As “feiras anarquistas”, entre o confusionismo e a capitulação

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº7, Outubro/Novembro/Dezembro de 2023.

Antonio Galego

Basta uma passada de olho nas programações e relatos das “feiras anarquistas” no mundo e no Brasil, com raríssimas exceções, para se espantar com o tamanho do estrago causado por anos de revisionismo e crise internacional do proletariado.

Para além das especificidades, da quantidade de pessoas ou “coletivos”, no geral essas feiras têm expressado uma profunda desvinculação do anarquismo das massas populares. Primeiramente isso se expressa pela desorientação causada pelo identitarismo e pelo culturalismo hegemônicos nos temas e abordagens dos debates, onde a “dieta vegana” e a “não-monogamia” ou o uso de “bike” (presente em quase todas as feiras anarquistas ao redor do mundo!) demonstram a escandalosa pobreza política de uma pequena-burguesia “libertária” alheia aos grandes problemas sociais, políticos e econômicos das massas trabalhadoras.
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O 5º Congresso da CSP-Conlutas e os desafios para a retomada de um movimento de massas Classista e Antigovernista

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº7, Outubro/Novembro/Dezembro de 2023.

Antonio Galego

O 5º Congresso Nacional da CSP-Conlutas ocorreu durante os dias 7, 8, 9 e 10 de setembro. Nos dias seguintes (11 e 12) ocorreu o encontro da Rede Internacional de Solidariedade e Luta, formada por cerca de 90 organizações de todo o mundo, entre elas a CSP-Conlutas, a CGT (Espanha) e União Sindical Solidaires (França).

O Congresso se insere numa conjuntura política complicada para os lutadores classistas e revolucionários, marcada especialmente pela adesão de quase todas as burocracias sindicais, estudantis e populares (CUT, CTB, UNE, UBES, MST, MTST, etc.) ao Governo Lula-Alckmin. Além disso, uma parcela importante de correntes e partidos de esquerda ou aderiram ao Lulismo (como o PSOL), ou mantém uma postura dúbia (como PCB, UP, etc.). A CSP-Conlutas é a única central que têm defendido a independência de classe e demonstrado um potencial de apoiar e fazer lutas sem “rabo preso”, pelo menos à princípio.
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Reflexões críticas sobre as eleições nas escolas do DF

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº7, Outubro/Novembro/Dezembro de 2023.

Antonio Galego e Aurora

Se aproxima mais uma eleição para as direções e conselhos escolares das escolas públicas do Distrito Federal. Mais do que uma apologia do processo é necessário refletirmos como ele se relaciona com as estruturas políticas e econômicas às quais está inserido. Lembremos sempre que quando falamos de gestão estamos falando de poder. Isso é fundamental para entender as limitações e ilusões envolvidas nesses eleições.

Uma reflexão crítica quase não tem sido feita. O que temos visto por parte do GDF/SEDF, dos sindicatos (SINPRO e SAE) e das direções escolares é um discurso apologético sobre a “democracia” em abstrato, sobre as possibilidades de “transformação” das escolas, etc. As próprias chapas se diferenciam muito pouco entre si. Se vota mais pelas pessoas do que pelas propostas. Além disso, existem questões que sequer entram no debate e que tentaremos expor aqui. Continuar a ler

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Gildo Rocha, presente! Os 23 anos do assassinato de um lutador do povo pela polícia do DF

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº7, Outubro/Novembro/Dezembro de 2023.

Antonio Galego

No dia 06 de outubro do ano 2000 o trabalhador e militante socialista, Gildo Rocha, foi assassinado por dois policiais civis do Distrito Federal. Gildo era gari, funcionário SALUB (nome anterior do SLU), militante do PSTU e diretor do Sindicato dos Servidores das Empresas Estatais do DF (SINDSER).

O assassinato político de Gildo ocorreu durante uma greve dos garis. Na madrugada do dia 06, ele e mais dois companheiros de trabalho realizavam uma ação direta já tradicional nas greves da categoria: furavam sacos de lixo para dificultar o trabalho sujo dos fura-greves.

Quando estavam no centro de Ceilândia foram surpreendidos por um carro com três policiais civis a paisana, que renderam os dois amigos de Gildo mas o deixaram escapar de carro, iniciando a perseguição. Dois policiais o perseguiram, desferiram 17 tiros contra seu carro, atingindo e matando o trabalhador com um tiro nas costas.

