Governo Lula e os Movimentos Sociais dos trabalhadores marginais: Entre a Cooptação e desestruturação

Publicado no Jornal O Amigo do Povo, nº8, Fevereiro/Março/Abril de 2024.

Jiren D.

O novo governo de Lula vem repetindo a sua estratégia de mandatos anteriores de cooptar movimentos sociais para dar uma roupagem popular ao governo. Um exemplo disso foi a entrega da faixa presidencial por uma criança negra, uma indígena, uma mulher catadora e uma pessoa com deficiência. Outro exemplo é a nomeação de Sonia Guajajara como a primeira indígena ministra do Brasil.

No campo dos movimentos sociais, o PT segue com a hegemonia das maiores organizações nacionais, como a CUT, a UNE e o MST. Essas organizações seguem fazendo seu serviço sujo de defender o governo ou se omitindo de lutas importantes, como a greve dos entregadores de aplicativo, a luta contra o arcabouço fiscal e a luta contra o novo ensino médio.

A estratégia dessas organizações é confundir as lutas populares com distrações, como a lutar contra fascistas imaginários, a luta contra taxas de juros, defesa da democracia burguesa ou a construção de narrativas de que essas reformas podem ser benéficas, como a reforma tributária.

Sobre os movimentos sociais dos trabalhadores marginais, como entregadores, catadores, sem tetos e sem-terra, a linha é a mesma: colaboração de classe, negociatas com governos e acordos de cima para baixo. As lideranças desses movimentos são assediadas por parlamentares e pelo governo ou seus braços auxiliares como partidos governistas e ongs e celebridades, e em muitos casos traem lutas e greves sem nenhuma vitória, como aconteceu na greve dos entregadores de app no começo de 2023.

Para os trabalhadores marginais, essa tática é muito mais devastadora, pois, como não existe espaço para atender a todas as demandas corporativistas econômicas, geralmente os trabalhadores saem sem vitória nenhuma. O governo e seus braços atuam cooptando lideranças, oferecendo cargos e visibilidade, como vêm acontecendo com o convite para lideranças nacionais dos Catadores participarem da secretaria do meio ambiente e também do “Conselhão” (Conselho de Desenvolvimento Econômico Social e Sustentável) do Lula, junto com outras lideranças de movimentos sociais ao lado de várias personalidades e bilionários.

Na prática, essa estratégia cria uma aristocracia mesmo dentro de setores marginais, que desmobiliza lutas contra o governo. Além disso, reforça o modelo burocrático e institucionalizado dos movimentos sociais, que em vez de fazer lutas, priorizam construir bancadas nos congressos, reunir com poderes e fazer audiências públicas inúteis que não trazem nenhuma ou pouca conquista às categorias.

Diante desse contexto catastrófico, onde há carestia de vida, violência policial, ataques neoliberais do governo e pouca luta, é um dever dos anarquistas e revolucionários irem ao povo e fazer o enfrentamento dessa estratégia dos reformistas aos movimentos sociais dos marginais. Para isso, é necessário um trabalho árduo dos revolucionários, construindo movimentos sociais com bases fortes e sem personalismo, guiados pela democracia direta e pela ação direta, ajudando a formar lideranças do povo forjadas na luta revolucionaria. Só com a luta das massas é possível sairmos da defensiva e partir para uma ofensiva na luta pelos direitos do povo. ■

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