O dia em que o morro descer e não for carnaval

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº8, Fevereiro/Março/Abril de 2024.

Um samba de Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro

O dia em que o morro descer e não for carnaval
ninguém vai ficar pra assistir o desfile final
na entrada rajada de fogos pra quem nunca viu
vai ser de escopeta, metralha, granada e fuzil
(é a guerra civil)

No dia em que o morro descer e não for carnaval
não vai nem dar tempo de ter o ensaio geral
e cada uma ala da escola será uma quadrilha
a evolução já vai ser de guerrilha
e a alegoria um tremendo arsenal
o tema do enredo vai ser a cidade partida
no dia em que o couro comer na avenida
se o morro descer e não for carnaval

O povo virá de cortiço, alagado e favela
mostrando a miséria sobre a passarela
sem a fantasia que sai no jornal
vai ser uma única escola, uma só bateria
quem vai ser jurado? Ninguém gostaria
que desfile assim não vai ter nada igual

Não tem órgão oficial, nem governo, nem Liga
nem autoridade que compre essa briga
ninguém sabe a força desse pessoal
melhor é o Poder devolver à esse povo a alegria
senão todo mundo vai sambar no dia
em que o morro descer e não for carnaval.

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A crise no PCB como reflexo da crise da esquerda

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº8, Fevereiro/Março/Abril de 2024.

Editora Grito do Povo.

Às vezes, somente é possível ver o real conteúdo de uma organização quando a crise se instaura. Desde 2023 o PCB passa por um momento crítico, centenas de desfiliações de norte a sul, que confluem na tentativa de fundação de um novo Partido, o Partido Comunista Brasileiro – Reconstrução Revolucionária.

Nos últimos anos houve uma enxurrada de cisões na esquerda brasileira, do campo marxista ao anarquista. A diferença do recente racha foi o alto grau de exposição pública nas redes sociais que expôs a fragilidade interna do partidão. Se no curso das lutas, o PCB conseguiu projetar uma imagem forte e disciplinada, a crise veio mostrar o contrário, um partido frágil, engessado pelo burocratismo e liberalizado pelo identitarismo pretensamente “revolucionário”.

Mundialmente, há uma crise na esquerda que tem como fatores conexos, a incapacidade em se adaptar ao novo estágio capitalista e a incapacidade de se criar novas estratégias capazes de mobilizar o povo para além das camadas médias progressistas dos centros urbanos. Se antes da reestruturação produtiva, na década de 70, o foco e força dos socialistas estava na mobilização das massas da cidade e do campo, as décadas seguintes foram marcadas pela incapacidade de penetrá-las. No Brasil nos deparamos com essa transição somente na década de 80, pouco a pouco as ofertas de vagas migraram da indústria para o setor de serviços, a permanência nos empregos se tornou breve e os locais de trabalho passaram a concentrar cada vez menos trabalhadores. Não por coincidência, o período ficou marcado como o último de inserção da esquerda nos movimentos de massa. Continuar a ler

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A continuação do conflito entre Malatesta e os Plataformistas em 1930

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº8, Fevereiro/Março/Abril de 2024.

Antonio Galego

Nestor Makhno com Ida Mett, Arshinov e outros camaradas não identificados.

Para defender uma suposta harmonia dentro do “movimento anarquista” muitos até hoje omitem ou minimizam profundas divergências existentes. Uma delas é a que surgiu com a publicação da Plataforma Organizacional escrita por Makhno, Arshinov, Ida Mett e outros em 1926. A Plataforma estabelecia bases para a reorganização do anarquismo revolucionário. Suas ideias receberam uma forte oposição de setores anarco-comunistas, entre eles Errico Malatesta.

No Brasil existe o mito de que um erro de tradução na correspondência Makhno-Malatesta teria gerado um “mal-entendido”. Outro mito é que posteriormente Malatesta teria se reconciliado com os plataformistas. Ambos são falsos. O foco aqui é analisar a correspondência que Malatesta realizou posteriormente com plataformistas franceses, às vésperas do congresso da União Anarquista Comunista Revolucionária (UACR) em 1930. Continuar a ler

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Governo Lula e os Movimentos Sociais dos trabalhadores marginais: Entre a Cooptação e desestruturação

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº8, Fevereiro/Março/Abril de 2024.