O crime brutal segue impune até hoje, como tantos praticados por policiais e outros agentes do Estado. Um dos policiais faleceu em 2009 num acidente e nem chegou a ser julgado, o outro foi absolvido em 2019 por júri popular e segue livre. A estratégia racista da polícia desde o início foi desmoralizar e criminalizar os três trabalhadores, plantando provas falsas no carro de Gildo (uma arma e um cigarro de maconha).

O depoimento de um dos policiais acusados deixa claro a orientação racista da polícia: “Eram três homens parados fora de um carro, em frente a um banco, de madrugada, uma hora da manhã. Como ia imaginar que faziam piquetes?”. A política de “guerra às drogas”, que até hoje é responsável pelo aprisionamento e genocídio de tantos inocentes, naquela madrugada há 23 anos, via naqueles três trabalhadores negros alvos para a sua violência.

O governo de Joaquim Roriz (que um ano antes protagonizava ao Massacre da Novacap!), a polícia e o sistema jurídico são culpados por essa morte e a sua impunidade. Infelizmente a burocracia sindical do DF também tem sido responsável pelo apagamento dessa importante memória. Ontem, hoje e sempre a memória honrada e combativa de Gildo Rocha deve ser lembrada por todos os militantes e organizações populares. Ela reforça quem são nossos inimigos e do que são capazes, mas reforça acima de tudo a nossa determinação de seguir na luta pela libertação dos trabalhadores.

Não esquecemos, nem perdoamos!

Honrar os mártires do proletariado com luta e organização!

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Despejo no Sol Nascente: “Se eles derrubarem 10 vezes, nós levantaremos 50!”

Pela segunda vez em 2023, moradores da batizada Vila Canaã no Sol Nascente Trecho I, sofrem despejo do governo de Ibaneis Rocha (MDB). A maior “favela” do país conta com inúmeras ocupações de trabalhadores sem teto, que por inúmeras vezes são despejados de seus lares, em sua grande maioria, em condições precárias de vida e humanidade.

A operação da política militar, do Batalhão de Operações Espaciais e da agência DF Legal iniciou às 9 horas da manhã de hoje (14). A presença de mulheres, mulheres de idade, crianças e homens, em sua maioria pretos, demonstram certo perfil dos moradores. Em sua maioria, trabalhadores da reciclagem, domésticas, desempregados e trabalhadores informais que há 6 anos lutam pela permanência de seus barracos de pé.

A resistência dos trabalhadores e moradores à ação injusta iniciou com uma pequena barricada em chamas, mas que logo foi desfeita pelos mandados de Ibaneis e da PMDF. Os moradores despejados cobram solução e indicam: não há para onde irem. Se derrubarem 10 vezes, eles voltarão 50.

O jornal O Amigo do Povo esteve na área acompanhando o conflito e nos solidarizamos com as famílias da Vila Canaã que ali vivem e sonham com um futuro melhor. Convocamos todos a divulgarem as injustiças praticadas pelo governo Ibaneis e pela PMDF nas periferias e favelass da capital federal.

VIVA A LUTA POR MORADIA DOS TRABALHADORES DO SOL NASCENTE!
O POVO QUER MORADIA, NÃO REPRESSÃO!

 

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Tradução | O Estado – de “La Solidarite Révolutionnaire”

Nota introdutória, por Antônio Galego.

Esse é o segundo artigo do jornal “La Solidarite Révolutionnaire” que publicamos em nosso site. A tradução do francês para o português foi feita novamente pelo camarada Érico. A nossa pretenção é seguir publicando e resgatando essas contribuições valiosas de militantes revolucionários do proletariado ao longo da história, invisibilizados pela história oficial (burguesa, soviética ou, inclusive, “eurolibertária”).

Como explicamos na introdução da primeira tradução:

“O jornal “La Solidarite Révolutionnaire” (A Solidariedade Revolucionária) foi um órgão de propaganda bakuninista criado em junho de 1873 (há 150 anos atrás!) e editado em Barcelona por refugiados franceses da guerra franco-prussiana de 1870-1871. Os seus lemas eram “Anarquia – Coletivismo – Materialismo”, assim como “Nem direitos sem deveres, nem deveres sem direitos”, expostos em seu cabeçalho.”

Para mais informações: https://oamigodopovo.noblogs.org/post/2023/06/02/traducao-jornadas-de-junho-1848/


O Estado

Matéria do jornal La Solidarite Révolutionnaire, nº 4, Barcelona, 1º de julho de 1873.

A sociedade atual é fundada sobre relações desiguais entre os homens que a compõe. Em outros termos, uma parte de seus membros – a minoria – recebe mais do que ela dá. Uma outra parte – a maioria – dá mais do que ela recebe.

