Dia do Estudante Combativo

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº4, Janeiro/Fevereiro/Março de 2023.

Por Érico.

O dia 28 de março é celebrado em memória de Edson Luís, estudante secundarista morto pela PMRJ durante a ditadura-militar, no ano de 1968. Filho de família pobre, Edson mudou-se de Belém (PA) para o Rio de Janeiro a fim de cursar o segundo grau, e utilizava o Restaurante Central dos Estudantes, também chamado “Calabouço” para fazer suas refeições. Devido aos ataques a educação, a precarização na estrutura do restaurante e o preço da alimentação, os estudantes participavam de uma manifestação reivindicando melhorias e a diminuição do preço para fazer as refeições no restante, quando a polícia militar invadiu o local a tiros. Edson foi baleado e morreu no local.

Para que o corpo do estudante não fosse ocultado, como fizeram as forças policias durante toda a ditadura militar, os estudantes levaram o corpo de Edson Luis até a Assembleia Legislativa da Guanabara. A morte violenta do estudante pelos agentes policias do Estados inaugurou uma onda de protestos em todo o país. Estudantes e trabalhadores se solidarizaram com a luta que os estudantes cariocas haviam iniciado, e passaram a denunciar e lutar nas ruas contra as privatizações e a precarização do ensino público. Continuar a ler

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Crise política e massacre contra o povo peruano

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº4, Janeiro/Fevereiro/Março de 2023.

Por Antônio Galego.

A América Latina segue seu curso normal de crises, rebeliões, massacres, ilusões. O Peru é o novo palco de enfrentamentos. O estopim da crise veio com o anúncio em 07 de dezembro, pelo então presidente Pedro Castillo, de dissolução do Congresso e convocação de uma assembleia constituinte. Castillo em seu anúncio disse que respeitaria o mercado e a propriedade privada, uma marca das suas contradições e vacilações.

O ato de desespero, no entanto, é a ponta do iceberg da profunda crise peruana. Somente nos últimos 4 anos pelo menos 5 presidentes foram presos (contando com Castillo), 4 deles por envolvimento com corrupção no caso Odebrecht da Lava Jato. O presidente Alan García se suicidou. Em nenhum deles a acumulação capitalista, assentada na burguesia agrária e extrativista, que gera a miséria e superexploração da massa peruana, foi enfrentada. Com Castillo não foi diferente. Continuar a ler

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Há guerra nas quatro partes do Curdistão… e em Paris!

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº4, Janeiro/Fevereiro/Março de 2023.

Por Antônio Galego.

O assassinato político de 3 curdos (Evîn Goyî, Abdurrahman Kızıl e Mîr Perwer) em Paris no dia 23 de dezembro de 2022 gerou protestos massivos e confrontos em várias cidades da França e do mundo. O sangue dos mártires em Paris traz a tona a política expansionista e genocida da Turquia, intensificada durante o ano de 2022, atacando militarmente cidades e guerrilheiros curdos no nordeste da Síria (Rojava), no norte do Iraque (Curdistão do Sul) e na Turquia.

Como explicamos na edição anterior, os trabalhadores curdos desenvolvem a luta armada em territórios estratégicos no Oriente Médio (Turquia, Síria, Iraque e Irã) com o objetivo de construir o socialismo e o confederealismo democrático. O governo turco de Erdoğan é o principal inimigo do movimento de libertação, um governo que comete crimes de guerra e segue impune pelas potências imperialistas e organismos multilaterais.

No dia 20 de novembro de 2022 a Turquia lançou um ataque aéreo em grande escala usando caças e drones nordeste da Síria (Rojava), atacando Kobanî, Dêrik, Dirbesiye, norte de Aleppo e outras áreas na fronteira turco-síria. Segundo o dossiê do Make Rojava Green Again, “os locais atingidos se estendem pelo espaço aéreo controlado tanto pelos EUA como pela Rússia, sugerindo que ambos os países sinalizaram positivamente para os ataques. O bombardeio aéreo tem até agora se concentrado na infraestrutura civil e nas instalações de serviços” [1]. Somente em 2022 a Turquia realizou 89 ataques, nos quais pelo menos 71 pessoas foram mortas e 124 ficaram feridas. [2] Continuar a ler

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Anarquismo e liberdade religiosa

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº4, Janeiro/Fevereiro/Março de 2023.

Por Antônio Galego.

“A abolição radical de toda religião oficial e de toda Igreja privilegiada, ou apenas protegida, remunerada e sustentada pelo Estado. Liberdade absoluta de consciência e propaganda para cada um, com a faculdade ilimitada de erigir tantos templos quantos aprouver a cada um, a seus Deuses, quaisquer que sejam, e pagar e sustentar os sacerdotes de sua religião.” (Bakunin, Catecismo Revolucionário, 1866)

 

Os anarquistas sempre foram associados ao ateísmo, e não deixam de ser, mas pouco foi falado sobre a defesa da liberdade religiosa como elemento central do programa e do método de luta dos anarquistas. Hoje a questão religiosa retorna com toda força no Brasil. Por isso a importância de retomar esse tema e, pra além do debate filosófico (que faremos em outro momento), pensar na questão programática e nas táticas de luta.

