Greve nas federais e o custo do governismo

Publicada no Jornal O Amigo do Povo, nº9, Maio/Junho/Julho de 2024.

Grito do Povo.

Desde março, técnicos e professores do ensino superior federal iniciaram um movimento grevista, cerca de 40 universidades federais já aderiram, marcando um retorno significativo das paralisações após as mobilizações expressivas de 2012 e 2015. Esse retorno ocorre após uma sequência de cortes bilionários anuais na educação federal, que totalizaram 98,8 bilhões de 2014 a 2022, e das consideráveis perdas salariais enfrentadas pelos professores e técnicos, chegando a 22% e 34%, respectivamente. No entanto, as categorias se encontram divididas quanto à legitimidade e adesão à greve. A resistência de muitos em aderir à greve, votações apertadas e a não paralisação efetiva na maioria das instituições demonstram a divisão na categoria.

Atualmente, há um discurso que questiona a legitimidade da greve, sugerindo que ela poderia fortalecer a extrema direita. Esse discurso teria pouco impacto em outras categorias, mas no funcionalismo público da educação é diferente, pois há um distanciamento da realidade das massas trabalhadoras, o que torna o setor um terreno fértil para distrações, divagações e vacilações ideológicas em momentos de embate. Todavia, mesmo distanciados das massas, é no funcionalismo público e na educação onde estão, e se formam, a maior parte das vanguardas políticas do país. Analisar esse setor é entender como agem e pensam as forças políticas que almejam influenciar os rumos da luta de classes. Contradição esta que explica grande parte da crise da esquerda e que simultaneamente explicita o principal desafio para os socialistas que ainda almejam uma revolução no país: ir ao povo.

Duas posições predominantes disputam atualmente o movimento grevista. O governismo de direita que busca amedrontar e frear a generalização da greve fazendo o uso do espantalho da extrema direita para proteger o governo, alegando que greves nesse momento irão enfraquecer o governo e enfraquecer o governo é abrir caminho para retorno do “fascismo” ao poder. Do outro lado, temos o governismo de esquerda que defende que este é o momento mais propício para greve, pois seria mais frutífero negociar com um governo progressista. Ambas posições são governistas, pois colocam os interesses de classe em segundo plano em relação ao protagonismo governamental. Elas priorizam soluções eleitorais em vez da aposta na mobilização das massas, hierarquizam os meios de luta com os interesses eleitorais sempre no topo e ainda chamam essa farsa de dialética.

Por isso a base grevista já nasce dividida e propensa a vacilações, não somente devido aos discursos opostos, mas como um custo político da prática eleitoreira impregnada nos sindicatos e organizações políticas. Não se trata somente do voto ou dos sindicatos das categorias e do movimento estudantil serem os cabos eleitorais do petismo há décadas, mas resultado de um trabalho de longo prazo que vem instrumentalizando o medo e a esperança para fins de disputa governamental. ■

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