Mas como um tal estado de coisas não pode durar por conta própria, como cedo ou tarde a maioria deverá deixar de ser enganada e expropriar em razão da utilidade pública a minoria do leão que havia se feito. Este último teve que pedir a um terceiro a força que lhe faltava e os meios de resistência, isto é, a opressão que ela não encontrava em si mesma.

Esse terceiro é o governo ou o Estado, desnecessário em uma Sociedade digna desse nome, onde a ordem material e moral resulta naturalmente da igual satisfação dos interesses, e cuja única missão é a conservação artificial do que é, ou seja, dos privilégios de uns e da exploração de outros, com o auxílio de um exército, de uma administração, de uma magistratura, de um clero e de um orçamento que cresce a cada ano.
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Debate: “Os desafios das lutas populares no contexto do governo Lula/Alckmin”

O jornal O Amigo do Povo convida os trabalhadores e trabalhadoras, estudantes e militantes populares a participarem do debate “Os Desafios das Lutas Populares no Contexto do Governo Lula/Alckmin”. O debate será realizado no próximo dia 12 de agosto (sábado), às 10h da manhã, na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG), na sala 109.

Nos primeiros meses do governo Lula/Alckmin, já foram tomadas medidas que beneficiam várias frações da burguesia agrária, industrial e financeira, como: Incentivo fiscal para a indústria automobilística, Plano Safra, Lançamento da ferrovia oeste-leste, votação do arcabouço fiscal, Reforma tributária e do Marco Temporal.

Este último, o Marco Temporal, é o maior ataque aos direitos indígenas da história brasileira. Ele foi aprovado graças aos votos da base governista da direita e extrema-direita.

Diante desse contexto, é hora de se opor ao projeto burguês em curso construindo uma verdadeira resistência popular. Precisamos lutar palmo a palmo contra a influência do reformismo na lutas populares. Precisamos construir, com paciência, uma linha classista e combativa.

Essas são discussões essenciais que pretendemos fortalecer com o debate.

🏴🚩 Venha participar conosco!

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O AMIGO DO POVO nº6 – Julho/Agosto/Setembro de 2023

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Nesta edição:


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França: da greve contra a reforma da previdência à rebelião contra a polícia

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº6, Julho/Agosto/Setembro de 2023.

Antonio Galego

O assassinato pela polícia de um jovem de 17 anos de origem argelina, Nahel M., reascendeu uma onda de protesto na França. Os trabalhadores franceses e imigrantes que tomaram de conta das ruas e paralisaram setores estratégicos da economia no início do ano contra a reforma da previdência de Macron, retomam nos meses de junho e julho para denunciar o racismo e a violência policial.

Para se ter dimensão da revolta popular, entre a noite de 27 para 28 de junho e a de 3 para 4 de julho, houve oficialmente 12.031 veículos queimados, 2.508 prédios incendiados ou degradados, incluindo 273 instalações da polícia nacional, municipal e gendarmeria, 105 prefeituras incendiadas ou degradadas, 168 escolas atacadas. 722 policiais ficaram feridos. Os órgãos do Estado e da civilização burguesa não foram perdoados. Continuar a ler

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EDITORIAL | Por um Movimento de Oposição Classista ao Governo Lula!

Editorial do Jornal O Amigo do Povo, nº6, Julho/Agosto/Setembro de 2023.

Antonio Galego

Esse primeiro semestre foi essencial para o PT reconquistar a confiança da burguesia. Medidas que beneficiam as frações da burguesia agrária, industrial e financeira foram tomadas rapidamente: incentivo fiscal para a indústria automobilística; o plano safra 2023/2024 é o maior investimento estatal no “agronegócio” da história (27% maior que 2022); inauguração da Ferrovia Norte-Sul e lançamento da Oeste-Leste, todas voltadas a exportação de grãos e minérios; o novo arcabouço fiscal e a reforma tributária aprovados por todos os partidos da ordem.

A tese do Marco Temporal, maior ataque aos direitos indígenas, que não havia sido aprovado nos governos anteriores passou com facilidade sob o governo Lula graças aos votos da base governista da direita e extrema-direita. Os votos da esquerda e da “bancada do cocar” de nada adiantaram.

Mais que discursos ou leis, tais medidas anunciam o aumento da riqueza e do poder dos ricos. E quem vai sofrer? Os de sempre, os trabalhadores. Não é hora de perder tempo com bancadas parlamentares ou polêmicas morais. Chega de pequena política. É hora de opor ao projeto burguês em curso uma verdadeira resistência popular. ■

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