1) A destruição do Estado: condição prévia da liberdade religiosa

Ao longo da história centenas de religiões e crenças locais foram perseguidas em nome de um único Deus, em nome da centralização da fé em uma verdade absoluta e oficial. Esse absolutismo religioso sempre se apoiou no centralismo político do Estado. Um e outro se formaram juntos, através das guerras de conquista coloniais e processos de centralização dos Estados Imperiais.

O Cristianismo, Islamismo e Judaísmo foram integrados de diferentes maneiras às estruturas estatais e se expandiram não só pelo convencimento das populações, mas pela negação de outras crenças, pela sua imposição econômica e militar como religião oficial. Cruzadas, Guerras Santas, colonialismo europeu, a criação do Estado de Israel, a contrarrevolução no Irã, são exemplos de como o Estado se associou a religião para a centralização de poderes e riquezas.

Hoje, para as igrejas que almejam crescimento segue naturalizado o uso dos governos e leis em benefício próprio. Os bispos das igrejas evangélicas que se reconciliam com Lula são um exemplo disso, e a “Carta aos Evangélicos” no período eleitoral foi o movimento inverso do presidente buscando o apoio das igrejas para governar e dominar as massas.
Importantes líderes evangélicos no Brasil têm crescido a partir de três pilares: 1) racismo religioso; 2) expansão empresarial; 3) influência política. Eles têm estimulado leis discriminatórias nas escolas, ataques a terreiros e a casas de reza indígenas, evangelização de povos isolados, ataques ao catolicismo popular, ataques aos direitos das mulheres e LGBTs, etc. A força e impunidade desse fundamentalismo cristão não vem da “mão divina”, mas de suas relações com o Estado e a exploração capitalista. Continuar a ler

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O Massacre da NOVACAP

Matéria do Jornal O Amigo do Povo, nº4, Janeiro/Fevereiro/Março de 2023.

Por Érico.

No dia 2 de dezembro de 1999 o episódio de violência cruel protagonizado pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), a mando do governador, à época, Joaquim Roriz e do Secretário de Segurança Pública Paulo Castelo Branco, marcou para sempre a luta dos trabalhadores no Brasil.

Naquele ano, servidores públicos da Companhia Urbanizadora da Nova Capital – Novacap, entraram em greve reivindicando reajuste salarial. Os trabalhadores fecharam os portões da empresa localizada no Setor de Indústria e Abastecimento, região próxima ao centro de Brasília. Continuar a ler

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Quadrinhos e frases revolucionárias

Seção do Jornal O Amigo do Povo, nº4, Janeiro/Fevereiro/Março de 2023.

“O fetichismo da legalidade foi e continua a ser um dos traços característicos do socialismo favorável à colaboração de classes. O qual implica a crença na possibilidade de transformar a ordem capitalista sem entrar em conflito com os seus privilegiados. Mas isto, mais do que um indício de uma ingenuidade pouco compatível com a mentalidade dos políticos, é indício da corrupção dos líderes. Instalados em uma sociedade que fingem combater, recomendam respeito pelas regras do jogo. A classe operária não pode respeitar a legalidade burguesa, a não ser que ignore o verdadeiro papel do Estado, o caráter enganoso da democracia; em poucas palavras, os princípios básicos da luta de classes” (Victor Serge)

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Os revolucionários devem ir para as ruas “defender a democracia contra o golpismo”?

Por Antônio “Galego” e Jiren D.

Faixa marca a política pacifista e legalista da pequena burguesia universitária da ANPG/UNE (Foto: SP, 09/01/2023)

Os acontecimentos de 08 de janeiro em Brasília reforçam a análise [1] de que a derrota eleitoral não só não derrotaria o bolsonarismo, como poderia criar condições para sua radicalização. Diante de tanto alarmismo da grande mídia e de vários setores da sociedade, é importante esclarecer o significado dos eventos do dia 08.

A tomada dos prédios da esplanada está muito longe de uma tentativa de golpe de Estado. Um golpe não acontece simplesmente por uma vontade de um ex-presidente e da algumas centenas de “militantes radicais” que depredam palácios. Tomar o poder mediante golpe de Estado exige uma correlação favorável dentro das classes exploradoras (frações das burguesia, do alto comando da Forças Armadas, das classes estatistas, dos poderes institucionais nacionais e regionais, da grande mídia etc.) e muitos outros fatores do mundo social. Nada disso está dado. Os setores golpistas da burguesia nacional e internacional são, ainda, minoritários.

O que houve ontem em Brasília foi nada mais do que uma ocupação relâmpago de prédios públicos para gerar pressão política e desestabilizar os governos instituídos, tática amplamente utilizada por diferentes grupos e classes ao longo da história da luta de classes, inclusive no Brasil recente. Afirmar que uma tomada temporária de sedes dos três poderes equivale a um golpe é um exagero discursivo. Continuar a ler

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[CARTAZ] Campanha internacionalista em apoio ao povo curdo!

