonarismo, sustentada pelo apoio das instituições burguesas. Na semana de 17 de novembro toda a mídia burguesa foi tomada por notícias sobre a descoberta pela Polícia Federal de um “plano de golpe” em 2022 que envolvia as altas cúpulas militares para impedir a posse do novo governo, na deslegitimação do processo eleitoral e no possível assassinato ou prisão de Lula, Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes.

Diante de tais denúncias, qual deve ser a análise e a posição dos revolucionários e militantes classistas?

Primeiramente, é básico e fundamental manter a desconfiança e o pensamento crítico frente aos discursos ideológicos dos órgãos que dirigem toda a trama investigativa e punitiva: a Polícia Federal (PF) e o Superior Tribunal Federal (STF). Tais órgãos sempre foram conhecidos e odiados pela manutenção da ordem burguesa e repressiva, no julgamento e aplicação de medidas contrárias às massas trabalhadoras. Essa premissa inicial não retira a gravidade do ocorrido, mas deve retirar toda a ingenuidade de ativistas e organizações na legitimação das análises e soluções pregadas por essas instituições burguesas. De um ponto de vista classista-revolucionário as massas populares não podem ficar à reboque da “política democrática” da PF e STF. Continuar a ler

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DF | Audiência e protesto denunciam a criminalização dos movimentos populares

Veja mais fotos no canal do Telegram ou na página do Instagram do GLP


A luta contra a criminalização dos movimentos populares que lutam por terra e por moradia no Distrito Federal deu mais um passo importante na manhã do dia 05/12.

Nesse dia ocorreu a Audiência Pública na Comissão de Legislação Participativa (CLP) da Câmara dos Deputados com o tema “criminalização dos movimentos sociais”. A denúncia principal foi a condenação de 11 ativistas e ex-ativistas do Movimento Resistência Popular (MRP) e da forte repressão contra o Acampamento Terra Prometida em Brazlândia (DF).

O ato-Audiência contou com a participação do Movimento Resistência Popular (MRP), Frente Nacional de Luta Campo Cidade (FNL), Central Sindical e Popular Conlutas (CSP-Conlutas), Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), Grupo Libertação Popular (GLP) e do Coletivo de Base Honestino Guimarães (CBHG), além dos parlamentares Glauber Braga (PSOL) e Érika Kokay (PT). Continuar a ler

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Memória | Camarada Yuri, presente!

Na madrugada o dia 28 para 29 de novembro de 2019, em Jataí (GO), o jovem trabalhador e militante anarquista, Yuri Oliveira, acometido pela depressão, tirou a própria vida depois de deixar uma carta no facebook.

Yuri, militava na Federação Autônoma dos Trabalhadores (FAT), já extinta. Era uma pessoa edificante, no sentido de nos construir como pessoas melhores e construir espaços para uma sociedade melhor. A cada reunião ele se mostrava mais radicalizado, a cada leitura teórica mais afiado, a cada conversa uma amizade mais sólida. Nos locais de luta sempre trazia apontamentos fundamentais; em nossas conversas palavras de conforto e ajuda. Muito generoso, não suportava injustiças, gostava de andar de bicicleta e era um grande fã de Belchior.

Em sua carta de despedida pediu que sua morte, longe de nos paralisar, nos tirasse do imobilismo e nos fizesse lutar com mais força e garra por um mundo justo. Teve a generosidade de isentar seus familiares, seus amigos e seus companheiros de qualquer culpa. Mas, não isentou o ambiente universitário, nem o sistema de merda que nos explora, oprime e mata diariamente. Continuar a ler

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CARTAZ | Pelo fim da escala 6×1 e contra o ajuste fiscal

Cartaz do Grupo Libertação Popular (GLP) – [PRETO E BRANCO] e [COLORIDO]

O Grupo Libertação Popular (GLP) lança mais um material de agitação em defesa dos direitos do povo, um cartaz pela redução da jornada de trabalho e contra a política de ajuste fiscal do Governo Lula-Alckmin. Nos próximos dias os núcleos do GLP estarão organizando colagens do cartaz nos locais de moradia e trabalho do povo pobre. Convocamos todos os lutadores do povo a imprimirem e colarem em suas cidades.