Jiren D.

O novo governo de Lula vem repetindo a sua estratégia de mandatos anteriores de cooptar movimentos sociais para dar uma roupagem popular ao governo. Um exemplo disso foi a entrega da faixa presidencial por uma criança negra, uma indígena, uma mulher catadora e uma pessoa com deficiência. Outro exemplo é a nomeação de Sonia Guajajara como a primeira indígena ministra do Brasil.

No campo dos movimentos sociais, o PT segue com a hegemonia das maiores organizações nacionais, como a CUT, a UNE e o MST. Essas organizações seguem fazendo seu serviço sujo de defender o governo ou se omitindo de lutas importantes, como a greve dos entregadores de aplicativo, a luta contra o arcabouço fiscal e a luta contra o novo ensino médio.

A estratégia dessas organizações é confundir as lutas populares com distrações, como a lutar contra fascistas imaginários, a luta contra taxas de juros, defesa da democracia burguesa ou a construção de narrativas de que essas reformas podem ser benéficas, como a reforma tributária. Continuar a ler

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A União como Caminho para a Liberdade: O desafio da classe odontológica

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº8, Fevereiro/Março/Abril de 2024.

André Luiz Martins

A classe odontológica, assim como tantas outras classes trabalhadoras, tem sido dominada e manipulada pelo sistema opressor que nos governa. O sistema capitalista, baseado na exploração e desigualdade, tem perpetuado a falta de união entre os dentistas, impedindo-os de alcançar um verdadeiro poder coletivo.

Historicamente, a classe dominante tem se beneficiado da fragmentação da classe odontológica, dividindo-os por especializações, hierarquias e concorrências desleais. Enquanto muitos dentistas lutam para sobreviver e atender às necessidades básicas de suas famílias, há aqueles que acumulam riquezas e poder à custa do sofrimento da maioria.

A concentração de poder econômico e político nas mãos de poucos leva à exploração dos dentistas, que se veem presos em condições de trabalho precárias e baixos salários. Sem uma organização unificada e sem uma voz coletiva, a classe odontológica é constantemente subjugada e marginalizada.
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Lei Orgânica das PMs e PL do Veneno: Retrocessos aprovados em conluio entre lulistas e bolsonaristas

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº8, Fevereiro/Março/Abril de 2024.

Aurora

As coisas vão melhorar, nenhum retrocesso mais! Essa foi a promessa dos ufanistas da esquerda institucional. Enquanto isso, em apenas um ano do novo (velho?) governo Lula dois projetos que prometem enrijecer o Estado policial e o modelo agroexportador são passados sem grandes ressalvas, e o pior, sem resistência organizada pelos sindicatos, centrais e movimentos, que dizem representar a classe trabalhadora.

O PL 1.459/22, PL do veneno, de autoria do senador Blairo Maggi (PP-MT), conhecido como “rei da soja”, limita o poder dos atuais órgãos de regulamentação (ANVISA, Ibama) para barrar agrotóxicos. O projeto é tão estapafúrdio que abre brecha para aprovação inclusive dos que tenham substâncias cancerígenas em sua composição. A decisão passa agora a ficar restrita apenas ao Ministério da Agricultura, que tem competência para avaliar a permissão dos agrotóxicos baseado unicamente no interesse da agricultura e não da saúde humana e do meio ambiente. A previsão é que se tenha um novo recorde de aprovação de agrotóxicos no Brasil, superando o recorde anterior, o do Governo Bolsonaro que liberou outros 2.182 “produtos”.  Continuar a ler

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Obras de expansão rodoviária incrementam a especulação imobiliária no Distrito Federal e no Entorno

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº8, Fevereiro/Março/Abril de 2024.

Érico

A expansão urbana de Brasília desde a sua construção, em 1960, foi guiada pela abertura das rodovias radiais que ligam o Distrito Federal a capitais e cidades importantes no país. No mesmo sentido das rodovias federais, a periferia se estabeleceu por estas rotas, abrigando a população trabalhadora, pobre, expulsa das áreas nobres e centrais da cidade pelos planos racistas e discriminatórios dos governos Federal e Distrital. Essa exclusão resultou, ao decorrer dos anos, na ocupação próxima aos vetores de expansão rodoviária, como é o caso das regiões administrativas, núcleos urbanos do DF, e municípios goianos que se desenvolveram margeando as rodovias federais, próximas ou além dos limites administrativos do DF, e distante das áreas centrais.