O movimento social-revolucionário de libertação do Curdistão, com a direção do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) e a consolidação dos territórios autônomos no norte da Síria (Rojava), tem enfrentado momentos decisivos de sua luta.

O momento atual é de acirramento da luta de classes em todo o território do povo curdo: na Síria, Iraque, Irã e Turquia, os conflitos sociais ou militares tem se aprofundado, ainda que com características e intensidades diferentes. O assassinato em plena Paris de três mártires curdos, e a resposta na forma dos protestos massivos e combativos, é uma consequência desse contexto geopolítico.

O principal inimigo da revolução é a Turquia, sob o governo colonialista de Erdogan, que tem realizado uma guerra suja contra Rojava, contra os revolucionários no Iraque e na própria Turquia, com o uso de armas químicas, ataque de infraestruturas civis e econômicas, etc. No Irã os revolucionários curdos também tem atuado decididamente junto à luta contra o governo fundamentalista e capitalista do Irã.

Nós do jornal O Amigo do Povo, um órgão anarquista e proletário recém criado no Brasil central, nos juntamos às milhares de vozes em todo mundo em solidariedade ao povo curdo, para dizer basta a guerra suja da Turquia contra os curdos!

No início de 2023 realizaremos a impressão e colagem de cartazes em solidariedade, junto com a divulgação da próxima edição do jornal. Todos que enviarmos os jornais também receberão um cartaz, e se quiserem mais cartazes é só avisar a quantidade pelo nosso email: oamigodopovo@inventati.org

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[CARTAZ PNG P/B]  *  [CARTAZ PDF P/B]

Solidariedade é mais que palavra escrita!
Por uma nova Internacional para a luta revolucionária das massas!

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[COPOAP] Ucrânia: Um povo esmagado entre blocos imperiais

Reproduzimos o Comunicado publicado no blog EMBATE, de autoria do Coletivo Pró-Organização Anarquista em Portugal (COPOAP). O texto analisa pelo anarquismo revolucionário a situação do povo ucraniano. Saudamos os camarada de ultramar, compartilhamos e concordamos com a análise apresentada no texto. Continuar a ler

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Estamos à beira de um golpe? Notas sobre a luta de classes no contexto pós-eleitoral

Por Antônio “Galego”.

1 – A euforia de uma parte da população pela vitória eleitoral de Lula/Alckmin (PT-PSB) no domingo durou pouco. A ressaca de segunda-feira foi acompanhada da notícia de diversos bloqueios de bolsonaristas em rodovias de vários estados do país. Ainda no domingo, algumas horas após o resultado oficial, já haviam começado os bloqueios, vindo a tona o que a propaganda Lulista tentava esconder: a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro (PL) não é a derrota da extrema-direita conservadora, ao contrário, articulada com outros fatores importantes podem gerar seu fortalecimento. Quem reduz a política à dimensão eleitoral (ou institucional) está condenado a cometer erros e cair em frustrações.

2 – Para entender esse contexto pós-eleitoral de forma correta é importante romper com os idealismos gerados pela própria polarização eleitoral e a política do medo estimulada em ambos os lados: 1) os idealismos da base bolsonarista, que acreditam numa “ameaça comunista”, que Lula é a personificação do demônio e acreditam nas condições políticas para um golpe militar; 2) ou os idealismos dos esquerdistas, que acreditam numa grande “ameaça fascista e golpista” sem levar em conta a luta de classes e o que cada candidato representa nela. Ambos acreditam na possibilidade de um golpe de Estado e desconsideram o processo real da luta de classes. Todos esses idealismos só poderiam gerar as situações mais patéticas ao longo dessa semana.

3 – Ainda que o objetivo aqui não seja uma análise das eleições em si, é importante tomar alguns dados sobre as candidaturas e dos posicionamentos das classes dominantes. Após quase 2 anos preso e impedido de participar das eleições em 2018, Lula retornou ao cenário político nacional, articulando uma frente ampla com frações estratégicas da burguesia e com importantes partidos e políticos representantes dos ricos e do imperialismo. Só ingênuos podem acreditar que isso foi por que ele “provou sua inocência”, ou pior, acreditar que foi fruto da pressão da pífia campanha “Lula livre”.

4 – Lula retorna ao cenário político sob a tutela de setores da burguesia e do imperialismo pra fazer exatamente o que está fazendo: organizar um novo bloco no poder com mais eficiência e estabilidade para a acumulação capitalista no Brasil. Que isso desagrade parcelas da burguesia rural e comercial, setores da pequena-burguesia e das forças repressivas vinculadas ao bolsonarismo, não temos dúvida. A burguesia rural (chamada de “agronegócio”) tem sido um agente central dos bloqueios de estradas, não apenas os caminhoneiros bolsonaristas. Essas serão as principais forças sociais da oposição de direita ao futuro governo Lula/Alckmin (PT-PSB). Mas não possuem força suficiente, nem contexto, para uma ruptura com a ordem democrático burguesa nem uma criminalização absoluta de Lula e do PT, que aliás tem servido de tantas formas a seus interesses de classe (e eles sabem disso).
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