Desmarcar o oportunismo do Governo e impulsionar a Luta Popular

O lançamento do cartaz ocorre logo após o anúncio em rede nacional do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), de mais uma etapa do ajuste fiscal decorrente do Novo Arcabouço Fiscal, com um novo Pacote de Cortes em direitos sociais e trabalhistas, que atingirão o aumento do salário mínimo, o abono salarial, o BPC, o Bolsa Família, programas educacionais, etc. A previsão é de corte de 70 bilhões até 2026 e de cerca de 300 bilhões daqui a 5 anos.

Se antecipando a rejeição popular e buscando confundir o povo, o Governo anunciou outro projeto de insenção do imposto de renda (IR) para quem recebe até 5 salários mínimos e um pequeno aumento, “sem excessos” segundo Haddad, do imposto para quem recebe mais de 50 mil. Somos favoráveis a inseção do IR dos trabalhadores e da taxação dos mais ricos, mas não se trata disso. O Governo se aproveitou de uma pauta positiva, ainda que extremamente modesta, para ofuscar e manipular a principal informação: o ataque central e muito maior aos direitos do povo com a política de ajuste fiscal.

Primeiro, são dois projetos separados. O Pacote de Cortes, o mais importante para os ricos, vai ser apresentado ainda esse ano. O segundo só será apresentado ano que vem. Ambos os projetos passarão pelo Congresso e tem sérias chances de serem piorados. Em segundo lugar, a política de ajuste fiscal não começou agora. Nos últimos dias 300 mil beneficiários do BPC já foram bloqueados com o discurso de “maior controle”. Nesse ano o Governo já cortou 20 bilhões de verbas para Saúde, Educação, etc.

Em terceiro lugar, porque a proposta governista de inseção do IR é uma medida insuficiente, senão ilusória? Hoje já estão insentos do IR quem ganha até 2 salários mínimos, faixa que compreende cerca de 70% da classe trabalhadora. A proposta ampliaria a insenção para rendas entre 2 a 5 salários mínimos, menos de 20% dos trabalhadores. A proposta, por outro lado, será analisada em 2025 para começar a vigorar apenas em 2026. O fato é que ao longo desse anos os trabalhadores continuarão sofrendo com os serviços públicos cada vez mais precarizados, redução de direitos sociais e trabalhistas e, pior, com ataques estruturais à própria valorização do salário mínimo e ao abono salarial. Assim, o anúncio nesse momento de inseção do IR pra 2026 não passa de oportunismo político do Governo, um Cavalo de Tróia, e não terá a mínima capacidade real de elevar as condições de vida das massas populares.

Abaixo o ajuste fiscal do Governo Lula contra o povo pobre!

Pelo fim da escala 6×1, sem redução de salários e direitos!

É hora de ir ao povo, agir nas bases e promover a ação direta das massas!

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Os rumos da luta contra a escala 6×1 e a reorganização da classe trabalhadora

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Comunicado nº2 do Grupo Libertação Popular – GLP, Brasil, novembro de 2024.

Contato: glp.nacional@inventati.org


No dia 15 de novembro milhares de pessoas saíram às ruas em mais de 30 cidades do país exigindo a redução da jornada de trabalho, mais especificamente o fim da escala 6×1. A reivindicação é popular e classista, com potencial para unificar as massas populares. Contudo, o formato com que as burocracias de esquerda conduziram as mobilizações na maioria das cidades – sem trabalho de base prévio, com personalismo, legalismo, falta de democracia na construção dos atos e estética de ato partidário – tende a afastar o povo trabalhador e dificultar a vitória do movimento, apesar da potência da pauta.

Até então a maioria das organizações tem apoiado a luta acriticamente ou passivamente, se contentando em lançar notas de apoio ou usando os atos como política de autopromoção, para postar fotos nas redes sociais, sem uma responsabilidade real com os rumos do movimento. Para nós do Grupo Libertação Popular (GLP) é fundamental construir a luta, mas em qualquer movimento existem interesses em disputa. É preciso um balanço sério e uma outra política para avançar na luta. Continuar a ler

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