Com a consolidação dessas áreas urbanas, e os problemas estruturais da demanda por habitação, sobretudo da classe trabalhadora, novos bairros surgem com o preceito de resolver os problemas do défice habitacional, e para o adensamento urbano no DF. Entretanto, como se vê, os maiores esforços do governo distrital estão na dotação do território de infraestruturas rodoviárias, criando novas vias, viadutos, ou expandindo as existentes, salvaguardando os interesses de empreiteiros e grandes empresários do ramo imobiliário, além de priorizar o transporte individual. Um exemplo, é o bairro Urbitá, e os novos condomínios fechados e verticalizados em Sobradinho (DF), que através de acordos com empresários imobiliários, será erguido às margens de uma rodovia que sofreu diversas obras de expansão.
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Irã executa quatro presos políticos curdos

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº8, Fevereiro/Março/Abril de 2024.

Jiren D.

No último dia 29 de janeiro, a ditadura teocrática do Khomeini no Irã executou mais quatro presos políticos curdos na prisão de Ghezel Hesar em Karaj, província de Alborz. Os quatro indivíduos, identificados como Faramarzi, Mazloum, Azarbar e Fatehi, foram condenados à morte por uma acusação falsa de “espionagem para Israel”.

Os quatro presos políticos eram membros do Komala, um partido político reformista curdo que luta pela independência do Curdistão no Irã. Eles foram detidos pelo Ministério da Inteligência em junho de 2022 e foram mantidos em segredo durante toda a sua detenção.

No dia anterior à sua execução, as famílias dos presos foram convocadas para a prisão de Evin para uma visita familiar. No entanto, os presos foram transferidos para a prisão de Ghezel Hesar e executados na presença de autoridades judiciais e de segurança. Após serem brutalmente enforcados o Estado se negou a entregar os corpos aos familiares e camaradas. Continuar a ler

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Um autêntico Programa Revolucionário deve emanar da realidade concreta das Massas Populares!

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº8, Fevereiro/Março/Abril de 2024.

Antonio Galego

Uma atuação política eficiente deve levar em consideração a realidade da classe ou camada social que se organiza ou se pretende organizar. Essa realidade abarca principalmente as condições materiais de vida (econômicas, políticas e sociais), mas também as subjetivas e ideológicas.

Hoje, tanto a esquerda como a direita tendem a desconsiderar as massas. A esquerda elegeu a aristocracia operária e dos serviços públicos, e uma pequena-burguesia progressista metropolitana, como modelos ideais do que seria (ou deveria ser) a “classe trabalhadora”. A direita também criou uma ideia distorcida de “trabalhador” baseada nos pequenos e médios empresários, “empreendedores”. Ainda que esquerdistas e direitistas se afirmem “representantes” da classe trabalhadora ou do povo brasileiro, estão longe disso, conseguem apenas expressar (parcialmente) os interesses e simbologias dessas camadas médias da sociedade. Continuar a ler

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Campanha de solidariedade à resistência palestina, participe!

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº8, Fevereiro/Março/Abril de 2024.

O jornal O Amigo do Povo iniciará no mês de fevereiro, juntamente com o lançamento da 8ª edição, uma campanha em solidariedade à resistência palestina e contra o massacre e o expansionismo colonial em Gaza realizado pelo Estado de Israel.

Convidamos todos os nossos leitores e apoiadores, militantes do movimento popular, a se juntar com a gente na colagem de cartazes em locais de trabalho, de estudo, nas ruas, em espaços culturais, sedes de movimentos e sindicatos. É importante reforçar a solidariedade internacional, continuar denunciando os crimes do colonialismo e do imperialismo, assim como exaltando a heróica resistência do povo palestino.

📌 Para adquirir GRATUITAMENTE os cartazes (coloridos, tamanho A3+), basta enviar um email para o jornal informando a quantidade e o endereço para o envio (com CEP) que nós enviaremos pra você!

📬 E-mail: oamigodopovo@inventati.org

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